Já imaginou uma ala hospitalar sendo construída de forma voluntária pelas mãos da comunidade? É isso que está sendo feito em Bento Gonçalves, desde o dia 17 de março, quando as obras iniciaram. Outro fator que chama atenção é o tempo: a previsão é de, no máximo, 30 dias para a conclusão. A causa que ganhou o engajamento da comunidade é justa: fazer com que o município disponha de uma estrutura adequada para combater o coronavírus.
A Administração Municipal sentiu necessidade de ter mais leitos disponíveis para atender pessoas diagnosticadas com o Covid-19 que precisem de isolamento. A ala, que tem aproximadamente 700 metros, vai ter capacidade para atender cerca de 40 pacientes. Atualmente a cidade já dispõe de 20 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Tacchini e outros 6 na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
O local escolhido faz parte da estrutura do Complexo Hospitalar de Saúde, junto à UPA, localizada no bairro Botafogo. A área abrigaria, antes, uma ala psiquiátrica, que foi remanejada para outro espaço, onde está sendo construído um Bloco Cirúrgico.
Para que esse projeto se torne realidade, a Prefeitura contou com o apoio do setor empresarial do município, por meio de uma parceria público-privado. De acordo com o secretário de saúde, Diogo Siqueira, “a iniciativa privada ajudou com recursos, mão de obra, material, enfim, com tudo”, afirma.
Considero essa a maior obra da história de Bento Gonçalves, não pelo valor, mas pelo simbolismo de união que está tendo – secretário de saúde, Diogo Siqueira
Mãos à obra
Algumas empresas da cidade cederam profissionais para ajudar na construção. Entretanto, além deles, muitos outros homens estão se voluntariando para ajudar de alguma forma. Domingo, 22, foi um dia que surpreendeu os envolvidos. O motivo? O prefeito, Guilherme Pasin, solicitou ajuda de dez homens para trabalhar na obra, mas ao todo, cerca de 65 pessoas comparecer ao local para literalmente “colocar a mão na massa”.
Um dos voluntários é o Manoel Genival Nascimento dos Anjos, 44 anos. Desempregado há seis meses, ele conta que decidiu aproveitar o tempo livre para dar força aos colegas. “Me voluntariei para ajudar os companheiros nessa situação. Estou muito feliz de poder colaborar. Vim com gosto, de coração”, confessa.
Organização
Com tanta gente querendo trabalhar é preciso que haja organização. É aí que o coordenador e mestre de obras, Jair Serafim, 56 anos, entra na história. Assim como todos os colegas, ele também está trabalhando como voluntário e ficou responsável pela importante tarefa de dividir as funções e encaixar na obra todo pessoal que chega disposto a ajudar.
Nos meus 56 anos, nunca tinha vivido uma experiência como essa. Tivemos fisioterapeuta, professor de academia, um rapaz que faz marketing, enfim, todos sujos de massa, levando lixo para fora, carregando carrinho. É fantástico – voluntário na obra, Jair Serafim
Serafim conta que, embora tenha 24 anos de experiência na área, é a primeira obra que trabalha como voluntário. “Nos meus 56 anos, nunca tinha vivido uma experiência como essa. Para mim está sendo maravilhoso. O pessoal vem trabalhar muito animado, com disposição e vontade. Chegam perguntando o que podem fazer e onde podem ajudar”, relata.
Destacando que é gratificante ser voluntário, Serafim torce para que a pandemia do coronavírus seja minimizada e não traga muitas perdas para a população. “Mesmo que não chegue com muita força até nós, estar trabalhando como voluntário de domingo a domingo, em uma obra que vai atender a saúde de Bento, para mim está sendo um prazer, porque vamos ter mais leitos e esse trabalho não é em vão”, conclui.
Quero ajudar, posso?
O secretário adjunto de saúde, Gilberto Junior, conta que muitas pessoas que vão ao setor de obras querendo se voluntariar, não tem experiência, mas tem algo que nesse momento faz diferença: disposição. “Esse pessoal dá força e é isso dá mais energia para acordarmos todos os dias e virmos para a obra. Fico muito contente, emocionado, porque não é sempre que as pessoas entendem a importância da saúde pública. Todos os dias tem pessoas ligando, querendo fornecer alimentos, prestar mão de obra”, relata.
Gilberto reforça que quem quiser ajudar, principalmente pessoas na construção, pode entrar em contato com o mestre de obras, Jair Serafim, pelo telefone: (54) 9 9971-0540.
Vaquinha online para arrecadar fundos
Integrantes do Centro da Indústria e Comércio (CIC) junto a um grupo de empresariados já arrecadaram cerca de R$350 mil para o andamento da obra. Entretanto, de acordo com o presidente da Associação Médica de Bento Gonçalves, Fernando Cenci Tormen, o valor ainda não é suficiente. Por isso, foi criada uma campanha para angariar fundos para a continuação da obra, por meio de uma vaquinha online. “Nessa obra não é só colocar piso e pintar parede. Tem que comprar cama, monitor, ventilador, enfim, são cifras muito grandes e não vai sobrar nenhum dinheiro”, afirma.
Tormen destaca que a intenção das entidades envolvidas é deixar a cidade com a melhor estrutura para lidar com o possível aumento dos números de casos confirmados na cidade. “É importante entender que embora a situação na região ainda esteja tranquila, temos expectativa de que vai piorar. Prevemos que o pico do coronavírus em Bento Gonçalves seja daqui um mês. Infelizmente, apesar dos nossos cuidados, muita gente ainda vai ter contato com o coronavírus e vai precisar ser hospitalizada”, aponta.
As doações têm valor mínimo de R$10 e podem ser feitas por boleto bancário ou cartão de crédito, sem necessidade de sair de casa. “A gente pede que todo mundo ajude da maneira que puder, seja doando no nosso link, seja nos procurando para oferecer mão de obra ou doações”, reforça Tormen.
Link para doação: https://abacashi.com/p/vencercoronavirus