Há cerca de um ano, Jonel Pierre facilita a comunicação entre funcionários de secretarias e imigrantes. Qualidade de vida dos haitianos ficou melhor

Em Bento Gonçalves, a comunidade haitiana já inclui mais de mil pessoas. A imigração da população do Haiti para o Brasil iniciou após a catástrofe de 2010. Desde então, o município passou a acolher essas pessoas que vieram em busca de trabalho e de proporcionar uma vida de qualidade para as famílias.

A prefeitura contratou o haitiano, Jonel Pierre, para realizar o trabalho de interlocução entre os imigrantes e a prefeitura, principalmente nos serviços de saúde. O servidor público vive na cidade há quase uma década e domina a língua portuguesa, o que facilita a comunicação.

A contratação de um tradutor foi vista como indispensável para manter o bem-estar da comunidade vinda do Haiti e proporcionar os serviços básicos com mais facilidade. De acordo com Pierre, o trabalho que presta para os seus conterrâneos é importante porque “às vezes os haitianos que não entendem muito bem o português, têm muita dificuldade para conversar com os médicos no atendimento, quando vão na consulta, afirma”.

Um dos serviços essenciais prestados foi a produção e entrega do material informativo sobre a Covid-19 aos imigrantes. O documento, traduzido por Pierre, apresenta dicas de prevenção para o combate da doença. Dessa forma, os haitianos têm acesso às informações que também estão disponíveis para os bento-gonçalvenses.

Em live, tradutor dá recado para os imigrantes sobre a Covid-19

Sobre a experiência de fazer essa tradução, Pierre diz que primeiramente, a Secretaria da Saúde entregou o conteúdo para que ele pudesse traduzir. “Foi para facilitar a comunidade haitiana de entender o que é a pandemia e usar as orientações para se proteger, tomar cuidado com o coronavírus”, explica.

Trabalho de tradução auxilia servidores da Secretaria de Saúde

Buscando um tratamento de respeito e igualdade com os haitianos, a Capital do Vinho é identificada como um local receptivo e acolhedor.

Uma das situações vividas pelo servidor foi com um imigrante que havia chegado em Bento recentemente, não tinha casa para morar e nem conseguia se comunicar com os funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “Um haitiano foi consultar, ele chegou na cidade e não tinha ninguém, quando cheguei lá vi que não entendia nada. Não tinha nenhum amigo ou família, mas consegui ajudar. Falei com a Secretaria de Habitação e Assistência Social para conseguir um lugar provisório para ele ficar, bastante coisa mudou”, conta.

O contexto lembra Pierre de quando chegou à cidade e começou o processo de adaptação, que foi mais difícil por estar longe da família, que hoje também reside na Serra Gaúcha. “Me adaptei muito rapidamente, aprendi o idioma na escola, fui fazer curso. No início não é fácil, mas fazendo aulas aprendi a língua portuguesa”, diz.

A qualidade de vida dos haitianos está melhorando desde que foi contratado, alcançando o objetivo do município. “A Secretaria de Saúde me empregou para trabalhar junto com eles. Desde que eu fui contratado melhorou bastante, conseguem principalmente fazer exames e ir nas consultas”, explica.

Com o cargo inicialmente pensado para auxiliar de maneira exclusiva na Saúde, hoje o trabalho de Pierre também é bastante solicitado para ajudar as secretarias de Educação e Assistência Social. Para o haitiano, amparar aqueles que passam pelas mesmas dificuldades que passou é uma gratificante. “Estou muito bem e feliz por ajudá-los”, afirma.

Funcionários municipais têm aulas e aprendem Língua Crioula

A Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social (SEDES) realizou um curso de Língua Crioula Básica. A capacitação foi promovida pelo Núcleo de Ação Social (NAS) e formou 31 servidores do município nesta terça-feira, 28.

Entrega dos certificados para os concluintes do curso de Língua Crioula Básica

O aprendizado foi focado na comunicação básica do dialeto, a fim de diminuir as dificuldades de comunicação entre os imigrantes e os profissionais. Dessa forma, é possível aproximar os imigrantes da população, fazendo-os sentirem parte da comunidade. O curso durou dois meses e foi ministrado de duas a três vezes por semana. Posteriormente, é possível que a ideia seja ampliada para outros públicos.

Tendo em vista a prevenção contra o coronavírus, as aulas foram feitas de forma remota por professores haitianos voluntários, com turmas exclusivas para funcionários da área da saúde, educação e assistência social.

Fotos: divulgação