O MEU AMOR PELOS RIOS

Gosto de rios, não só os que estudei no Colégio, mas também muitos deles visitei. O DOURO, em Portugal; o SENA e LOIRE, na França; o TIBRE na Itália; o TAMISA, na Inglaterra; o AMAZONAS, o SÃO FRANCISCO e outros tantos. Fico encantado em ver a veneração da população por eles e as políticas públicas de proteção. Quando viajo, tenho prazeres prioritários: Caminhar em torno dos rios transformados em áreas de lazer; visitar o mercado público; ver bandas de artistas de rua se apresentando; visitar Igrejas; restaurantes típicos; parques públicos; espetáculos artísticos e teatrais; museus. Ao voltar, as comparações são inevitáveis. Nosso Rio das Antas é severamente maltratado; não temos um mercado público permanente que poderia estar localizado naquela rua, sem saída, onde está o ponto de partida e chegada da Maria Fumaça; nossas Igrejas, e nosso Centro, foram delapidadas de seu conteúdo histórico e, para vermos uma igreja incrivelmente bem iluminada não precisa ir para Recife, Rio, é só ir até Garibaldi; nossa rede gastronômica, fora do ponto de vista de turista, é cara, lhe falta sustentabilidade e diversidade; nosso Museu é uma amostra, lhe falta conteúdo e afluência, nem os estudantes visitam o nosso Museu; nossos espetáculos teatrais são minimalistas; nossas bandas escafederam-se; nossa Maria Fumaça trafega pelo trecho menos atraente; nossos trilhos na zona central da cidade nos constrangem; somos uma cidade turística sem turistas, VINHEDOS e CAMINHOS DE PEDRA, não são a cidade, são pontos periféricos; o cenário encantador e ainda italiano de raiz, colonial, é composto por Pinto Bandeira, Monte Belo e Santa Tereza, que perdemos por ineficiência política; ver crianças com suas bicis, pessoas sentadas em bancos, parque públicos incrementados, não temos o que e como deveríamos ter, só espasmos, o verde está sendo destruído. Outrora imposição nos loteamentos, a bem da qualidade de vida, hoje são fonte de renda para a municipalidade. Mas, mesmo assim, no retorno de nossa última viagem, quando estávamos ultrapassando a PIPA PÓRTICO, minha filha caçula, 18 anos, do nada, exclamou de forma firme e convicta: “COMO EU AMO ESTA CIDADE”! Achei profundo, me sensibilizou, a tal ponto de eu perguntar: “com ou sem os seus problemas ou necessidades”? Silêncio.

O RIO DAS ANTAS

Certa vez, meu assessor empresarial IRINEO SCOTTA, me convidou para uma pescaria em CAMPINHO (Santa Teresa), onde moravam os pais. Sexta-feira ao meio dia aportaram lá em casa para me buscar. Era um comboio, quatro carros, me assustei um pouco, vi que era uma pescaria “da pesada”. Simulei um mal estar e prometi que iria sábado, dia seguinte, com meu carro. Nesse dia seguinte surgiu um problema empresarial, liguei dizendo que preparassem o churrasco de domingo que estaria lá. Na manhã de domingo, 8 horas, recebo um telefonema do Irineu com a seguinte comunicação: “NEM VEM, NA MADRUGADA O RIO LEVOU EMBORA TUDO, EQUIPAMENTOS, CARNEN CARVÃO, BARRACAS, BARCO, TUDO, NOSSA SORTE É QUE ALGUÉM ACORDOU NA MADRUGADA COM ÁGUA NOS PÉS E GRITOU “ÁGUA NA BARRACA”! FUGIMOS TODOS PARA A PARTE ALTA DA ILHA”. Veio de repente uma enxurrada, daquelas violentas e instantânea pegando todos se surpresa, com 8 horas de espera pela ajuda.

NA ALCÂNTARA

De outra feita, fui, com meu então cunhado, pescar às margens do ANTAS lá na Alcântara, em Faria Lemos. Barracas montadas, carne em andamento para o churrasquinho após anzóis ao rio, e eu com minha cama militar de campanha, ela é mais alta, confortável apesar de seus 30 quilos de peso, tudo como manda o figurino. Barriga cheia, cabeça “ondulada” pelo vinho, fomos dormir. Lá pelas 4 da manhã alguém levantou para ir ver o resultado dos anzóis e repor as iscas. Ao voltar para a barraca ele grita: “COBRA NA BARRACA”, quando ele tava dizendo CO eu já tinha subido, na corrida, morro acima até a beira da estrada e ali fiquei “SENTADO A BEIRA DO CAMINHO”. Se fosse um leão eu teria enfrentado, mas uma cobraaaaaaaaaa! Fiquei ali esperando por alguém que me levasse para casa, na pescaria eu não voltaria, fiel a filosofia de que “ONDE TEM UMA COBRA, TEM OUTRA COBRA”. Lá pelas 05:30 horas vinha vindo um caminhãozinho, ataquei, pedi carona, ele vinha trazer frutas e hortaliças para a feira livre, onde ele chegou em torno das 07:30 horas, duas horas para vir da Alcântara até o Centro da cidade, tempo suficiente para me aquietar. Encerrei aí meu ciclo de pescarias no ANTAS, cheguei a conclusão que o RIO tava de olho em mim, terá ele pensado que, como diziam quando eu trabalhava na Isabela, eu era “UM BUNDINHA DA CIDADE”? Em decorrência do que não me via com “BONS OLHOS”?

