Apesar de uma pessoa não conseguir ficar feliz o tempo todo, levar a vida de forma mais leve pode contribuir para manter-se saudável

Depois de um dia de trabalho intenso, com estresse e resolução de problemas, quem nunca sentiu uma tensão nos ombros e pescoço, ou mesmo uma dor de cabeça incômoda? Esses são apenas alguns dos sintomas que ligam saúde mental e física, fatores que têm relação direta com o bom ou o mau humor.

Segundo o psiquiatra do Hospital Tacchini, Fabrício Grasselli, pesquisas recentes revelam que o bom humor não é só um ótimo ingrediente para manutenção de uma boa saúde mental, como também para a física. “Tenho percebido um aumento expressivo de pessoas no meu consultório, relatando sintomas como: dor de cabeça, dores musculares, de estômago, entre outros sintomas que refletem o que ocorre com o emocional, sem falar em insônia, falta de ânimo, tristeza, apatia e outras avalanches de sentimentos que interferem no humor e, consequentemente, na saúde mental”, destaca.

Grasselli pontua que não se consegue manter o bom humor o tempo inteiro, mas que pessoas bem-humoradas conseguem responder melhor diante das situações adversas da vida. “Não podemos esquecer ainda, que alguns, mesmo que queiram, não conseguem administrar o humor, porque sofrem de doenças que causam oscilações significativas, e que necessitam de acompanhamento médico especializado e, na maioria das vezes, o uso de medicamentos para auxiliar neste processo”, sublinha.

Apesar disso, o médico afirma que é necessário entender o que causa os picos de estresse. “O humor está intrinsicamente ligado ao estresse. Penso que, ao longo do dia, todos possuímos oscilações, o que é absolutamente normal. Não temos como estar felizes o tempo todo, mesmo porque, várias situações podem ocorrer em nossas vidas, as quais não temos o total controle”, realça.

O psiquiatra cita uma analogia feira no livro “Emocionário”, de Renato e Marina Caminha. “Os mesmos descrevem que somos como um barquinho, onde as ondas são representadas pelas emoções. Elas agitam, temos emoções agradáveis ou não de sentir, é claro que as desagradáveis vão sacudir o barquinho, causar estresse, mas logo ele voltará ao normal. O preocupante é quando o barquinho não retorna ao normal, aí sim, pode causar várias doenças, entre elas: depressão. Para ficar mais claro vou citar um exemplo: a morte de alguém muito querido vai sacudir nosso barquinho, passaremos por dias de muita tristeza. O problema é que se ela não passar, a pessoa vai perdendo, aos poucos, a alegria de viver e é o caminho perfeito para a depressão, e, com ela, vários problemas, inclusive físicos”, explica.

O acúmulo de estresse pode ser a receita perfeita para baixar a imunidade. “Da mesma forma que não conseguimos estar sempre bem-humorados, não temos como fugir de situações que geram estresse. É importante refletirmos sobre a função do estresse em nossa vida, ele serve para sinalizar que algo está errado. Se prestarmos atenção para este sinal, conseguiremos resolver o problema, antes que nos cause mais. Ficar estressado o tempo inteiro tem relação direta com a má regulação emocional, ela se torna responsável por inúmeros problemas orgânicos, entre eles a baixa imunidade”, pondera Grasselli.

Como amenizar os picos de estresse?

Em primeiro lugar, é necessário identificar os motivos de se estar estressado. “Dependendo da situação, será necessário buscar ajuda profissional. Em outros casos, algumas mudanças no estilo de vida podem ajudar a controlar, como: alimentação saudável, exercícios físicos, dormir bem, reservar um momento para fazer o que gosta; Além disso, ter o amparo da família nos deixa mais seguros, relacionamentos amorosos saudáveis, uma boa rede de amizades, alimentar bons pensamentos, definir objetivos em nossa vida, a religião. Tudo isso são fortes aliados”, aconselha o médico.

Por fim, Grasselli o ser humano é sustentado por várias bases, representadas pela família, relação amorosa, amizades, o trabalho, a religião. “Tudo isso nos sustenta, se estivermos fortalecidos em cada um desses pilares, quando um deles cair por qualquer motivo, os demais darão o suporte necessário até que se reconstrua ou repare o pilar que caiu”, conclui.

Rir é o melhor remédio?

O dito popular “rir é o melhor remédio” faz sentido. Ele não pode, entretanto, ser levado ao pé da letra. “Não posso receitar, por exemplo, para um paciente que está com pedras nos rins: ‘rir’. Também não posso receitar para quem sofre de transtorno bipolar: ‘rir’. Ou seja, sabemos que questões hormonais, químicas, genéticas, entre outras, são responsáveis por uma série de problemas emocionais, então, nem sempre ‘rir é o melhor remédio’. Mas com certeza, pensar positivamente, aprender a regular as emoções, aprender a identificar o que está causando o estresse, pode contribuir para uma vida mais saudável e feliz”, frisa.

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