Ele começou, bem jovem, como decorador, exclusivo, da Casa Koff. Willy gostava muito dele e nós íamos ver nas vitrines a criatividade fantástica. Willy, grande líder, comunitário e político, semeou na veia de Jovino, o gosto pela política. E assim se fez. O jovem decorador de origem humilde lá do Barracão, se elegeu vereador. Acabou sendo Secretário de Turismo na gestão Fortunato Rizzardo, cargo que ocupou com desenvoltura utilizando seus atributos de criatividade, relacionamentos e gosto pela poesia e arte. Fenavinho estava em crise, Jovino topou a parada e fez três festas, sem muito dinheiro mas com criatividade resgatou os hábitos e a tradição de nossos descendentes, esse espólio positivo foi todo jogado de lado, a Festa da Uva aproveitou e nós ficamos com PARENTINS.

A Fenavinho está voltando e Jovino se foi. Quando já estava afastado da vida pública, Jovino foi convocado para coordenar a campanha de Maria Tereza Rizzardo para a Prefeitura. Perderam a eleição para Alcindo Gabrielli por pouco mais de 240 votos, ele foi competente a exceção de ter concordado com dois fatos que conspiraram: a vinda de grupo de esquerda oriundo do polo Petroquímico que agitaram a Saldanha Marinho semeando medo e selando os cadeados das empresas comerciais, tentando impedir o acesso na manhã seguinte e, também, o fato de Fortunatto ter acompanhado Maria Tereza como linha de frente na campanha o que não era nada conveniente na época. Bem mais adiante Jovino foi, convocado por Darcy Pozza, foi Membro da Coordenação de Campanha eleitoral de Pasin, para vencer Lunelli, tendo ao lado César Gabbardo e Darcy Pozza. Embora se reconheça o poder de fogo dessa Coordenadoria, pode-se arriscar dizendo que Lunelli perdeu para ele mesmo, a vitória de Pasin foi um somatório de detalhes mínimos mas que o conduziram a vitória. Pasin, eleito, compromissado com Jovino, deu-lhe a Secretaria de Cultura, embora Jovino quisesse a Secretaria de Turismo.

A Secretaria de Cultura está sendo muito bem conduzida agora, no entanto, com Jovino, embora algumas criatividades importantes, não funcionou por falta de operacionalidade e mais trabalho de equipe. Seguiu-se ai um desgaste pois Jovino militava muito lá pela municipalidade onde, antes da Cultura, exercera a Secretaria de Governo. Pasin cansou de ti-ti-ti, mal entendidos, falta de harmonia de equipe e entre as providências que tomou, afastou Jovino do exercício de cargo em sua gestão. Rompeu-se um vínculo afetivo sem quebra do respeito e admiração mútua. A paz voltou ao Palácio Municipal com as providências tomadas pelo Prefeito, sem culpa exclusiva a Jovino, que voltou a suas atividades de jornalista, radialista e escritor, com incursões e assessorias. Ao deixar a vida pública, Jovino recolheu-se à meditação e ao recolhimento espiritual.

É bem possível que um estado depressivo, decorrente de problemas familiares (quem não os tem?) e afastamento da vida pública , tenham contribuído para que doença grave o atacasse, contra a qual lutou bravamente, e o levasse. Assim como Moysés Michelon que implantou e presidiu a 1ª Fenavinho e estava ativamente empenhado na sua volta, Jovino também defendia ideias, fazia críticas construtivas em defesa da volta da festa pela qual tanto lutou e estava habilitado a contribuir, com sua criatividade e talento, para o sucesso do evento. Foi-se embora de nosso meio mais um pensador, um homem de ideias, de criatividade, de opinião firme, por vezes cáustica, mas cujo trabalho, inclusive resplandeceu no Rainha da Indústria e Comércio do RS, que contou com o trabalho eivado de efeitos especiais, de planejamento, dignos de um espetáculo de Broadway. Recentemente assistimos, no Rio, ao espetáculo A NOVIÇA REBELDE, no Centro Cultural da Tijuca, cheio de efeitos especiais, possível graças a Lei de Incentivo a Cultura.

Aí Jovino veio a mente, ele fazia tudo aquilo com pouco dinheiro, com aproveitamento e reciclagem de materiais. Considerando que Bento é uma cidade que não vê com bons olhos, salvo melhor juízo, gente de opinião firme, do contraditório e que aos nossos líderes, excelentes líderes, seria preciso mais coragem e pró-atividade no exercício dos cargos. Pessoas como Jovino, polêmico, contraditório, porem realizador e competente, vão nos fazer muita falta. Quem vai um dia esquecer pessoas como Moysés Michelon, que construiu o império da Isabela e a beleza ecológica Villa Michelon, conduzindo, paralelamente, uma atividade comunitária exemplar? Jovino era um filhote, por vezes uma ovelha desgarrada, mas um filhote que, como nós, amava o paizão Moysés. Com seu casaco preferido, gravata da padronagem da roupa, nó e camisa impecável, lá estava Jovino recebendo o adeus de familiares e amigos. Adeus.

Texto: Henrique Alfredo Caprara.