O TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO

BENTO não está entra as cidades gaúchas de melhor qualidade de vida. Também não está entre as cidades de maior desenvolvimento. Bento precisa de mão de obra e, precisa também mão de obra qualificada. São mais de 2 mil pessoas que estão por aí sem trabalhar, metade não quer trabalhar e a outra metade não está qualificada, isso me foi dito por um líder sindical de trabalhadores. Bento tem um Prefeito que pauta sua gestão fazendo o “simples com excelência”. Foi muito aplaudido no CIC quando mostrou como faz isso. Mas Bento é uma cidade cheia de problemas, aluguéis caros, transporte deficitário, água, saneamento, lazer para todas as classes sociais, saúde e educação, entre outros problemas. Dentro deste contexto incluem-se também as coisas mal feitas, contrastando com o “simples com excelência”. Exemplos disso o túnel do acesso norte, uma situação vexatória que está a exigir dispêndios constantes do Poder Público. Outra situação visível de coisa mal feita ou incompleta, é a estrada que circunda o Bairro dos Eucaliptos. É certo que aqueles morros vão vir abaixo, não há contenção e, quando isso acontecer, em pequena escala vai repetir a tragédia da Rio-Santos. Cobro ainda do Prefeito, ou dos Prefeitos, o licenciamento e construção da quantidade e grandeza de edifícios na zona central da cidade, será o caos, vocês vão ver, só as auto escolas circulando pelas ruas centrais da cidade, (tem isso em algum outro município?) já é um grave complicador para o trânsito, quando for concedido o habite-se a esses edifícios como poderá o Prefeito dizer que “o simples com excelência” foi feito e não o “complicado com excelência”? São muitos problemas, alguns graves, que temos que solucionar, não se refletem lá fora mas, intensamente, aqui dentro. Dizem que Bento está entre as cidades mais visitadas, Bento não, mas sim o Vale dos Vinhedos e o Caminhos de Pedra, se o fato de pertencerem a Bento significa, então tá os turistas visitaram Bento. Está havendo uma “gastança” da Municipalidade para atrair os turistas para o Centro, não está resolvendo, melhor seria atender a infraestrutura necessária do VALE e do CAMINHOS e concentrar os eventos e/ou apoios nestes locais. Embora toda beleza cênica, nossos valores, nosso progresso, o fato de sermos uma colmeia de trabalho está nos custando caro, de vez em quando nos detonam lá fora, pelos índices de criminalidade e, agora, nos enquadram na existência de trabalho análogo e escravidão. Faz três dias que em rádio, televisão, rede social, Bento é referenciada de forma negativa, mesmo aqueles que tem suas mãos afagadas são os que estão apedrejando, não há compreensão e respeito a comunidade que somos, ao Prefeito que temos, ao valor de nossas lideranças e ao potencial que representamos. Na madrugada ouvi entrevista de Desembargador ligado a Justiça do Trabalho na qual ele afirmou que “as empresas tem sim a obrigação de assegurar que seus trabalhadores, vivam bem e em condições de saúde e alimentação”. Bem, então, concluo que não basta dar empregos, as empresas também tem que desenvolver uma ação de assistência social que compete a municipalidade através de sua Secretaria de Trabalho e Ação Social. As empresas estão fazendo a parte delas e muito bem diga-se. Trabalhadores vindos da Bahia para trabalhar na colheita da uva e colocados a morar em condições precárias e condição análoga a escravidão? Vieram porque quiseram, ficaram porque tinham interesse, na Bahia não há empregos é o segundo estado brasileiro mais pobre, e nada os impede de voltar. Estão melhores do que os SÍRIOS, do que os VENEZUELANOS acampados na fronteira com o Brasil, talvez esteja havendo uma severidade demasiada em analisar essa questão. Vale dizer que, recentemente, uma comissão de Deputados esteve visitando os presos, mais de 900, responsabilizados pela invasão do ALVORADA e, na saída, falaram que os presos, muitos idosos e mulheres, estão doentes, passando fome e precisando de medicação. Estaríamos aí diante de uma prisão análoga a escravidão? Porque só Bento é que está na alça da mira? Alguém foi visitar a Vila de Xangrilá e verificar como vivem os trabalhadores que abastecem as centenas de condomínios que precisam de mão de obra? Vamos adiante.

NOVA YORK

Há muitos anos passei uma semana em Nova York, por ter vencido um concurso jornalístico do SESC-RS. Parei num Hotel que tinha 38 andares. Ao lado dele tinha uma fruteira que abastecia o café da manhã dos hóspedes do Hotel que não servia café. No primeiro dia estava aberto entrei as 07:30 horas, comprei o café. No segundo dia cheguei antes das sete e fiquei esperando abrir. Aí chegou o dono, entrei com ele e quando cheguei lá dentro tinha dois funcionários já trabalhando. Intrigado eu questionei de onde eles tinham vindo, ele me chamou para ver atrás do balcão, tinha um alçapão que dava acesso aos funcionários. Vinha das galerias fluviais aquelas que são vistas em filmes policiais. Descobri que a cidade tem mais de 300 mil pessoas que vivem nessas galerias que atravessam a cidade e sobem para trabalhar. O abastecimento da fruteira era feito por ali, nada de abastecimento na calçada. Aí eu pergunto, essas pessoas que moram nas galerias estão desenvolvendo um trabalho análogo a escravidão?

