Depois de dias de calor e sensação térmica acima dos 20º, Bento Gonçalves sofre com a chegada de uma nova frente fria, que derruba os termômetros próximo aos zero graus. O início da semana foi gelado e chuvoso, mas para esta quarta, 2 de novembro, quinta, 3, e sexta-feira, 4, a previsão aponta o fim da instabilidade, mas a persistência do frio.
O viticultor, enólogo e chefe de escritório da Emater-RS de Bento, Thompsson Didoné, aponta que a mudança climática impacta a produção da Serra. “Neste período do ano estamos entrando nas ondas de calor, que influenciam diretamente no desenvolvimento vegetativo das plantas. Evidentemente que, com as temperaturas mais baixas, elas diminuem o seu metabolismo e ocorre um retardamento do crescimento. Para culturas com o ciclo mais longo, como é o caso das frutas, se depois o tempo voltar a esquentar, elas se recuperam. Mas já as de fase mais curta, como o alface e outras olerícolas, acaba tendo o processo prolongado, ou seja, demora mais para ficar pronto e para o agricultor vender”, afirma.
De acordo com Didoné, Bento Gonçalves baseia-se na fruticultura, tendo a uva como principal plantio, entre outras culturas, como o pêssego, ameixa, caqui e kiwi, além das olericulturas, que normalmente possuem um sistema mais preparado para as mudanças climáticas. “O que segura a questão do frio são as estufas, as hortas que estão sendo cultivadas neste sistema, são menos atingidas e não sofrem tanto com a temperatura mais baixa”, informa.
Ele destaca, também, que não é normal as temperaturas lá em baixo nesse período. Portanto, fatores como problemas nutricionais, estresse pelo clima como a falta ou excesso de chuva, acabam atrapalhando a produtividade e rentabilidade da lavoura. “Com o calor, pode ocorrer um retardamento no desenvolvimento vegetativo das culturas e pode acontecer, em algumas, o abortamento floral. No caso da uva, na hora da floração pode acontecer da baga não segurar e ter uma diminuição da produção, mas ainda é cedo para dizer o que vai acontecer”, ressalta.
Da mesma forma que a falta de chuva pode provocar a morte da florada, o excesso dela também ocasiona. Isso se dá pelo fato de que, quando há um alto nível de chuva, sem estiagem, pode acarretar em aumento de doenças da florada, fermentação e crescimento de fungos. No caso de pêssegos, há um período que eles necessitam de temperaturas mais altas para que ocorra a floração, o enfolhamento, a frutificação e a colheita. “Eles começaram a serem colhidos e evidentemente a temperatura tem influência direta no calibre do pêssego, porque se a planta reduz o desenvolvimento vegetativo, com certeza o tamanho do fruto será menor”, relata.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cedenir Postal, diz que o frio que se anuncia preocupa, mas acredita que os agricultores não terão prejuízo. “A temperatura que está prevista não é de geada em nossa região. Mas em outros casos, como os Campos de Cima da Serra, na região de Vacaria, pode ocorrer algo. No entanto, não é nada bom ser frio nessa época, até porque agora a uva está em florescimento e precisaria de dias bons de calor para se desenvolver”, conta.