Especialista do Hospital Tacchini explica os avanços no combate à doença e a importância de campanhas para conscientização
A leucemia, um tipo de câncer que afeta as células sanguíneas, tem origem na medula óssea, onde são produzidas as células do sangue. Existem quatro tipos principais de leucemia, classificados de acordo com a velocidade de progressão da doença (aguda ou crônica) e o tipo de célula sanguínea afetada (mieloide ou linfoide). O Dr. Victor Hugo Lenz Pereira, hematologista do Hospital Tacchini, esclarece que a leucemia mieloide aguda (LMA) é uma doença de rápida progressão que afeta as células mieloides, enquanto a leucemia linfoide aguda (LLA) afeta as células linfoides de forma igualmente acelerada. “Na LMA e na LLA, as células imaturas se proliferam descontroladamente, impedindo a produção de células sanguíneas saudáveis”, explica.
Por outro lado, a leucemia mieloide crônica (LMC) e a leucemia linfoide crônica (LLC) têm uma progressão mais lenta. “Na LMC, as células mieloides maduras se proliferam em excesso, mas ainda são capazes de funcionar. Com o tempo, as células podem se tornar mais agressivas e se transformar em LMA”, observa o Dr. Victor Hugo. Ele acrescenta que, na LLC, as células linfoides maduras também se proliferam em excesso e, eventualmente, podem se tornar mais agressivas, transformando-se em LLA.
Sinais, sintomas e diagnóstico
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Os sinais e sintomas iniciais da leucemia podem variar dependendo do tipo e da gravidade da doença. Entre os sintomas mais comuns, estão a fadiga, fraqueza, palidez, sangramentos frequentes, infecções, febre, dor nos ossos ou articulações, perda de peso e inchaço dos gânglios linfáticos. “As pessoas devem ficar atentas a esses sinais e procurar um médico se apresentarem esses sintomas”, alerta o médico.
A leucemia pode afetar pessoas de todas as idades, mas alguns grupos têm maior risco de desenvolver a doença. “Pessoas com histórico familiar de leucemia, expostas a altas doses de radiação ou a certos produtos químicos, como benzeno, e aquelas com doenças genéticas, como síndrome de Down, ou doenças do sangue, como mielodisplasia, têm maior propensão a desenvolver”, afirma o especialista.
O diagnóstico geralmente envolve uma combinação de exames de sangue, exames de imagem e biópsia da medula óssea. “Os exames de sangue podem mostrar um número anormal de células sanguíneas, enquanto os exames de imagem, como radiografias e tomografias computadorizadas, ajudam a procurar sinais de leucemia nos ossos e órgãos. A biópsia da medula óssea é o exame mais importante para confirmar o diagnóstico”, explica.
Tratamentos e avanços recentes
Nos últimos anos, o tratamento da leucemia avançou significativamente com o desenvolvimento de novas terapias e abordagens. Entre as opções de tratamento disponíveis hoje estão a quimioterapia, radioterapia, transplante de medula óssea, terapias-alvo e imunoterapia. “A quimioterapia é o tratamento padrão para a maioria dos tipos de leucemia, usando medicamentos para destruir as células cancerosas”, diz o hematologista. A radioterapia, por sua vez, usa radiação de alta energia para destruir as células cancerosas, sendo utilizada principalmente em casos de LLA que se espalharam para o cérebro ou a medula espinhal.
O transplante de medula óssea é um procedimento em que a medula óssea doente é substituída por medula óssea saudável. “Esse transplante pode ser indicado para pacientes com leucemia que não respondem à quimioterapia ou que têm um alto risco de recidiva da doença”, explica. As terapias-alvo e a imunoterapia também representam avanços importantes. “As terapias-alvo atacam especificamente as células cancerosas sem danificar as células saudáveis, e a imunoterapia ajuda o sistema imunológico do corpo a combater o câncer”, acrescenta.
A quimioterapia age destruindo as células cancerosas e pode ser administrada por via intravenosa, oral ou intramuscular. “Os medicamentos quimioterápicos funcionam de diferentes maneiras, mas todos têm o objetivo de impedir que as células cancerosas se multipliquem e cresçam”, explica o especialista.
