Inadiro e Égide: uma vida de companheirismo

Uma vida bem vivida, sem arrependimentos, com uma bagagem de ter conhecido 25 estados brasileiros a bordo de um caminhão, viajado por toda América do Sul e passado por 16 países europeus, além de trabalhar na agricultura quando o serviço era mais intenso. Perto do Dia do Colono e Motorista, data celebrada dia 25 de julho, conheça a história de Inadiro Arpini, que está próximo de completar seus 80 anos, e “desde sempre”, como ele diz, mora na Linha Jansen, interior de Pinto Bandeira.

Sua história é longa, não só pela idade, mas pela diversidade de suas experiências. O seu primeiro trabalho foi trilhar trigo, então diz que não tem uma casa do interior da cidade que ele não conheça. Mas Inadiro também foi sócio de uma empresa, criou uma pousada em sua propriedade, que hoje está desativada. Proprietário de terras, ele tinha empregados que ajudavam a cuidar de sua fazenda. Quando o serviço com plantações e animais era mais intenso, ele se ocupava do trabalho rural, mas assim que diminuía, embarcava em seu caminhão e cruzava o Brasil transportando móveis.

Na volta, comprava madeira e trazia para a terra do vinho. Em dezembro, ele e Égide Arpini completam 45 anos de casados. Ela era da zona urbana, mas depois de cinco anos de matrimônio, deixou seu emprego e ficou cuidando dos afazeres domésticos e trabalhos rurais. É a esposa quem ajuda a contar a história de Arpini, preenchendo as lacunas que ele esquece de mencionar, mas só conhece o mundo pelas histórias do marido.

Arpini ficou 37 anos trabalhando como caminhoneiro. Há cerca de 20 anos, se aposentou, unindo os anos de agricultor. Depois disso, viagens só de turismo. Mas ele mantém na memória todas histórias e lembranças de quando percorria o Brasil a bordo de seu caminhão. “Em 1967 se ia de Cuiabá ao Acre em estrada de chão. Ao chegar no Rio Madeira, tinha que esperar a balsa, ficar lá um dia ou dois. Nessas viagens também peguei malária três vezes”, conta.

Segundo ele, o problema era os “atoleiros”, causados pela falta de asfalto nas rodovias daquele tempo, que fazia ficar dias empenhado na estrada, porém conta que não se preocupava com assaltos. “Chegava em Cuiabá, Porto Velho, e podia deixar a porta aberta, que não tinha problema”, recorda. Retratos de um Brasil de outra época, ele lembra que quando passava pelo Mato Grosso, era tudo mata fechada, mas agora ouviu dizer que tem muito desmatamento, então, com uma caminhonete boa e um motorista, ele ainda quer percorrer o caminho que fazia para ver o que mudou.

“Eu tenho muitos quilômetros aéreos e terrestres. Ainda pretendo viajar para a Europa de novo”, ressalta Arpini, contando dos 32 giorni que passou na Europa, quando conheceu 16 países. Foi uma segunda vez, mas ficou somente na Itália. Por lá, visitou os parentes perdidos quando seu avô veio para o Brasil. O país que ele mais gostou foi a França, mas nada comparado à paixão que tem pela terra onde nasceu. “Para mim, a vida foi boa. O que eu queria fazer, eu fiz. Dinheiro bem gasto é em viagem”, pontua.

Hoje, o casal vendeu boa parte de suas terras, só criam porcos, galinhas e ovelhas, mas ressaltam que não são muitos, porque não conseguem mais cuidar de tudo. Dos três filhos que tiveram, um mora com eles, pois precisa de cuidados especiais. Arpini fala com orgulho que ainda dirige, mas agora só “carro pequeno”. E os olhos brilham quando elabora planos dos lugares que quer voltar a visitar, mas de jeito nenhum pensa em sair da Linha Jansen, nenhum lugar agrada ele mais do que aqui.

Fotos: Elisa Kemmer