Desde 2020, mesmo com o cenário de instabilidade econômica que se alastrou pelo país, devido a pandemia do coronavírus, o número de novos empreendedores vem batendo recordes no Brasil. Em Bento Gonçalves, o cenário não é diferente. Ano passado, o município registrou 2.114 novas empresas. Este ano, até o dia dez de novembro, já são 2.387 novos negócios, ou seja, crescimento de 12,91%, mesmo em menor período.

Impulsionada, principalmente pela crise, a população está buscando na atividade empreendedora, uma alternativa de renda. De acordo com a secretária de Desenvolvimento Econômico, Milena Bassani, as novas portas abertas, além de tudo, geram empregos. “São empresas de todos os portes e segmentos, onde, por exemplo, um prestador de serviço acaba formalizando sua condição como empregador e, por outras vezes, se tratam de indústrias, cujo número de empregados pode variar de 1 a 150”, afirma.

O setor que está liderando a abertura de novos negócios é o de comércio e serviços, pois, segundo Milena, representa o maior número de inscrições municipais. Além disso, também são puxados pelo crescimento da demanda existente no mercado.

Um exemplo de empreendimento que abriu as portas neste período é a Rede Clip, que inaugurou a unidade de Bento Gonçalves em julho. Mesmo com as lojas contando com mais de 45 anos de atuação no mercado, a responsável pelo marketing, Michele Liguicamam, conta que existiu receio de abrir o negócio, devido a pandemia.

Apesar do medo, a aposta está dando certo. Michele relata que a rede conta com suporte para a implantação de novas unidades e destaca que a cidade foi muito acolhedora. “Estamos muito felizes com a receptividade, o carinho e o retorno que temos recebido dos clientes e amigos. Tem sido, sem dúvida, um desafio a cada dia, mas todo esforço está sendo recompensado”, garante.

Questionada sobre qual a perspectiva para o ano que vem, a profissional afirma que a melhor possível. “Com o progresso da vacinação e a normalização da rotina nas tarefas do dia a dia, como volta às aulas e trabalhos presenciais, esperamos aumento nas vendas”, projeta.

Outro empreendimento que abriu as portas este ano é a Hortifruti da Família, inaugurada em julho. Embora o local trabalhe com 95% de mão de obra familiar, também gerou empregos, pois conta com dois colaboradores.

O empresário Deonir Dal Lago Marin conta que ter um mercado e fruteira era um sonho da família, por isso, apesar do medo, não desistiram de realizar. “No começo a gente fica com receio, pois a situação dessa pandemia deixou todo o mundo com medo, mas nem por isso abaixamos a cabeça. Seguimos em frente, pois temos que lutar para conseguir o que queremos”, afirma.

Com muito amor envolvido pelo que fazem diariamente, Marin conta que apesar de estarem inseridos em novo ramo, conseguiram se adaptar bem. “Sempre estamos fazendo o possível e o melhor para atender todos nossos clientes com dedicação”, garante.

Para 2022, a família acredita que será um ano ainda mais positivo. “Que no próximo ano que está por vir, conseguimos alcançar tudo que desejamos e sonhamos, que sejamos capazes de surpreender cada vez mais nossos clientes e amigos. Em 2022, prometa menos e surpreenda mais”, conclui.

O que diz o Sindilojas

Na avalição do presidente do Sindilojas Regional Bento Gonçalves, Daniel Amadio, esse segmento cresce, mesmo em meio a pandemia, devido aos postos de trabalhos que foram fechados, onde o colaborador, munido da indenização, busca empreender. “Como já vinha com formação e conhecimento em algum produto ou serviço, procura se recolocar no mercado de trabalho, buscando as vantagens de empreender, como flexibilização, oportunidade de crescimento financeiro, ser dono do seu negócio entre outras vantagens”, analisa.

Contudo, Amadio explica que, em muitas situações, não é levado em consideração o planejamento necessário para que haja maior êxito no empreendedorismo. “Seja ele administrativos ou mercadológico. Assim, a vida da empresa encurta e muitos negócios nesse período fecham”, aponta.

Por isso, o presidente ressalta que planejar, ter conhecimento do negócio e buscar experiencias semelhantes para dar informações necessárias é fundamental. “Não esquecendo que temos muitas assessorias que podem colaborar, como entidades de classe, formação técnica como o SENAC e consultorias como o SEBRAE, que podem ajudar muito e, as vezes, de forma gratuita”, indica.

Porém, não para por aí, Amadio acrescenta que depois de todo embasamento do projeto, também é importante muito trabalho, dedicação e amor pelo negócio. “Acredito que dessa maneira o risco de vida curta, diminui consideravelmente”, afirma.

O que diz o CDL

Na visão do presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Bento Gonçalves, Marcos Carbone, esse cenário de avanço no número de novos empreendimentos é devido ao município ter vocação empreendedora. “Com aptidão para fomentar novas oportunidades – fator que, certamente, responde por esse movimento permanente de abertura de negócios”, afirma.

Para Carbone, o comércio, segmento que mais cresce, é rico em potencial. “O que torna, não só possível, mas especialmente convidativo, investir em propostas diferenciadas e conquistar espaço junto ao público”, analisa.

Considerando que o atual contexto é de recuperação, o profissional acredita que 2022 será ano de consolidação dessa caminhada. “As oportunidades de crescimento e expansão estão sempre acessíveis para negócios inovadores, que investem em diferenciação, produtos de qualidade e, sobretudo, excelência no atendimento. Para o comércio, essa combinação é essencial e capaz de garantir a consecução de bons resultados”, alerta.

Para quem deseja seguir no caminho do empreendedorismo, Carbone salienta a importância do planejamento. “Caso contrário, as boas intenções correm riscos de se transformarem em frustração, após o ingresso no mercado”, afirma.

Carbone também alerta que é preciso ter conhecimento do produto/serviço que se pretende oferecer. “Entender o perfil do consumidor, atentar para a concorrência, qualificar equipe para o atendimento e, sobretudo, estar preparado para trabalhar muito. Uma dica é buscar o amparo de entidades representativas, como é o caso da Câmara de Dirigentes Lojistas de Bento Gonçalves, que oferece suporte, ferramentas e facilidades para as empresas do setor”, finaliza.

Menos empresas fechando

O número de empreendimentos que encerra as atividades em Bento Gonçalves vem diminuindo a cada ano. Em 2019, por exemplo, 992 empresas fecharam as portas, enquanto no ano passado, 856 negócios deixaram de atuar, representando queda de 13,70%. Este ano, até o momento, foram 675 empresas fechadas, número que em comparação com 2020, corresponde a uma redução de 21,14%.