Tenho saudades dos caronas de minhas viagens de trabalho, especialmente quando das idas e vindas para a Capital do Estado, ocasiões em que podíamos conversar um pouquinho mais com cada um que nos acompanhava.
Memorável aquela viagem desde Bento até Rio Grande quando tive a honra de ter como carona o Irmão Rodrigues, diretor e professor do Colégio Aparecida, escola onde aprendi a ser gente. Foi uma viagem repleta de troca de conhecimentos, boas lembranças e fiquei deslumbrado com aquele homem que tanto eu já admirava e carinhosamente apelidara de Irmão “Bolinha”.
Um fato que sempre recordarei, por ter acontecido tantas vezes, se dava com as caronas da Dona Blandina. Já sexagenária, era a companhia que mais ocupava o banco de passageiros de meu “fuscão”. Madrugadas e noites a dentro lá íamos nós, muitas vezes ela dormindo, outras me alertando sobre o perigo das estradas e sempre companheira de viagem.
Interessante que depois de um tempo de viagem ela sempre perguntava:
-“Paulo, já passamos por aquele lugar dos curtumes?”
Era um ponto de referência da viagem pois, via de regra, o local fedia demais. Era um cheiro de fechar as janelas do carro e aguentar o calor.
– “Mãe, é aqui. Vou fechar os vidros”.
– “Não precisa fechar Paulo. A gente passa ligeiro e pronto”.
Custei para descobrir a sutileza da Dona Blandina. Foi num dia que eu me equivoquei sobre o local dos curtumes e avisei que estávamos chegando no nefasto local.
Deus meu! Parecia que de fato havia um curtume naquele local e que ele havia explodido naquele momento. Um fedor de não aguentar e eu, apressado, girando a maçaneta dos vidros.
Foi só então que descobri que ela aproveitava a passagem pelo local para poder liberar alguns gases. Desde então eu sempre avisei: – “Mãe! Aproveita que já chegamos no curtume.”