É domingo à tarde e eu estou fazendo compras no supermercado. Brava e apressada, porque a fila não anda e eu odeio filas. Para me distrair, olho ao redor. Aos cestinhos e carrinhos. É engraçado analisar as compras dos outros no caixa.

Os mais fitness, geralmente consomem água, algo integral, várias dúzias de ovos, frango, legumes. À esquerda, um grupo de jovens – nem tão jovens assim – com diversas garrafas de Gin e energéticos como se fossem virar a noite de domingo bebendo, prováveis solteiros, acompanhados do álcool para findar o final de semana. Olho para a minha cesta e me envergonho das minhas Trakinas.

Eu, geralmente, sou de comer bem, coisas naturais e alguns refrigerantes, mas hoje me deu vontade de bolacha recheada sabor infância. Como não tinha no mercado Fominhas sabor pêssego (isso sim é sabor de infância), eu fui na Trakinas e na Passatempo mesmo. Me senti com 10 anos em frente à TV assistindo desenho e tomando meu leite com Nescau.

O fato é que muito se conhece das pessoas analisando as suas compras. Vemos quem cozinha, quem tem provável vida sedentária, quem vive sozinho ou tem família grande. A gente vê até quem é abonado ou quem calcula os centavos da carteira – eu faço parte do segundo grupo.

Pelo cestinho, a gente seria capaz de decidir ficar ou não com alguém. Saberia se uma criança é saudável ou couch potato (só come porcarias). A gente consegue saber até se a pessoa já recebeu o pagamento ou se vai receber. Dá pra ver quem tem TOC ou é do tipo “tanto faz”. Tudo isso só analisando o carrinho das compras.

Pode soar meio louco, mas eu gosto mesmo é de olhar pras compras alheias. Ver se realmente vendem salmão (pelo preço e pouco gosto), se gostam do sabonete da promoção, se vendem bife de fígado ou aqueles itens caros sem açúcar / glúten /etc.

As compras de uma pessoa são como um raio x. Elas revelam o nosso interior. Porque ninguém que odeia bucho, vai comprar alguma coisa parecida ou você dificilmente vai me ver saindo do super com sushi. Não tem como.

Não há nada mais autêntico do que o carrinho de um rancho de mercado: ali não tem como fingir as preferências, não adianta querer mostrar status, ali a gente é ou não é. A nossa essência torna-se singular. Não abrimos mão dos nossos gostos pelo que os outros pensam.

Tanto que é difícil mercado falir, pelo contrário, abre cada vez mais. É atacadão pra povão, é marca chique que só tem selecionados. É boteco e mercearia de esquina com cheiro de coisa velha. É mercadinho de bairro, com dois corredores e um caixa funcionando. Enfim, é o lugar onde todo mundo precisa ir pra sobreviver desde que o homem primata deixou a caça e obteve comida assim, bem fácil. A única coisa é que muitos entram no automático, só olhando preços e prateleiras sem focar no que compra o outro.
Então, da próxima vez que for fazer compras, olhe para o cestinho ao lado e veja o que tem dentro.

enho certeza que a fila do caixa nem vai parecer tão entediosa assim. Vai ser, no mínimo, interessante e vai chegar rapidinho a sua vez.

CPF na nota?