De acordo com o Hemocentro de Caxias do Sul, a piora da pandemia e o receio de muitos doadores para se deslocarem são alguns dos motivos para a baixa nos números
O mês de junho se torna ainda mais relevante para lembrar da importância da doação de sangue. No dia 14 é celebrado mundialmente o Doador. A Covid-19 afastou significativamente as pessoas dos postos de coleta, principalmente em meados de março a maio de 2020, quando o estoque caiu cerca de 40% no Hemocentro Regional de Caxias do Sul (Hemocs). De acordo com a instituição, atualmente a provisão está pior. A ascensão da pandemia e o receio de muitos doadores para se deslocarem são alguns dos motivos para a baixa nos números.
Para dar conta da demanda diária, o Hemocentro precisa do comparecimento de 1.300 pessoas por mês. “Ultimamente esse número está na média de 850 doadores”, acrescenta a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Saúde de Caxias.
Responsável por distribuir sangue para 48 municípios da região nordeste do estado, via 100% SUS, o espaço tem 12 mil voluntários cadastrados, mas apenas nove mil (75%) dessas pessoas doam sangue mais de uma vez ao ano. O índice é ainda dividido em: 3.150 praticam a ação três ou quatro vezes no ano e 3.600 duas vezes anualmente. A enfermeira Líder da Agência Transfusional, Ana Paula Lemos, aponta que “infelizmente existe falta de conhecimento da população em geral sobre a importância da doação de sangue. Mesmo que na cidade haja divulgação, a comunidade não compreendeu a dimensão do problema”, afirma.
O Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, utiliza cerca de 260 bolsas de sangue por mês e essa quantidade deve ser reposta junto ao Hemocentro. “A meta de arrecadação de doadores (da casa de saúde) seria de, no mínimo, 50% do total transfundido, atualmente não alcançamos nem 30%. Por exemplo, a média de transfusões SUS no hospital por mês é de 230, já a média de reposição é de 43 doadores”, reitera Ana Paula. Todas as transfusões ocorrem no Tacchini.
Conforme o Hemocs, o estoque de sangue está em situação crítica para os seguintes tipagens O+, O – e A+. A enfermeira ressalta que no período de pandemia, pacientes acometidos pelo vírus SARS-CoV 2 de forma grave, muitas vezes necessitam de transfusões. “As doações de sangue são sempre muito importantes, visto que tem o objetivo de beneficiar pacientes que necessitam realizar algum tratamento cirúrgico, em tratamento oncológico, com alguma doença crônica como talassemia ou falciforme, além do atendimento de urgência/emergência”, destaca.
Doar pode salvar vidas
O publicitário Rafael de Albuquerque, 35 anos, é doador há 12. Ele relata que o irmão teve leucemia e precisava de sangue e plaquetas. “No convívio diário em hospital, difícil ficar indiferente para este tipo de questão, vendo a necessidade clara que se tem. A partir de então, me regrei para, pelo menos, uma vez por ano, fazer a doação”, afirma.
Ele conta que, apesar do incômodo com seringas, até mesmo com vacina, o gesto é simples e ajuda muito. “Medos estão aí para serem enfrentados, não adianta. E nem sempre o que é confortável para nós é o que deve ser feito. Faz parte da vida. Depois que vivi e vi a necessidade, sobretudo da alta complexidade do hospital, não consigo ficar indiferente ao fato. São 10, 15 minutinhos que ajudam demais e custam muito pouco. Hoje em dia, inclusive, tem diversos benefícios e vantagens como isenção de taxas em cursos/concursos, limite de folgas no trabalho, entre outros, para doadores regulares. Não vejo o porquê não fazer”, defende Albuquerque.
Ações de conscientização
No ano de 2020, iniciou-se uma campanha mais intensa sobre a doação de sangue na cidade. Em 2021, o Tacchini segue na mesma linha. Em uma das abordagens, os militares do Exército e empresas foram parceiros das ações. “No ano passado, fizemos uma campanha com depoimentos de pacientes beneficiados com as doações, visto que necessitaram transfundir. Para este ano, e agora em junho, mês do Dia Internacional da Doação de Sangue, será realizado publicações com depoimentos de pessoas que são doadoras de sangue, fidelizadas, para que contem qual o sentimento de ser doador”, sustenta a enfermeira Ana Paula.