Pressionado pelo preço dos alimentos e da energia, Copom e BC decidiu nesta quarta-feira, 19, em quanto elevará a taxa básica de juros
A reunião em questão foi a segunda sob o comando do novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e também representou a quinta elevação consecutiva da taxa Selic. No comunicado referente à última reunião, realizada em janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) havia confirmado que a taxa de juros básicos seria elevada em 1 ponto percentual na reunião de março, o que efetivamente ocorreu. De acordo com o comitê, o agravamento das incertezas no cenário externo e os impactos negativos gerados pelos ruídos causados pelo pacote fiscal do governo, anunciado no final do ano passado, foram fatores determinantes para justificar o aumento da Selic no início de 2025.
Na quarta-feira, dia 19 de março, ao fim das discussões da reunião, o Copom anunciou oficialmente a decisão de elevar a taxa para 14,25% ao ano. A taxa havia permanecido em 10,5% ao ano durante o período de junho a agosto de 2024. No entanto, a partir de setembro do ano passado, a taxa começou a ser elevada gradualmente, com uma primeira alta de 0,25 ponto percentual, seguida de um aumento de 0,5 ponto e, posteriormente, duas elevações de 1 ponto percentual, até atingir o atual patamar de 14,25%.
Inflação
Na ata da reunião mais recente, o Copom emitiu um alerta sobre o prolongamento do ciclo de alta da Taxa Selic. O Banco Central reiterou que o cenário de inflação de curto prazo continua sendo desafiador, com destaque para o aumento nos preços dos alimentos, que tem pressionado a inflação. Com a manutenção desse cenário, o comitê prevê que a inflação se manterá acima da meta estabelecida para os próximos seis meses, o que reforça a necessidade de se adotar medidas monetárias rigorosas.
Segundo o último boletim Focus, a estimativa para a inflação de 2025 subiu para 5,66%, um pequeno aumento em relação aos 5,6% projetados há quatro semanas. Esse percentual está acima do teto da meta contínua estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano, que é de 3%, podendo alcançar até 4,5% devido ao intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual que acompanha a meta. O aumento da inflação para 2025 indica que o controle da alta de preços continua sendo um desafio para o Banco Central e para a política econômica do país.
Taxa Selic
A Taxa Selic, ou taxa básica de juros, é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional por meio do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para a definição de outras taxas na economia brasileira. Ela é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. O BC intervém no mercado por meio de operações de mercado aberto, comprando e vendendo títulos públicos federais, com o objetivo de manter a taxa de juros próxima do valor definido nas reuniões do Copom.
Quando o Copom decide aumentar a taxa Selic, o objetivo é conter uma demanda aquecida na economia, o que tende a influenciar os preços de bens e serviços. Juros mais altos tornam o crédito mais caro e incentivam a poupança, o que pode, por sua vez, desacelerar o consumo e ajudar no controle da inflação. No entanto, taxas de juros mais altas também podem ter o efeito colateral de dificultar a expansão da economia, ao reduzir o volume de crédito disponível. Vale ressaltar que, além da Selic, os bancos também consideram outros fatores ao determinar as taxas de juros cobradas dos consumidores, como o risco de inadimplência, as margens de lucro e as despesas operacionais.
O Copom se reúne periodicamente, a cada 45 dias, para definir a política monetária. Durante o primeiro dia de reunião, são realizadas apresentações técnicas sobre o andamento da economia brasileira e mundial, bem como sobre o comportamento do mercado financeiro. Já no segundo dia, os membros do Copom, que formam a diretoria do Banco Central, discutem as alternativas e tomam a decisão final sobre a definição da Selic.
Meta contínua
Com a introdução do novo sistema de meta contínua a partir deste mês, a meta de inflação perseguida pelo Banco Central passa a ser de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o limite inferior da meta de inflação é de 1,5%, e o limite superior é de 4,5%. Essa mudança no sistema de metas implica que a inflação será avaliada de maneira contínua, com a meta sendo apurada mês a mês, com base na inflação acumulada em 12 meses.
Dessa forma, em janeiro deste ano, a inflação foi comparada com a meta e o intervalo de tolerância a partir de fevereiro de 2024, e em fevereiro, o procedimento foi repetido, considerando dados a partir de março de 2024. Esse novo modelo, portanto, não limita mais a verificação da meta apenas ao índice fechado de dezembro de cada ano, tornando o processo mais dinâmico e adaptável às condições econômicas ao longo do tempo.
No último Relatório de Inflação, divulgado pelo Banco Central no final de dezembro, a autoridade monetária manteve a previsão de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o ano de 2025 em 4,5%. No entanto, essa estimativa poderá ser revista dependendo do comportamento do dólar e da inflação. O próximo Relatório de Inflação está previsto para ser divulgado no final de março, e os dados desse relatório poderão trazer novas perspectivas sobre o comportamento da inflação nos próximos meses.
Repercussões da medida
O Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas ABIMAQ e Equipamentos manifestou preocupação diante da medida. “A decisão do Banco Central, de elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano, reforça sua estratégia de manter uma política monetária muito restritiva para conter a inflação. Esta taxa impõe desafios ainda maiores ao setor produtivo, especialmente aos setores da indústria intensivos em capital. Maiores taxas de juros aumentam o endividamento, encarecem o capital de giro, o crédito para investimento, reduz a capacidade das empresas de gerir os seus negócios, de se financiar para modernização, renovação ou ampliação do parque industrial, dificulta investimentos estratégicos essenciais para o aumento da produtividade e da competitividade da economia brasileira”, afirmou por meio de nota.
Já o sistema Fecomércio do Rio Grande do Sul, também se manifestou a respeito da alteração, por meio do presidente, Luiz Carlos Bohn. “A decisão do Copom quanto ao aumento da taxa Selic veio dentro do esperado. O que surpreendeu muitos foi a manifestação do Comitê de que haverá, no mínimo, um novo aumento de juros, ainda que em menor medida. O anúncio, em parte, diminui os ruídos relativos à condução da política monetária por um grupo majoritariamente escolhido pelo atual governo, sempre muito crítico à política até então implementada. A autonomia de fato do Banco Central começa a ser testada, e o primeiro sinal é aparentemente positivo. No entanto, cabe-nos lembrar sempre: a taxa de juros não precisaria ser tão alta se houvesse um maior controle das contas públicas, o que levaria a uma trajetória mais sustentável da dívida pública”, afirmou o presidente.
Coautor: Lucas Beltran.