Ativo desde 2014 no município e oficializado em 2018, o coro já percorreu diversas cidades, tendo se apresentado até mesmo para cinco presidentes do Mercosul. O regente do grupo, Celso Fortes, destaca a importância do coro, especialmente na vida das crianças

A cultura é uma grande ferramenta de mudança na vida das pessoas, e entende-se que, a partir da dedicação, vem a disciplina, fundamental para que aqueles em fase de crescimento aprendam sobre responsabilidade. Além disso, têm acesso à arte e à cultura, que os ensinam sobre os valores da vida. Como dizia Friedrich Nietzsche: “Temos a arte para não morrer da verdade.” Pois só ela é capaz de permanecer mesmo quando não há mais vida e de perpetuar aqueles que já se foram.

O início

Celso Fortes é professor de biologia e diretor de escola aposentado. O ensino sempre fez parte de sua vida, assim como o canto e a música. Por conta disso, trabalhar regendo coros sempre lhe fez bem, e só em Bento Gonçalves criou 15. Após trilhar uma longa carreira em Porto Alegre e em cidades metropolitanas, decidiu expandir sua vida também para a Serra. “Em 2014, os Canarinhos de Bento Gonçalves nasceram. Em 2018, os pais se reuniram, pois dei a sugestão de criarem uma associação, que é um instituto musical. Os Canarinhos de Bento começaram no Dall’Onder e depois fomos para o Sest Senat, e então para o Instituto Musical dos Canarinhos de Bento, que tem uma diretoria”, conta Fortes.

Celso Fortes, regente do grupo, já criou na cidade 15 coros

Inicialmente, alguns desafios surgiram neste percurso, principalmente porque Fortes estava iniciando um novo projeto na cidade. “Nós estávamos acomodados no Sest Senat, eles eram os mantenedores e a maioria dos cantores era da oficina do próprio Sest Senat. Então, começou a entrar gente de outros colégios e resolvemos ir para a Casa das Artes. Mas quando chegamos à Casa das Artes, ficamos meio perdidos. Como eu disse, tínhamos uma mantenedora e, ao chegar lá, os pais estavam se organizando para criar uma instituição. Então, era uma incógnita. Até porque, com os pais assumindo, eles poderiam dizer: ‘Bom, nós criamos, agora o senhor está dispensado.’ Para mim, foi uma insegurança. Apesar disso, eu ficaria feliz se continuassem, pois é importante que a cultura siga e precisamos de cultura. Através do canto coral, podemos modificar muito as crianças e dar a elas a formação humana, espiritual e de caráter, através da arte”, salienta Fortes.

Momentos especiais

Hoje, o coro é bastante reconhecido no estado, tendo realizado diversas apresentações extremamente importantes, que contribuem para o seu grande currículo. “Houve vários momentos marcantes, por exemplo, quando teve a reunião do Mercosul aqui, em 2019, cantamos para cinco presidentes da América do Sul. No almoço de aniversário do Jantar do Grêmio, no Grêmio Náutico União, também cantamos junto com o Hique Gomez, que apresentava sempre o ‘Tangos e Tragédias’”, relata Fortes.

A mudança

Como em tudo, a arte também necessita de dedicação, e Fortes acredita que isso seja fundamental e consequentemente gere um bom comportamento nas crianças. “É impressionante como as crianças mudam em sala de aula fazendo parte de um coro. É por causa da disciplina. Ainda há em orquestras e coros uma espécie de disciplina muito forte. No entanto, é necessária para tudo o que queremos aprimorar. Tudo exige dedicação. Agora, quem se dedica? Quem ama ou quem tem o apoio dos pais. Se os pais não apoiarem essas crianças, seja para alguma atividade artística ou esportiva, eu me preocupo. Porque elas acabam ficando no celular e na televisão”, explica. Fortes complementa: “Não há desenvolvimento sem educação e cultura. Se todos os políticos e empresários pensassem assim, teríamos um Brasil muito melhor. Infelizmente, são raros os que pensam assim. Em Bento, ainda há quem pense assim”, ressalta.

Desafios que o coro enfrenta

Dificuldades são encontradas no processo, e o regente explica que talvez a maior delas sejam os pais. “Nossos desafios agora são alguns pais que não permitem que seus filhos participem de atividades extracurriculares. Quais são os motivos? O financeiro, pois há o custo do uniforme, da passagem ou da gasolina. Quando visito as escolas, a maioria das crianças quer participar, mas os pais impedem por questões financeiras ou pelo comodismo de ter que acompanhar eventos que terminam tarde da noite, esperando o ônibus voltar de alguma excursão ou apresentação distante”, explica. “Isso entra em terceiro lugar, o comodismo. Eles também não entendem que através da cultura seus filhos podem melhorar”, traz.

Fortes relata que muitos pais não compreendem a importância da arte na vida de seus filhos. “É necessário conscientizar os pais. Às vezes brinco que muitos deles precisam voltar para a sala de aula, não os filhos. Isso é verdade. Claro, há exceções, mas muitos estão mais preocupados com sua própria vida e com questões financeiras”, constata.

Ex-canarinho

Rodrigo Soltton seguiu a carreira musical e hoje possui mais de 80 mil seguidores em suas redes sociais, fazendo tributos a Elton John por todo o mundo. Ele iniciou com Fortes quando ainda dava aulas em Novo Hamburgo. “Participei dos Canarinhos desde os anos 90, foi minha grande escola de música. Tenho muitos amigos que fiz lá e mantenho contato até hoje. Lembro que o Celso dizia que quem não se tornar músico será um bom ser humano e terá um bom coração, porque aprendíamos muitos valores além da música”, lembra.

Soltton relembra que foi lá onde aprendeu muito do que sabe hoje. “Fiquei por oito anos lá, aprendi a tocar piano, teoria e solfejo. Tínhamos uma das melhores escolas de música em Novo Hamburgo e tive a oportunidade de viajar por todo o Brasil, inclusive participando de festivais de coros em Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Realmente foi uma grande escola é um marco na minha vida, onde aprendi minha profissão de artista”, conclui.

Novas inscrições

A partir de 13 de agosto, começa o Coro Escola. Serão aceitas crianças de toda a cidade e também da região para, durante agosto, setembro, outubro e novembro, se preparar para ingressar nos Canarinhos de Bento no ano que vem. Para entrar no coro de Bento é necessário passar por quatro meses de teoria, solfejo e técnica vocal. As aulas ocorrerão na Casa das Artes. São aceitos meninos e meninas de sete a 14 anos. Para mais detalhes, entrem em contato pelo WhatsApp de Celso Fortes(54) 99168-0384. Os dois destaques da turma receberão bolsas gratuitas para o ano de 2025 no coro.