RIO DE JANEIRO

Vocês já visitaram uma favela do Rio? Viram como vivem seus moradores? Viram como usam a moto como transporte? Viram as condições de vida, de pobreza? Cerca de 40% dos moradores, acho que bem mais, descem o morro para trabalhar como prestadores de serviço na orla. Assisti uma entrevista com uma bela morena, recepcionista do COPACABANA PALACE, ícone entre os famosos hotéis do mundo, ela falava três línguas, tinha curso superior completo, mas morava numa favela. “As condições não são as melhores, temos muitos problemas, mas não saio de lá, moro com meus pais, eles saindo de lá, iriam pra onde”? Os favelados do Rio que trabalham na ORLA vivem em condições análogas à escravidão?

MENDOZA

Convidado pela HEUBLEIN, que havia comprado a DREHER, passei 17 dias em Mendoza acompanhado por produtores de uva fornecedores da empresa com distinção de produtividade e qualidade. Estava por lá um guri estudante que se chamava ADRIANO MIOLO. Ele viu o que eu vi, isso já beira os 40 anos atrás. Produção de uvas colhidas com colheitadeira, produção de passas, azeite de oliva. A mão de obra utilizada vinha da Bolívia ou de um lugar qualquer lá dos Andes onde mastigar folhas de coca ou tomar chá de coca é um alimento de sobrevivência. Desciam os ANDES, trabalhavam 90 dias e voltavam para casa, nas suas choupanas indígenas, com seu dinheirinho no bolso. Por acaso isso é trabalho análogo a escravidão?

A NOSSA BENTO

Pensa em alguém em Bento que queira trabalhar na colheita de uva, mesmo ganhando duzentos reais por dia? Não vai encontrar. Então a solução é trazer mão de obra de fora, a convenção com a OLIVEIRA E SANTANA, deve ter sido a seguinte: “tu traz a mão de obra, eu pago”. Se os trabalhadores moram mal, não tem colchão, não tem comida, penso que seja problema da Oliveira e Santana, do Poder Público Municipal que a licenciou, não é das empresas onde trabalharam como diz o Desembargador, com todo o respeito. Já acampei, minha barraca foi inundada, já dormi por dois dias em estrebaria em Gravataí, quer dizer dormi acordado de pé caminhando pra cá e pra lá, não doeu, faz parte do processo. Trazer os baianos não foi uma boa ideia, melhor seria eles terem ficado lá e receberem o bolsa família, confiaram na empresa que os trouxe e se danaram. Então, por favor, Excelentíssimas Autoridades e Colegas de Imprensa, poupem Bento, vejam a coisa pelo lado bom, não basta decantar a magia da uva e do vinho é preciso compreender a dificuldade do seu cultivar, do seu colher, da sua vinificação. Estou triste, muito triste, com o que estão fazendo com a nossa Bento, mas também estou indignado que nossas lideranças não estejam entendendo de como funciona o processo, este de que “a mão que afaga é a mesma que apedreja”.

CURTAS E PODEROSAS

  • Os Prefeitos de TORRES e PASSO de TORRES (RS) estão discutindo quem é que tinha que ter trocado aquele cabo de aço que sustentava a ponte pênsil que une os dois municípios. A polícia não quer nem saber, vai indiciar no inquérito o Prefeitos por homicídio culposo, pela morte de BRIAN que caiu e morreu no mar, numa noite de carnaval. Na morte de mais de 240 jovens na BOATE KISS e mais uma séria de mutilados, o Prefeito e o Comandante da Brigada/Bombeiros, não foram indiciados no inquérito, apenas os músicos e o dono da boate. Quem licenciou a Boate? Quem deveria fiscalizar a existência do trabalho escravo? Quem vai ser responsabilizado quando aqueles morros que circundam a terceira via da estrada que contorna o Bairro dos Eucaliptos, vierem abaixo, e vão vir?

  • Tá todo mundo ficando louco. Os animais também. Um cervo, isso, um cervo, foi resgatado após invadir uma casa em GUAÍBA-RS. E uma fêmea BUGIU-RUIVO, ameaçada de extinção, foi resgatada no Bairro Azenha em Porto Alegre.

  • SINOP, 504 quilômetros de CUIABÁ. Num bar estavam todos jogando sinuca. Descontentes, dois homens foram apanhar armas no carro e morreram sete, entre as quais uma menina de 12 anos. Cartas, Sinuca, futebol, ninguém gosta de perder. Em meio as tensões sociais que vivemos, dê-lhe tiros e mortes.

  • A bela GISELE BUNCHEN, recebeu 10 milhões de reais para ficar três horas no camarote da Brahma, no carnaval carioca. Ninguém teve acesso, nem os patrocinadores da vinda dela. Poxa, 10 milhões de reais com o direito de pular e se divertir sozinha no camarote?