Ao realizar o autoexame, Daiana descobriu a doença; ela permanece em tratamento e acredita que logo vai estar curada
Cuidadosa e preocupada com a sua saúde. É assim que Daiana Ribeiro de Souza, 32 anos, moradora de Bento Gonçalves se descreve, quando questionada sobre o surgimento de um câncer de mama e a rapidez na procura por tratamento médico. Mesmo não estando preparada para receber a notícia, Daiana não sentencia o fim das possibilidades. Ela garante que esse episódio lhe rendeu aprendizado e uma nova visão de mundo.
Durante a entrevista, realizada na sede da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, na quarta-feira, 10, Daiana, que trabalhava como babá antes de iniciar o tratamento, escolheu o local bastante calmo para o ponto de encontro. Sem deixar a vaidade de lado, com um turbante na cabeça, suave maquiagem no rosto e um olhar sereno, a bento-gonçalvense iniciou a conversa onde abriu o seu coração para falar sobre o pior momento da sua vida: a batalha contra um carcinoma na mama, detectado em março e que oportunizou muitas lições a partir dessa experiência. “Eu já tinha um nódulo benigno em uma das mamas que acabou crescendo. Notei assim que realizei o autoexame. Fui ao médico e recebi o diagnóstico da doença. Foi aí que o mundo caiu”, lembra.
Naquele momento, Daiana pensou que seria o início do fim, já que outras pessoas de seu convívio passaram pela mesma situação e não obtiveram êxito na batalha.
Tratamento aliado a fé
Após as lágrimas e o recebimento da notícia, Daiana realizou a cirurgia de retirada das mamas em julho e na sequência, inicou o tratamento quimioterápico, dividido em quatro sessões que lhe ocasionavam mal estar e a queda de cabelo, efeitos colaterais mais comuns para quem passa pelo tratamento. Porém, buscava serenidade para enfrentar a doença. “Você precisa tentar esquecer, se ocupar, que aí a dor parece que passa. É erguer a cabeça, ter força e seguir em frente”, afirma.
Mas nem todo o pensamento positivo expressado por Daiana durante o tratamento foi suficiente para que o abatimento não surgisse. Emocionada, ela lembra que por diversas ocasiões pensou em desistir da luta, principalmente quando soube que perderia os seus cabelos. “Falei para o médico que não iria fazer as quimios caso meus cabelos caíssem”, conta. Naquele momento, ela lembra que o seu namorado minimizou a situação, dizendo que esse seria o menor dos problemas. “Ele falou que isso não seria nada, que não mudaria nada entre a gente”, relata. “Se eu perdi o cabelo, uso uma peruca. Isso é o de menos. Passei pela pior situação da minha vida, quando precisei retirar as mamas. Tive infecção, fiquel mal. Foi aí que eu ergui a cabeça. Decidi lutar pela minha vida”, lembra.
A doença, segundo Daiana, resultou em momentos de muita reflexão. Ela passou a prestar mais atenção nos pequenos detalhes e em algumas atitudes que costumeiramente praticava. Entre elas, a fé, apegando-se mais à religião, que considera essencial para permanecer firme no tratamento. Católica e devota de Nossa Senhora Aparecida, a moça garante que a religiosidade foi uma das grandes responsáveis pela sua recuperação. “Foi através da oração que me mantive forte. Hoje eu rezo e vou à missa bem mais. Quando volto da igreja me sinto mais leve”, garante.
Uso das perucas da Liga
Daiana acredita que o uso da peruca melhora a autoestima da mulher. Bem-humorada, ela afirma que com ou sem cabelo, a sua beleza sempre é ressaltada. No entanto, ainda hoje, sua maior preocupação é com o que as pessoas que estão ao seu redor pensem ao vê-la sem os cabelos. “Eu me acho bonita careca. O problema mesmo é o que os outros acham quando te enxergam sem o cabelo. Você é sentenciada de morte, porque ao estar nessa situação, a primeira impressão que as pessoas tiram é de que você está mal, pronta para morrer. E não é
assim”, desabafa.
Em um episódio, Daiana conta que ao chegar na casa de sua mãe sem os cabelos, a reação foi impactante. “Ela, naquele momento, não aceitou. Disse que eu iria ter pouco tempo de vida. Meus irmãos também. Nem explicando todos os avanços da medicina, e que isso seria normal acontecer, meus familiares ficaram desesperados naquele momento”, lembra. “Minha mãe duvidou do que eu disse, por ter passado por uma situação parecida, quando meu pai teve a doença e não sobreviveu. Mas hoje são outros tempos. Tudo evoluiu”, garante. “A sociedade olha o paciente com câncer apenas por fora e esquecem de buscar o nosso interior”, enfatiza.
Atualmente, a jovem utiliza a peruca do banco que a Liga de Combate ao Câncer de Bento disponibiliza aos pacientes acometidos pela doença, quando sai para restaurantes, locais públicos, a fim de não chamar a atenção por causa da doença. “Ela (a peruca), nos proporciona elevação da nossa autoestima e faz com que a gente não seja o centro das atenções. Mas quando eu vou ao médico, não utilizo nada. As vezes um lenço”, conta.
Hoje, Daiana é uma incentivadora das ações que a Liga realiza. “Tudo o que eu precisei, entre medicações e apoio psicológico, a Liga foi a minha segunda família. Hoje eu busco auxiliar a entidade da maneira que eu consigo, incentivando as pessoas a doarem e conhecerem esse trabalho que é realizado”, reforça.
Prevenção e vida saudável
Ressignificar a vida após o adoecimento é bastante comum entre pacientes com câncer. Entender o significado da doença e praticar o autoexame são ferramentas essenciais para que as pessoas consigam o fortalecimento necessário para enfrentar outras dificuldades na vida. Daiana ressalta a importância do autoexame e acredita que se não realizasse o toque com periodicidade, certamente a doença poderia ter tomado grandes proporções nocivas, talvez, impossíveis de serem revertidas. “O câncer é muito rápido. Ele se espalha muito fácil. Hoje, você pode ter na mama, amanhã no útero, pulmão e por aí vai. Você precisa estar atenta o tempo todo com mudanças e alterações no seu corpo ou sintomas que você não sentia e agora sente. E isso deve ocorrer independente de idade. Hoje, o câncer não escolhe só pessoas mais velhas. Cada vez mais, mulheres jovens estão sendo diagnosticadas com esse problema. A prevenção é a solução”, garante.
Mesmo em tratamento, Daiana não deixou de buscar uma vida saudável, seja na alimentação ou na prática de exercícios físicos, como as caminhadas. Amante do futebol, ela não vê a hora de estar liberada pelos médicos para voltar à ativa. “Eu tento manter uma rotina. Eu tinha uma vida movimentada antes da doença. Hoje, se eu ficar parada, você acha que vou chegar no final do ano como? Acabada!”, afirma aos risos.
Projetos Futuros
Ansiosa, projeta o futuro, aguardando o momento em que poderá colocar as próteses mamárias, que, segundo ela, proporcionarão maior autoconfiança, além, é claro, do crescimento dos cabelos. Outro desejo é poder viajar, conhecer novos lugares. “A meta, minha e do meu namorado, é que em 2019 façamos uma viagem. Eu nunca saí daqui da região. Quero conhecer locais diferentes”, espera.
Indagada sobre quais conselhos daria para pacientes que estão enfrentando a doença, Daiana afirma que é preciso seguir em frente, com otimismo, vivendo um dia após o outro, com força de vontade. “Tendo fé, a gente vai muito longe”, garante. “Com tristeza no coração, a gente não vai conseguir vencer”, finaliza.