Relatório preparado pela organização de controle do tabagismo, a Campanha Crianças Livres do Tabaco (CTFK) lançando no Brasil, mostra que cigarros estão mais viciantes e perigosos. Feito a partir da análise de pesquisas científicas e de documentos fornecidos pela indústria do tabaco, o trabalho afirma ser mais fácil tornar-se dependente de cigarro do que de cocaína e de heroína.

A mudança, afirma o documento, é resultado de estratégias adotadas pelas companhias. Ao longo dos últimos 50 anos, assegura o relatório, os produtos passaram a apresentar um teor maior de nicotina, tiveram a inclusão em sua fórmula de amônia e açúcares, que aumentam seu efeito e tornam a fumaça mais fácil de ser inalada. O próprio formato do cigarro mudou: produtos passaram a trazer filtros com pequenos orifícios, muitas vezes imperceptíveis, que levam o fumante a aumentar o volume e a velocidade de aspiração. Alta engenharia avalia o relatório, para aumentar a atratividade, facilitar o consumo e a dependência.

Nicotina e heroína apresentam mecanismos semelhantes para o desenvolvimento da dependência. Foi observado, no entanto, que o número de experimentadores de cigarro que se tornaram dependentes é maior do que os que entram em contato com heroína pela primeira vez.

Documentos reunidos no relatório mostram que os teores de nicotina dos cigarros aumentaram 14,5 entre 1999 e 2011. Substância encontrada naturalmente na planta do tabaco, a nicotina, quando chega aos pulmões, é absorvida pela corrente sanguínea e em segundos é transportada para o cérebro. Os sintomas de abstinência surgem logo nas primeiras horas depois de parar de fumar.

A amônia acrescentada ao tabaco aumenta a velocidade com que a nicotina chega ao cérebro, e a absorção, o que torna a sensação de prazer mais rápida e mais intensa. A amônia também torna a fumaça do cigarro mais suave, o que facilita a sua inalação pelos pulmões.

Além da maior capacidade de desenvolver dependência, as mudanças ampliaram o risco de câncer de pulmão. As misturas do tabaco e os aditivos tornaram a fumaça do cigarro mais fácil de ser inalada, aumentando os níveis de nicotina no sangue e no cérebro. Outros agentes potencializam o impacto da nicotina, como o acetaldeído produzido com a queima do açúcar adicionado ao cigarro.

Principalmente nos Estados Unidos, cigarros passaram a ter uma concentração maior de nitrosaminas específicas do tabaco, uma substância carcinogênica. Essa mudança, associada com a adoção de filtros ventilados – que levam a inalações mais profundas – torna o fumante mais vulnerável e exposto a substâncias, aumentando o risco de câncer provocado pelo consumo do cigarro. Apesar de fumarem menos, tanto homens quanto mulheres têm um risco muito maior de desenvolver câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica do que em 1964, quando foi divulgado o primeiro relatório produzido pelo governo americano sobre o impacto do tabagismo na saúde.
Companhias usam os aditivos para aumentar o número de vendas, para atrair jovens e evitar que pessoas abandonem o tabagismo.

Procurado, o Sindicato Interestadual da Indústria do tabaco afirmou que não se manifesta sobre o tema.

Por Lígia Formenti – AE