Apesar da lista de espera ser extensa, país possui maior sistema público de transplantes do mundo
O Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo, sendo considerado referência sobre o assunto. Por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), os pacientes recebem assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia e acompanhamento pós-transplante. Segundo o Ministério da Saúde, o país é o segundo maior transplantador mundial, estando atrás apenas dos EUA.
O primeiro semestre de 2023 no país foi o melhor da história em relação ao número de doadores efetivos de órgãos. Entre janeiro e junho, foram 4.672 notificações de potenciais doadores, resultando em 1.338 doadores efetivos. Essas doações possibilitaram a realização de mais de 10 mil transplantes. Além disso, nesse mesmo período, o Brasil alcançou a maior porcentagem de aceitação familiar, chegando a 58%, ultrapassando os demais países da América Latina.
O Ministério da Saúde gerencia a lista de espera de transplantes, monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que é divulgada e atualizada diariamente em seu site. Atualmente, cerca de 60 mil pessoas aguardam por um órgão na fila de espera. Essa lista é única, tanto para pacientes da rede pública, quanto da rede privada, e possui alguns critérios de seleção. Conforme levantamento feito pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Paraná e Santa Catarina são os estados que mais têm doadores. A maioria deles são vítimas de AVC, homens, e tem entre 50 e 64 anos. Apenas 13% das doações ocorrem com pacientes acima dos 65 anos e mais de 40% são do tipo sanguíneo O.
Segundo a enfermeira responsável pela Comissão Intra Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Hospital Tacchini de Bento Gonçalves, Ana Turmina, os fatores que são levados em conta para determinar a ordem de pacientes a serem transplantados são tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e aspectos de gravidade distintos para cada órgão. “Quando os critérios técnicos são semelhantes, o padrão de desempate é a ordem cronológica de cadastro, ou seja, a ordem de chegada. Pacientes que estão em estado crítico se tornam prioridade, em razão das condições clínicas de saúde. Por isso, é feita uma avaliação minuciosa tanto do órgão doado, quanto dos possíveis receptores”, salienta. Ela ainda completa que, além disso, existem situações de extrema gravidade. “Que podem tornar um paciente prioridade na lista, como a impossibilidade total de acesso para diálise, insuficiência hepática aguda grave, necessidade de assistência circulatória e rejeição de órgãos recentemente transplantados”, esclarece.
Na maioria das vezes, o transplante de órgãos pode ser a única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para aqueles que precisam da doação. O gesto de familiares de um mesmo doador pode beneficiar várias pessoas e, todos os anos, milhares de vidas são salvas. “É importante manifestar a intenção de ser um doador de órgãos para sua família, pois são eles que vão decidir ou não por autorizar a retirada destes. É essencial entender que a lista não irá diminuir, mas precisamos reduzir o tempo e a mortalidade das pessoas que esperam em lista”, informa a enfermeira. É possível salvar até oito vidas diferentes a partir de um único doador falecido, podendo doar coração, rins, pulmões, pâncreas, fígado, córneas, intestino, pele, ossos e válvulas cardíacas.
Em 2022, o Hospital Tacchini enviou 12 rins, um pulmão, um coração, três fígados, dois pâncreas e 48 córneas para transplante. “O procedimento é feito em grandes centros, onde o paciente que recebe o órgão pode se recuperar. Aqui em Bento Gonçalves, geralmente vai a Porto Alegre, nos hospitais transplantadores. Porém, aqui no Tacchini fazemos implante de córnea e ossos”, complementa.
No Hospital São Roque, em Carlos Barbosa, a causa ganhou um novo impulso em 2019, quando a instituição obteve a habilitação para realizar transplantes de córneas. Desde então, já foram realizados 54 procedimentos bem-sucedidos, marcando um importante avanço na área da saúde regional. Cada procedimento representa não apenas um ato cirúrgico, mas também a restauração da esperança e da independência para essas pessoas.
Cabe lembrar que o Hospital Tacchini realiza apenas a enucleação das córneas, enquanto o Hospital São Roque realiza, além da enucleação, também o transplante. No caso de doações múltiplas, o procedimento não é realizado internamente em nenhum dos hospitais. Quem realiza a retirada é a equipe do hospital que vai executar o transplante no paciente que aguarda o órgão.