Mais de 30 produções foram gravadas em Bento, de longas, e curtas, novelas e comerciais. A localidade é bastante cotada por suas belas paisagens e história
A beleza de Bento Gonçalves, para muitos, é sem igual. Turistas vêm do mundo todo para apreciar as montanhas entre as nuvens, as parreiras e os vales no estilo italiano. Justamente por isso, o município é cotado para diversos projetos audiovisuais, que passam por filmes, documentários, novelas e até mesmo comerciais. A região já foi cenário de mais de 30 produções. Filmes premiados também fazem parte dessa lista, como “O Quatrilho”, de 1995 e “Saneamento Básico” de 2007. Essas produções ficaram marcadas na mente de quem assistiu e daqueles que vivem no cenário escolhido.
Evandro Soares, Secretário de Cultura de Bento Gonçalves, explica que, através de recursos da Lei Paulo Gustavo, diversos projetos audiovisuais serão contemplados na cidade. “Os recursos oriundos foram aplicados através de editais que ainda estão cumprindo o cronograma. Em relação à produção audiovisual, foram contemplados proponentes em quatro produções de média-metragem, com um investimento individual de R$ 80 mil totalizando R$ 320 mil; três produções de curta-metragem, no valor de R$ 40 mil,;somando R$ 120 mil; e seis produções de videoclipe e outras produções audiovisuais, com um valor individual de R$ 20.988,61, somando um total de R$ 125.931,66. Dessas, duas são videoarte e as demais são videoclipes”, conta.
Para ele, é emocionante ver o município nas telas, sendo sempre elogiado por sua bela vista. “Bento Gonçalves é uma cidade pujante e bela, pelas suas paisagens naturais, pela sua história, e tantos outros valores. A escolha por Bento para ser cenário desses filmes sempre valoriza nossa cultura e nossa comunidade, seja ela da zona urbana ou rural, assim como projeta o nome da nossa cidade nacional e internacionalmente”, relata.
Dentro da Secretaria de Cultura está a Bento Film Commission, responsável pela parte cinematográfica da cidade. “Temos em nosso município a Bento Film Commission, que tem como uma de suas competências captar e dar suporte à realização de produções cinematográficas, trabalhando diretamente junto ao trade turístico para estabelecer parcerias que possam viabilizar e receber as equipes de filmagens, servindo como facilitadora e articuladora para que a produção se realize, informando ainda sobre possíveis locações, fornecedores, entre outros”, relata.
Soares conclui que a produção de filmes no município é bastante incentivada pelo poder municipal, porque, além de engrandecer as localidades, é uma forma de aproximar mais turistas da região. “Representa um incremento e ganho na divulgação de nossa cidade muito grande, muito importante para a promoção do nosso turismo”, finaliza.
“O que me inspira são as histórias”
Gustavo Bottega é jornalista, fotógrafo, filmmaker, diretor e produtor audiovisual, além de sócio da Vagão Filmes. Já produziu entre longas, curtas e documentários, quatro produções, todas utilizando Bento Gonçalves como cenário principal. O jovem conta como foi sua trajetória por trás das câmeras. “Desde criança gostava muito de cinema, ficava imaginando como eram feitos os filmes e achava fascinante. Quando me formei em jornalismo, me aproximei mais dessa área nas disciplinas de produção de audiovisual, quando a turma fez um curta de terror e atuei como protagonista, um artista assassino que matava as vítimas e depois as pintava mortas (risos). Aí veio a faísca. Mas demorei para fazer meu primeiro filme. Dediquei-me à música, toquei em várias bandas, trabalhei com esporte, assessoria de imprensa e cobertura de eventos. Fiz muitos freelas aleatórios, até cobertura de velório!”, ressalta.
Seu primeiro filme completa dez anos, um documentário sobre os tradicionais bailes de Bento Gonçalves da década de 60. “Depois de várias aventuras, o primeiro filme veio só em 2014 com o documentário Os Reis do Chá Chá Chá. Abri uma produtora ao lado do meu amigo de infância André Cavalini. Juntos, fizemos outros três documentários e um curta. E seguimos até hoje, atuando em filmes publicitários e corporativos, focando mais em storytelling. O meu negócio mesmo é contar histórias de vida”, alega.
Bottega acredita que o que faz Bento ser uma atração para os produtores é o ambiente cinematográfico. “Acredito que o que traz as produções para cá são certamente as paisagens, a arquitetura, a cultura italiana, o clima e, claro, as pessoas que fazem acontecer. O crescimento do turismo local ajudou bastante no processo, atraindo cineastas de todo o país”, elenca.
Para ele, Bento Gonçalves o cativa a ter ideias e fazer novas criações. “O que me inspira são as histórias. Em todo trabalho audiovisual, entrevisto as pessoas e todas têm uma história pra contar. Ao fazer um filme, mesmo no setor empresarial, tento sempre mostrar o lado humano que está por trás das máquinas. Aqui em Bento as pessoas têm muito orgulho do seu trabalho e da sua cidade. Já pensei em sair de Bento várias vezes, mas gosto da nossa cidade e sinto que aqui tem muitas histórias de vida para serem contadas”, alega.
Uma de suas produções foi para o lado sobrenatural e utilizou o município como plano de fundo, mais precisamente a Linha Jansen. “Em 2017, a produtora fez Latíbulo, idealizada por mim e meu amigo Giovani Zaffari, que nada mais era que um sonho antigo de garotos, quando éramos fãs desse gênero. Mesmo com poucos recursos, a produção ganhou muitos elogios e conquistou três prêmios no CineSerra, realizado em Caxias do Sul. Foi uma experiência muito legal mesmo”, destaca.
Bento e o audiovisual
Para Bottega, a cidade oferece muitas oportunidades aos novos e antigos produtores, e sempre aparecem projetos interessantes para serem gravados na cidade. “Sempre surgem iniciativas de uma forma ou de outra, embora precisemos de mais incentivos. Eu, por exemplo, participei de uma oficina de cinema na Casa das Artes que me ajudou bastante na carreira. Mas tem muita gente autodidata também que aprende na internet. Quando abre edital do Fundo de Cultura ou da Lei Paulo Gustavo, sempre surgem projetos bem legais de audiovisual, clipes de bandas, enfim, tem uma galera que se esforça para produzir material. Mas acredito que Bento carece de um núcleo de cinema e de uma atuação mais enérgica do Bento Convention, para dar suporte aos cineastas locais, e não só para as produções de fora”, finaliza.