Aos 40 anos, atleta bento-gonçalvense conquistou seu 81º título

No final de semana de 24 e 25 de junho, o atleta de powerlifiting César Casarotto, foi destaque no Campeonato Gaúcho da modalidade, realizado no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), em Porto Alegre. Ele conquistou o 1º lugar no Levantamento Terra Master 1 acima de 125kg, erguendo 335kg, consistindo no maior peso da competição, e sendo o melhor atleta Master.

A caminhada para chegar ao topo nem sempre é fácil, pois os atletas devem passar por grandes períodos de treino e rigorosas rotinas. “Os treinamentos são divididos em etapas durante o ano, de acordo com os calendários de competições. Temos períodos que são mais leves, moderados e os momentos onde o bicho pega. Nesse tempo pode dar vontade de desistir, pois em cada treino é uma sensação de que não vai conseguir, 1kg a mais parece 100kg, uma repetição a mais parece durar uma hora, a sensação de que tudo vai desmontar é muito frequente”, expõe Casarotto.

Com mais de 17 anos participando de competições e 81 títulos conquistados, Casarotto foi para este campeonato com um revés, ele estava se recuperando de uma lesão grave. “Estou me sentindo bem e com sensação de dever cumprido. Em dezembro de 2022, no sul americano, na Argentina, tive uma lesão séria no bíceps esquerdo, uma ruptura parcial. Essa lesão leva muitos atletas dessa modalidade a abandonar o esporte, então, voltar a fazer o que gosto em alto nível e em tão pouco tempo é gratificante. Realizar as três pedidas de forma perfeita, com todas luzes brancas em todos movimentos, e ainda conseguir o maior peso da competição, é a melhor sensação que existe. Isso mostra que mesmo com 40 anos, os treinos ainda estão funcionando, o método que utilizo ainda gera resultados e demonstra que posso continuar competindo em alto nível por um bom tempo”, mostra.

O atleta conta que a preparação para esta competição foi diferente das habituais. “No começo foi bem difícil. Tinha um pouco de medo da lesão não estar bem recuperada e tive que me readaptar no movimento quase que por completo para não correr o risco de me lesionar novamente. É quase como aprender a treinar do zero, me sentia mais cansado, levando à não me recuperar totalmente entre os treinos. Isso fazia com que no treino seguinte não estivesse bem recuperado, resultando em um treino pior, gerando uma bola de neve. Mas como disse: você baixa a cabeça, faz o que sabe, se adapta ao momento e deixa seu melhor”, relata.

Ninguém começa no topo, e o diferencial de Casarotto é que ele sempre trabalhou cada vez mais para se tornar o melhor. “Comecei a treinar, pois era muito magro. Na época que ingressei no esporte, pesava 73kg. Iniciei por indicação de amigos que me convidaram para assistir uma competição de powerlifiting em Caxias. Fui, achei interessante e tentei me informar. Realizei alguns treinos e percebi que podia ter algo bom pela frente, que talvez pudesse me dar bem nisso”, diz.

Para chegar ao topo, deve-se ter uma rotina muito bem planejada e estruturada. “Uso basicamente uma preparação pesada o ano todo, isso me deixa sempre pronto para uma competição. Às vezes em melhores condições do que em outras, mas sempre apto para participar de uma. Sou um dos poucos que conheço que usa essa estratégia, por enquanto ela tem funcionado, então continuo utilizando. A partir do momento que os meus treinos estagnarem, vou procurar me adaptar. Isso já aconteceu e com certeza irá acontecer novamente”, explica.

A rotina de alimentação é o ponto chave para todo atleta de powerlifiting, o diferencial, para ele, é comer muito e treinar mais ainda. “A alimentação é a parte boa, no power a comida é quase toda liberada, dependendo da categoria de peso que se compete. Como peso na casa dos 130kg, quanto mais comida melhor, claro que temos que cuidar as coisas que podem fazer mal. Mas os alimentos que normalmente as pessoas comem em excesso e que pode engordar, para nós, são os alimentos que mais fazemos uso, como os carboidratos, que são nossos melhores amigos”, relata Casarotto

O atleta pode ter uma boa preparação, uma rotina de treinos estruturada e uma alimentação correta, porém, se na hora que subir ao palco a pessoa não estiver calma, tudo pode mudar. Devido a isso, Casarotto sempre vai preparado para tudo. “Uso uma postura de me manter mais calmo nas competições, sem muita euforia, com mais controle emocional, concentração e foco no objetivo. Vou para barra esperando o melhor, mas ciente que pode dar errado. Isso me faz ficar concentrado no momento. Sempre saio de casa com uma meta, ou seja, o objetivo é erguer tal peso em determinada competição. No dia me adapto ao momento, podendo estar melhor ou não do que o esperado”, destaca.
Para ele, a pressão que recebe por ser uma referência no esporte pode prejudicar seu desenvolvimento. “A pressão é enorme, porque além de eu ser a referência, todos esperam que seja sempre o cara a ser batido. Isso gera uma cobrança muito grande em si mesmo. E se não corresponder as expectativas, não conseguir ir bem. Isso deixa sua cabeça um turbilhão, porque muitos infelizmente torcem contra você, mas a maioria torce a favor. Então você fica naquela ‘preciso ser o melhor, responder as expectativas das pessoas que acreditam em mim, para poder continuar nessa trajetória’. O que mais aprendi durante todos esses anos é que sempre se pode continuar, se você quiser, pode continuar tentando, acredite no seu trabalho, se os outros acreditam que pode, então acredite também”, salienta.

Durante esses anos, dentro do esporte, sua melhor lembrança é quando pode treinar e ver seu filho participar de um campeonato. “Um momento muito especial foi o mundial de 2019, realizado no Brasil, onde disputei e ganhei o tri campeonato. Mas meu filho, de apenas oito anos na época, também disputou comigo. Treinei ele por meses, e ele competiu como um adulto, sério, focado e sem medo, é algo que vai ficar para sempre comigo”, diz.

Os próximos objetivos de Casarotto são o campeonato Brasileiro, em setembro, que garante vaga para o mundial em novembro. “Se ganhar o brasileiro será meu 17° título nacional, o que pode me levar a disputar o pentacampeonato mundial, tendo chances de sair com o título novamente e quem sabe alcançar uma marca que muitos tentam, os 350kg”, finaliza.