Centenas de jazigos dos cemitérios da cidade tiveram seus letreiros e ornamentos furtados; ação têm indignado familiares dos falecidos

O “campo santo” deixou de ser um lugar de paz. Pelo menos em Bento Gonçalves, onde centenas de túmulos sofreram a ação de pessoas que, no ímpeto do furto, têm levado o que conseguem retirar em metal e outros materiais.

Uma família que não quer se identificar, e que há cerca de 60 anos possui seu jazigo no Cemitério Público Municipal Central, já foi lesada por três vezes. “Na primeira, levaram todas as bordas das fotografias e, inclusive, conseguiram arrancar uma foto. Mandamos fazer tudo de novo, a fotografia e as bordas. Tempos depois, vieram de novo e levaram somente uma borda. Foi a única que conseguiram arrancar. No fim de semana passada, percebemos que levaram o Cristo que tínhamos na cruz do túmulo. Dá uma tristeza que não tem como explicar”, afirma uma senhora que tem familiares sepultados no local.

No Cemitério Público de Santo Antão acontece o mesmo. A família também não quer se identificar, porque não se sente segura, “nem em casa, nem no cemitério, nem em lugar algum”, diz a viúva de um dos falecidos sepultados naquele local. “Levaram tudo. Quem passa na frente acha que não tem ninguém enterrado lá. Fizeram a limpa. E não foi somente no nosso, foi por toda a volta. Eu costumava ir lá rezar, sozinha. Agora não vou mais, de jeito nenhum. Imagina se me deparo com esses marginais”, lamenta.

Outra viúva que tem o marido sepultado no Santo Antão categoriza o fato como “desrespeito total”. “A gente gasta, cuida. Geralmente meu filho e eu vamos lá limpar, rezar. Daí nos deparamos com uma situação dessa. Mas não foi só o nosso. Foi quase geral. O nosso só sobrou uma letra e a foto. Já haviam levado o aro na volta da fotografia há mais ou menos um ano. Não comprei, porque me pediram R$ 200,00. Gastar de novo é inútil. Até pensamos em colocar dentro da Capela, mas se quebrarem o vidro, o estrago será maior e mais caro. O ideal é que a Prefeitura coloque câmeras, porque quem é que vai ficar de guarda no cemitério, principalmente à noite. São muitos acessos, muros baixos. Não tem muito o que fazer”, frisa.

São inúmeros os casos. A mãe de um jovem sepultado no Cemitério de Santo Antão não consegue esconder a tristeza do que viu à volta do jazigo. “Moro nas proximidades e costumo ir com frequência ao local para molhar e trocar as flores, dar uma arrumada. Me chamou a atenção a falta de alguns ornamentos na Capela. Olhei à minha volta e percebi que faltam muitos. Não tem nem o que dizer. É muita dor saber que existem pessoas capazes de uma barbaridade dessas. E o pior: se tem alguém levando, é porque tem comprador”, salienta.

Alguns comentários, nada oficial

Conforme o secretário de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana, que têm gestão sobre a Divisão de Cemitérios, Gilberto Rosa, muitas vezes a comunicação não chega à Secretaria. “Os cemitérios são grandes. Estamos admitindo novos servidores que, além de trabalharem na manutenção, terão ação de presença maior no interior dos mesmos. Estamos também estudando a possibilidade de monitorar os locais com câmeras de segurança”, frisa o gestor.

Ele ressalta, ainda, que as ações de vândalos vão além dos cemitérios. “Infelizmente, estamos notando e presenciando o vandalismo com pichações, roubos de placas de sinalização, entre outras coisas. Adornos em metal trabalhado chamam mais atenção. Quanto mais simples for a identificação, e com uso de outros materiais, creio que possamos coibir os fatos”, assinala.

Para finalizar, o Secretário diz que a comunicação com a Divisão de Cemitérios é o primeiro passo, quando os familiares perceberem que sofreram furtos. “Algumas pessoas até comentam quando vem até a Secretaria, mas são poucos os casos que temos conhecimento, e tudo verbalmente. Necessitamos saber para que possamos estudar e planejar ações que visem evitar tais ações”, conclui.

O telefone da Secretaria de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana, responsável pela Divisão de Cemitérios, é o (54) 3055-7389.

Boletins de ocorrência

A delegada responsável pela 1ª Delegacia de Polícia, que responde pela área que abrange o Cemitério Público Municipal de São Roque, afirma não ter conhecimento de registros desta natureza em sua área de abrangência, o que foi confirmado em conversa com um morador do Bairro que tem familiares sepultados no local: “Aqui é bem tranquilo. Nunca percebemos a falta de nenhum objeto das sepulturas”, relata.

Já o delegado titular da 2ª Delegacia de Polícia, Álvaro Luiz Pacheco Becker, responsável pela área do Cemitério de Santo Antão, lembra que há cerca de um ano surgiram alguns registros dando conta dos furtos, porém, atualmente, não há nada nesse sentido. “Sabemos que ocorrem, mas os fatos não estão sendo registrados. É muito importante que as famílias que forem atingidas façam a ocorrência, pois tempos atrás conseguimos chegar num receptador, que foi encaminhado à Justiça e respondeu processo”, informa.