Matheus Decol transforma desafio pessoal em inspiração coletiva, percorrendo Bento Gonçalves até a Capital gaúcha, simbolizando a força das comunidades afetadas por desastres naturais
Matheus Cusin Decol, 29 anos, designer e corredor de Bento Gonçalves, enfrentou o maior desafio de sua vida. Com determinação e apoio de uma equipe de amigos, ele percorreu correndo 130 km entre Bento Gonçalves e Porto Alegre, simbolizando a superação pessoal e a união das cidades gaúchas afetadas por desastres naturais em 2023.
Preparação física e mental: cinco meses de dedicação
A jornada começou muito antes da largada. Após completar a Maratona Internacional do Rio (42 km), Decol se dedicou a cinco meses de treinos intensivos, alternando corrida, musculação e exercícios de fortalecimento. “Iniciei logo após a maratona, com foco total para este desafio. Foi um processo de abdicação e disciplina para estar preparado física e mentalmente”, relembra.

A motivação por trás dos 130 km
Inspirado por um objetivo ousado traçado no final de 2023, Decol decidiu superar a marca dos 100 km, uma meta reservada a poucos ultramaratonistas. Sem encontrar provas adequadas, ele criou sua própria rota, unindo Bento Gonçalves a Porto Alegre. “Além de um desafio pessoal, simbolizei a união das cidades atingidas pelas enchentes, ressaltando a força do nosso povo em se reerguer”, expressa.
12 horas de superação
Os nomes que fizeram diferença em sua jornada auiliando no percurso e em sua saúde são: Diane Benini – Nutricionista e pacer; Annalyze Flain – Fisioterapeuta e pacer; Leonardo Alessi – Treinador; Arthur Cusin Decol, Guilherme Balestreri, Luís Henrique Marini, Gustavo Dendena, Jocelyn Arce e Elizeu Possamai – Pacers (pacer é um termo usado na corrida de rua para designar um corredor que estabelece o ritmo de uma corrida, também criando um ambiente de colaboração e motivação).

Decol completou o trajeto em impressionantes 12 horas, 57 minutos e 31 segundos. A jornada foi marcada por paradas estratégicas para hidratação, alimentação e recuperação, com suporte vital de sua equipe de apoio, composta por amigos e especialistas. “O desafio contou com três carros de apoio que andavam com os alertas ligados e mantinham-me em meio a eles, guiando o trajeto e trazendo maior segurança. Elizeu foi o responsável por seguir a rota e contornar as adversidades de trânsito e logística que ocorreram durante o percurso. Durante toda a corrida eu estive acompanhado por pelo menos um amigo corredor, enquanto os demais acompanhavam nos carros, preparando toda a estratégia de suplementação e pequenos intervalos para hidratação e recuperação no desafio”, destaca.
Desafios ao longo do caminho
Apesar da preparação, o percurso apresentou obstáculos significativos. “No km 56, uma antiga lesão no joelho voltou a doer intensamente. Pensei em desistir, mas, com o apoio da equipe e um anti-inflamatório, continuei”, menciona.
Outro momento crítico foi após o km 80, quando o calor e a fadiga extrema exigiram esforço psicológico. “A temperatura chegou a 30°C e precisei consumir líquidos e carboidratos constantemente, enfrentando desconforto para manter o ritmo”, conta.
Já no km 115, câimbras ameaçaram o desafio. “Minha nutricionista sugeriu um sachê de mostarda. Pode ter sido placebo, mas funcionou. Continuei em passos curtos até finalizar a prova”, diz.
Momentos marcantes e emoções na chegada
Os últimos quilômetros foram de pura adrenalina. Mesmo com dores intensas, o apoio da equipe o manteve motivado. “Chegar ao monumento do Laçador, em Porto Alegre, foi emocionante. Havia uma transmissão ao vivo no meu Instagram com mais de 100 pessoas acompanhando. Não consegui falar, mas a felicidade estava estampada em mim”, destaca.
A preparação incluiu uma rigorosa estratégia de nutrição, com ingestão de água, isotônicos, carboidratos líquidos e alimentos sólidos como sanduíches e bolachas a cada 40 minutos. Pequenas pausas de 5 a 10 minutos garantiram descanso e planejamento.
Uma história de inspiração
Decol começou na corrida de rua há sete anos e rapidamente evoluiu de provas de 5 km para maratonas e ultramaratonas. “A maratona é um marco, mas eu queria mais. Após minha primeira ultramaratona em 2022, decidi que ultrapassaria 100 km em 2024”, diz.
Hoje, ele vê sua jornada como uma forma de inspirar outros a alcançarem seus objetivos. “Corro para inspirar as pessoas. Meu propósito com essa jornada na corrida é demonstrar que quando realmente desejamos algo e trabalhamos duro, tudo é possível, realizável. Compartilho sempre que posso, que os pilares para se alcançar grandes objetivos são disciplina, constância e resiliência”, reforça.
Próximos desafios e aprendizados
Depois de superar o maior desafio de sua vida, ele já planeja novas aventuras. “Em 2025, quero correr a Maratona de Buenos Aires e a ultramaratona El Cruce, na Patagônia. Esse desafio representou muito para mim, mostrando que podemos ir além quando acreditamos”, expressa.
Para ele, o maior aprendizado foi a força transformadora do esporte. “Saí dessa jornada mais forte, resiliente e focado, qualidades que aplico não só na corrida, mas na vida”, destaca.
Movimento é vida
Com sua história, Decol espera inspirar mais pessoas a saírem do sedentarismo. “Meu desejo é que todos vejam que, se eu consigo correr 130 km, qualquer um pode começar. Seja com 5 km ou caminhando. O importante é se movimentar. Movimento é vida”, finaliza.