Desafios no acesso ao tratamento
O acesso ao tratamento para leucemia no Brasil ainda enfrenta desafios, como a desigualdade na distribuição de centros de tratamento, a falta de infraestrutura adequada e o alto custo do tratamento. “Os centros de tratamento estão concentrados nas grandes cidades, o que dificulta o acesso para pacientes de áreas rurais ou remotas. Além disso, alguns centros não possuem infraestrutura para realizar todos os tipos de tratamento, como transplante de medula óssea. E o custo elevado do tratamento também é uma barreira para muitos pacientes”, afirma.
A medicina personalizada e as terapias-alvo estão revolucionando o tratamento da leucemia, permitindo que o tratamento seja adaptado às características individuais de cada paciente e reduzindo os efeitos colaterais. “A medicina personalizada e as terapias-alvo representam um grande avanço, pois atacam especificamente as células cancerosas sem danificar as células saudáveis”, pontua.
Doação de Medula Óssea
A doação de medula óssea é um processo relativamente simples e seguro, que envolve várias etapas. O médico explica que o primeiro passo é o cadastro no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME). “Para se cadastrar, é preciso ter entre 18 e 60 anos, estar em bom estado de saúde e não ter nenhuma doença que impeça a doação. O cadastro é feito por meio de um exame de sangue simples”, esclarece.
Caso haja um paciente compatível, o doador é chamado para realizar exames mais específicos para confirmar a compatibilidade. A doação de medula óssea pode ser feita de duas formas: por punção ou aférese. “Na punção, é feita uma pequena cirurgia, sob anestesia geral, em que são feitas punções com agulhas nos ossos da bacia para retirar a medula óssea. Na aférese, o doador toma um medicamento que estimula a produção de células-tronco na medula óssea, que são coletadas por meio de uma máquina de aférese, em um processo semelhante à doação de sangue”, explica o especialista. A recuperação do doador é rápida, e em geral, ele pode retornar às suas atividades normais em poucos dias.
O REDOME é um banco de dados que armazena informações de pessoas dispostas a doar medula óssea. “O cadastro no REDOME é fundamental, pois aumenta as chances de pacientes que precisam de transplante de medula óssea encontrarem um doador compatível. Quanto maior o número de pessoas cadastradas, maiores são as chances de encontrar um doador compatível”, destaca o hematologista.
Existem muitos mitos sobre a doação de medula óssea, que podem impedir que pessoas se cadastrem como doadoras. Alguns dos mitos mais comuns incluem a crença de que a doação é perigosa, dolorosa ou que deixa sequelas. “A doação de medula óssea é um procedimento seguro, com riscos mínimos para o doador. Pode causar algum desconforto, mas não é dolorosa e não deixa sequelas. A medula óssea se regenera em poucas semanas”, afirma o hematologista.
Para ser um doador de medula óssea, é preciso ter entre 18 e 60 anos, estar em bom estado de saúde e não ter nenhuma doença que impeça a doação. “A compatibilidade entre doador e paciente é determinada por meio de exames de sangue que analisam os genes HLA. Quanto maior a compatibilidade entre doador e paciente, maiores são as chances de sucesso do transplante”, explica.
Importância das campanhas de conscientização
Não existe uma forma de prevenir a leucemia em todos os casos, pois a doença pode ter causas variadas, incluindo fatores genéticos e exposição a substâncias tóxicas. No entanto, algumas medidas podem ajudar a reduzir os riscos. “Evitar a exposição a substâncias tóxicas, manter um estilo de vida saudável e realizar exames médicos regulares são algumas das medidas que podem ajudar a reduzir os riscos de desenvolver leucemia”, orienta o médico.
Campanhas como o Fevereiro Laranja são de extrema importância na luta contra a leucemia, pois promovem a conscientização sobre a doença, seus sintomas, diagnóstico e tratamento. “Essas campanhas ajudam a informar a população, incentivar o diagnóstico precoce, promover a doação de medula óssea e apoiar pacientes e familiares”, explica.
Ser um doador de medula óssea é um ato de amor e solidariedade que pode salvar vidas. “A leucemia e outras doenças da medula óssea podem ser tratadas com o transplante de medula óssea, mas para isso é preciso encontrar um doador compatível. Se você tem entre 18 e 60 anos, está em bom estado de saúde e não tem nenhuma doença que impeça a doação, cadastre-se no REDOME e ajude a dar uma chance de vida nova para quem precisa”, incentiva.