Com acervo de 26 mil obras, projetos como o Balaio da Saúde, o Sarau Cultural e o Troca de Livros mostram que a leitura vai além dos livros

Criada em 1940, a Biblioteca Pública Castro Alves é mais do que um acervo literário. É um espaço pulsante de convivência, aprendizado e inclusão. Ao longo dos anos, soube se reinventar sem perder sua essência: promover o acesso ao conhecimento e valorizar a cultura local. Em entrevista, a bibliotecária Paula Porto compartilhou detalhes dessa trajetória e as múltiplas dimensões que a biblioteca ocupa hoje na vida da comunidade bento-gonçalvense.

Uma história de mais de 80 anos

A biblioteca foi instituída por meio do Decreto-Lei nº 16, de 20 de agosto de 1940, durante a gestão do então prefeito João Mário de Almeida Dêntice, tendo como primeiro diretor, o Tenente Brasilino de Araújo. Em seus primeiros anos, funcionava no prédio da Prefeitura, com estrutura modesta. Um dos marcos mais significativos veio em 1985, quando passou a realizar anualmente a Feira Municipal do Livro, tradição que fortaleceu seu papel no cenário cultural local.

Desde então, o espaço só cresceu — em estrutura, acervo e impacto na vida da cidade.

Acervo robusto e cuidadosamente mantido

Atualmente, a Biblioteca Castro Alves possui cerca de 26.300 livros catalogados. A renovação do acervo ocorre principalmente por meio da contrapartida das livrarias que participam da Feira do Livro (com valor de R$1.000,00 cada) e por meio de generosas doações da comunidade.

Todas as obras doadas passam por uma curadoria criteriosa. “Priorizamos a incorporação ao acervo permanente, mas quando já possuímos o título, ele pode ser destinado aos nossos projetos. Materiais com conteúdo desatualizado, danos excessivos, rasgos, mofo ou riscos são descartados”, explica Paula.
O acervo contempla diferentes faixas etárias e interesses — da literatura infantil a obras técnicas — e também inclui livros em braile, reforçando o compromisso com a acessibilidade.

Espaço plural e cada vez mais frequentado

Como biblioteca pública, o espaço é aberto a todos. “O perfil dos usuários é bastante diversificado. Atendemos desde crianças em idade pré-escolar até idosos que procuram leitura, lazer e convivência”, afirma Paula. Segundo ela, o número de frequentadores tem crescido, especialmente entre jovens e famílias. Isso é reflexo direto das ações de incentivo à leitura, da reestruturação dos ambientes e da ampliação da programação cultural.

Para o público infantil, a biblioteca promove sessões de contação de histórias em um ambiente lúdico e acolhedor. Já os adolescentes participam de gincanas literárias criativas, que estimulam o hábito da leitura de forma leve e interativa. A terceira idade também é contemplada: jogos de carteado são oferecidos regularmente, reforçando o papel da biblioteca como um espaço de convivência social e bem-estar.

Projetos que ultrapassam os muros da biblioteca

Desde 2010, a Biblioteca Castro Alves mantém dois projetos que ampliam seu alcance na comunidade. O Balaio da Saúde Literária leva cerca de 30 livros a 22 postos de saúde da cidade, renovando os exemplares a cada três meses. “É uma forma de descentralizar a cultura e fazer a leitura chegar a lugares inesperados, como salas de espera de unidades de saúde”, explica Paula.

Outro destaque é o Troca de Livros, espaço fixo com aproximadamente 3.000 títulos de diferentes gêneros literários, disponível para livre intercâmbio entre os leitores.

Sarau Artístico-Cultural

No dia 26 de abril, a rua em frente à Biblioteca Pública Castro Alves, no centro de Bento Gonçalves, vai se transformar em um grande palco de arte, cultura e literatura. O Sarau Artístico-Cultural, promovido pela instituição, contará com apresentações musicais, feira de artesanato, contação de histórias, exposição temática e food trucks. Mas o que poucos percebem é que esse movimento — de transformar palavras em encontros e livros em pontes — já vem acontecendo há mais de oito décadas. A programação inclui:

  • Feira de artesanato com a Casa do Artesão e a Associação dos Artistas Plásticos de Bento Gonçalves;
  • Exposição em parceria com o Museu do Imigrante;
  • Comercialização de livros e visitas guiadas;
  • Espaço gastronômico com food trucks e beer trucks;

Palco principal (com interdição parcial da via):

  • 16h – Voz e violão com Jai Trivelin;
  • 17h – Contação de histórias “Nanquinote”, com Destemperados Produções Culturais;
  • 18h – “Um morto-vivo conta Érico”, com Damiel Brocker;
  • 18h30 – Música instrumental com Jean Paul Deitos e leituras de Érico Veríssimo por autores locais;
  • 19h30 – Intervenção cultural com o CTG Laço Velho;
  • 20h45 – Apresentação musical com Farina Brothers Trio.

Integração com escolas e instituições

A biblioteca mantém uma forte articulação com a rede municipal de ensino. Por meio de agendamento e com apoio da Secretaria Municipal de Educação (SMED), estudantes realizam visitas guiadas, participam de mediação de leitura e contação de histórias, conhecendo a biblioteca como um espaço educativo e cultural.

Espaço acolhedor e funcional

Sem reformas estruturais recentes, a biblioteca passou por uma reorganização interna que otimizou o uso dos ambientes. Conta hoje com três salas de estudo, salas dedicadas ao acervo infantil e juvenil, uma sacada de leitura e rede Wi-Fi gratuita. Grupos de alunos costumam se reunir com notebooks para realizar trabalhos escolares, aproveitando tanto a estrutura física quanto a conectividade.

Modernização e presença digital

A biblioteca está conectada com a tecnologia. Os usuários podem acessar o catálogo online pelo site biblioteca.bentogoncalves.rs.gov.br, onde é possível fazer reservas e renovações. A presença nas redes sociais, especialmente no Instagram e no WhatsApp, também tem aproximado a instituição do público. “Muitas pessoas chegam até nós depois de verem um livro em uma postagem”, conta Paula.

A Biblioteca Pública Castro Alves funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, sem fechar ao meio-dia. No primeiro sábado de cada mês, o atendimento ocorre das 9h às 12h.

Fotos: Elisa Lentes