O FIM DO NAMORO

Eu tinha uma namorada quando rapaz, filha de um militar, uma loira escultural, manter o namorico me dava uma mão de obra danada. Seu nome não era SANDRA ROSA MADALENA do SIDNEY MAGAL, mas eu gostava de “vê-la dançar”, era a rainha dos bailes do CLUBE DOS SARGENTOS DO BATALHÃO FERROVIÁRIO. No LET’S TWIST AGAIN ela extrapolava enquanto eu ficava no LET’S, era uma tortura! Como se isso não bastasse, como filha de militar, ela gostava de militância às margens do ANTAS, acampamento, pontes, túneis, mata, pássaros, comidinhas entre as quais “Bolacha Maria”. Quando eu não podia ir junto (fui duas vezes) ela ia com a turma, mesmo em dias úteis. Numa quarta-feira, em torno das 14:30 horas, ela me liga lá da casa do Favaretto, no Passo Velho, tentando me convencer a ir até lá, ela falava e eu olhava para as roupas que eu tinha que passar na alfaiataria do meu pai, trabalho duro análogo a escravidão. Eu disse “não dá, não posso ir”, e ela então falou “então eu vou tomar banho sozinha”. E eu falei “tu já deveria ter ido há muito tempo”, literalmente mandei ela tomar banho “delicada expressão muito usada em Baracão City”. O RIO DAS ANTAS engoliu meu relacionamento, me senti aliviado, a pressão psicológica da loira escultural era muito grande! “Era muita areia para o meu caminhãozinho”, ela continua minha amiga até hoje. Não perdeu a majestade.

O RIO E SEUS ENCANTOS

Certa ocasião participei de um JEEP TOUR pela colônia, saída do Posto Fenavinho, rumo ao Posto do Hélio, Linha Zemith, Vale Aurora, retorno pela Alcântara, parada técnica para uns bifes no arado e pan e vin, volta, cruza a BR, sobe para São Luiz das Antas, desce, margeia o Burati, sai lá no Barracão e chegada ao destino Posto da Fenavinho. Um passeio incrível, momentos marcantes. Na primeira parada, Moysés Michelon, que estava no Jeep que eu estava, ficou encantado com a beleza arquitetônica da Igreja e começou a pesquisar tudo sobre ela. Só depois de insistentes VAMO MOYSÉS, seguimos. Nas margens do Antas, uma “parada técnica” com um aviso: “quando passarmos ali adiante andem devagar, pois o dono da casa costuma usar sua espingarda para intimidar os jipeiros que passam em alta velocidade assustando e atropelando as galinhas dele. Como já tínhamos a carne e os pães para o almoço respeitamos as galinhas, he, he, he! Lá em São Luiz das Antas, tivemos que ter autorização do proprietário para atravessar um terreno e fizemos outra “parada técnica”, quando os condutores dos veículos resolveram fazer uma apresentação do poder de suas máquinas e de suas habilidades como pilotos no terreno gramado e encharcado. Foi impressionante, barro para todo lado, veículos atolados, máquinas rugindo, enquanto eu, a Ana Inês, o Moysés, e o Darwin Geremia, sentados, no alto de um barranco, assistíamos a cena. De repente apareceu no nosso lado o dono do terreno desolado e desesperado. “Olha o que fizeram com meu terreno, eu largo ali para pastar as minhas vacas leiteiras, se foi o gramado todo e, nestes buracos, elas vão quebrar as pernas e eu tenho que sacrificá-las, que quero indenização”, desabafou. Só faltava chorar nos sentimos também responsáveis, para piorar o nosso jeep estava atolado sem poder sair do lugar mesmo rebocado. Olhei para o Moysés e olhamos para o proprietário e eu disse “eu não disse nada, tu fica quieto se não apanha, negócio é o seguinte, o líder do bando é o que mais fez buracos no teu terreno e o que tem mais dinheiro, até trator tem, é aquele lá olha, lá no fundo o último. E aí olhei para o Moysés e disse: “amigo, mãos à obra, vamos ajudar, senão empurrarmos nosso jipe ele não vai sair de lá, vamos ter que acampar aqui”. Nesse meio tempo houve um acerto para que o proprietário tivesse os “buracos tapados”. Tiramos o veículo do atoleiro e seguimos todos, cheios de pó, esfregando os olhos, com os veículos sujos como o jeep do RAMBO nos filmes, fomos em direção ao Burati. Na curva, lá no alto deu para ver um lindo cenário do ANTAS, inclusive o braço morto, preto, poluído, inerte, uma lástima, aquilo tudo deve ter vindo montanha abaixo e parado no TAQUARI. Percorremos o cenário do Vale Buratti, mais um momento gratificante de todo o passeio. Paramos na usina hidroelétrica, o que restou dela, aí mais uma – exibição do poder do homem sobre a máquina. Atravessando o Rio tinha um barranco de uns três metros de altura, como íamos ultrapassar aquela barreira? Sobrevivemos no lamaçal e vamos “morrer” na usina? Todos desceram das viaturas e uma por uma eles aceleravam para poder subir, coisa que conseguiam após quatro ou cinco tentativas. Subia um vinha o outro e nós? “molhando os pés na límpida água do Rio Buratti”, cuja usina, no passado, iluminava toda a cidade de Bento. Depois de duas horas, obstáculo vencido com honra ao mérito, passamos pelo Barracão e chegamos ao ponto inicial. Tivemos que passar pelo “IML” do Posto, pois a identificação de cada um só era possível pela cor dos olhos, éramos todos RAMBOS, unificados por pó e barro. Foram precisos três banhos para tirar “quilo” do corpo depois de ter entrado em casa sem a roupa do corpo. Faria esse passeio mil vezes, pelo cenário, pelos fatos inusitados, pela beleza dos morros, pelo que o rio proporciona, um rio precioso em torno de quem deveríamos todos estar comprometidos, na sua saúde e preservação. Vou continuar na próxima edição.