Agentes de segurança da Capital do Vinho detalham a rota de fornecimento dos entorpecentes, meios mais comuns de venda atualmente e as dificuldades em desarticular o comércio ilegal

O tráfico de drogas em Bento Gonçalves é, atualmente, um dos principais crimes que vem ocupando as ocorrências do município. Segundo o delegado da 1ª Delegacia de Polícia Civil (DP) da Capital do Vinho, Renato Nobre, o delito sofreu uma alta em suas estatísticas em 2022. Facções e executores coordenam a rota e os caminhos de distribuição dos entorpecentes, de maneiras cada vez mais modernas, dificultando o serviço das forças de segurança.

Distribuição das drogas em Bento

Assim como em outras cidades, grupos de criminosos estabelecidos coordenam o tráfico em Bento. Nobre destaca que, hoje em dia, há dois principais bandos que disputam os pontos de comércio das drogas. Para realizar a repartição e a venda dos itens, as facções utilizam alguns meios, como a tele-entrega e a locação de domicílios somente para essa finalidade.

A forma mais comum de comercializar na Capital do Vinho, conforme explica o delegado, é a tele-entrega. “Normalmente, os chefes de facções contratam as mulas (indivíduos que entregam a droga), que geralmente são pessoas que já vem de uma comunidade pobre, não tem oportunidade de emprego e como é um dinheiro fácil de ganhar, acabam indo. Nesse meio percurso da entrega costuma ocorrer a abordagem da Brigada Militar ou da Polícia Civil, em caso de investigação. Às vezes, tem uns que já possuem antecedentes e outras é a primeira vez que acabam caindo”, detalha.

Outro meio de venda bastante utilizado na cidade é o tradicional ponto de tráfico. Desta vez, porém, está em alta a utilização de casas alugadas somente para este fim. Nobre esclarece que nesses locais os criminosos costumam colocar alguns móveis para disfarçar suas reais intenções. Os imóveis servem como verdadeiras lojas e são mais comumente encontrados no Juventude, São Roque e Conceição.

Apesar dos pontos não serem tão comuns quanto a tele-entrega, eles são dotados de um fator de reincidência, algo que prejudica o trabalho dos oficiais. “Recentemente aconteceu de tirarmos um ponto de tráfico e na mesma semana voltarem a traficar. Tiramos e apreendemos tudo, mas voltaram para a mesma casa, pois o local é destinado somente para isso. Nesses casos, a gente não tem a mesma autorização judicial para ir de novo, então temos que levantar informações, mostrar para o Ministério Público as provas e o juiz têm que conceder autorização. O difícil é chegar no dono do imóvel. Ninguém fala quem é e estamos tentando coletar informações sobre os proprietários desses locais”, conta.

Drogas mais comuns e seus usuários

Dentro de um cenário vasto de ilícitos, dois deles despontam como os mais comercializados em Bento Gonçalves: a maconha e cocaína. Nobre deixa claro que outros tipos de drogas sintéticas, como o LSD, MD, Sucesso, heroína, crack e lança-perfume não são comuns na cidade.

Levando em consideração as mais utilizadas, o público se divide em faixas etárias perceptíveis no trabalho policial. “A maconha em si atinge um certo público, normalmente jovens, de 16 aos 36 anos. A cocaína, por outro lado, tem um público um pouco mais velho. Isso envolve inúmeros fatores, pois a droga causa uma sensação de alegria para produzir mais, disfarçar alguns tipos de distúrbios mentais como depressão entre outros. Já a galera jovem usa a maconha mais no sentido recreativo”, define.

Dificuldades da investigação e apreensão

O tempo em que delegacias de polícia levam para executar uma prisão por tráfico pode variar bastante. Segundo o delegado, as vezes acontece de uma informação ser checada rapidamente e isso gerar um processo que se encerra no cárcere em apenas uma semana. Em outras ocasiões, o procedimento pode ultrapassar meses e até mesmo anos.

Ele destaca que a investigação e apreensão estão intimamente ligadas a amarras judiciais. “A polícia não tem uma carta branca de praticar os atos que deveria, pois tem todo um sistema legal. Os oficiais sabem que tem droga, quem entrega, tem todo o esquema, mas sempre precisa de um período judicial, a não ser em caso de flagrante. A maioria dos métodos investigativos requerem autorização judicial. Isso chega a ser um desafio porque precisaríamos ser imediatos em algumas operações, mas temos todo esse processo que envolve o Ministério Público”, justifica.

Somente neste ano, a 1ª DP executou 68 mandados de busca e apreensão, que resultaram em 44 detenções. Quando presos, os criminosos geralmente respondem em liberdade, pois a regra dentro do sistema punitivo atual é a liberdade e a exceção é a prisão. Por conta disso, eles costumam responder em liberdade. Esses empecilhos somados geram barreiras para o trabalho de segurança. “Os traficantes estão cada vez mais modernos, eles se adaptam, dificultam as operações, se desfazem das drogas e isso vai dificultando”, expõe.