Lar de famílias há mais de meio século, a região está crescendo comercialmente, porém, sempre mantendo a tranquilidade

Em mais de 50 anos, o bairro Licorsul teve um grande crescimento com a construção novas ruas, escolas, indústrias, a igreja, a praça, o salão comunitário, entre outros. As estradas de chão foram transformando-se em calçadas e as vegetações saíram para o surgimento de casas, pessoas e famílias.

Um passado feliz

Uma das primeiras residências, construída por Delvino Giusti em 1967, é a do eletricista Antônio Alceu Rizzardo, 53 anos. Ele recorda o dia a dia de quando era criança nos anos 1970. “De meus tempos de infância, lembro-me dos jogos de futebol onde hoje existe o salão, de correr pelas ruas com galhos verdes para levantar poeira na estrada de chão, das corridas de carrinho de lomba, de jogar bolita e taco, de pular em poças de água, entre outras brincadeiras que vivíamos fazendo, sendo que muitas delas deixavam os vizinhos de cabelo em pé”, relata.

O que mais lhe agrada na localidade e os motivos dele aconselhar as pessoas a morarem no Licorsul é por ele ser completo, com mercados, farmácias, posto de saúde, padarias, lojas de materiais de construção, pet shop, lojas de utilidades domésticas, roupas e sapatos, restaurantes, entre outros comércios e estabelecimentos que facilitam a vida dos que residem no bairro. Um dos quesitos necessários a serem melhorados é referente a mobilidade urbana. “Precisamos de manutenção do calçamento das ruas, principalmente as de paralelepípedo que estão em piores condições”, solicita.

Bem estar do idoso

O cuidador de idosos, Gabriel Silva, 27 anos, diz que a casa de repouso em que trabalha, localizada no Licorsul, tem uma proposta diferente, que além da assistência especializada, também foca na harmonia, qualidade de vida e promove interação com a família e sociedade. Ele diz que se vê num lugar tranquilo e familiar. “É importante ter este espaço, pois muitas vezes os familiares precisam trabalhar e não têm com quem deixá-los em segurança, aqui eles encontram um ótimo abrigo para passar o tempo”, sugere.

Além de trabalhar no bairro, o rapaz reside no Licorsul desde que nasceu e diz que a região é calma e com pouca violência. “Dá para dormir com a porta de casa aberta que não tem perigo de ser invadida. A Brigada Militar está sempre passando, então é uma segurança a mais”, menciona. Segundo Silva, a mobilidade urbana tem pontos positivos e outros a desejar. “O asfalto nas ruas principais ajuda muito o transporte público e pessoal, mas o poder público não dá muitos cuidados às vias menores. Precisa ter mais ônibus, pois o horário está bem reduzido. E diminuir um pouco ou refazer as lombadas na Rua Cavaleiro José Farina, pois são pequenas e altas, os carros que passam são prejudicados”, pede.

Um local para treinar

A personal trainer, Andreise Guarnieri, 45 anos, gerencia uma academia no bairro desde 1996, que naquela época era frequentada somente por mulheres. De acordo com a profissional, o Licorsul é um bom local para trabalhar e as pessoas são participativas. “Tenho clientes desde que abri a academia. Há pessoas que começaram aqui com 12, 13 anos, e agora, com quase 40, estão com famílias formadas e continuam malhando aqui. Isso é muito bom para nós, pois demonstra que estamos fazendo um bom trabalho”, revela. A academia foi pioneira no bairro. Andreise ressalta que sempre valeu a pena mantê-la neste endereço. “O público é muito bom, dá valor as coisas da região e valoriza o trabalho do outro, isso é bem importante”, destaca.

Nascida e criada na região, orgulha-se do crescimento do Licorsul. “Acredito que temos uma estrutura bem boa, com mercados e lojas, não precisando ir até o Centro para comprar o que precisamos no dia a dia. A décadas atrás não tinha muitas coisas, de uns 20 anos para cá o bairro evoluiu bastante”, comenta. A segurança é um destaque e garante uma vida mais tranquila. “Claro que de vez em quando acontece alguma ocorrência, mas posso dizer que temos a liberdade de deixar uma porta de casa aberta”, relata.

Segundo Andreise, o lazer necessita de mais espaço, principalmente para os idosos, que ela acredita estarem um pouco esquecidos. “É um bairro de pessoas da terceira idade e não tem muitas coisas para aproveitarem no final de semana. Há um salão enorme na igreja e é pouco utilizado. Às vezes eles querem fazer algo diferente e aqui não tem, precisando ir para outro lugar”, diz.

Educação de qualidade

A vice-diretora da EEEF José Farina, Luana Soldi Bassani e a diretora, Michele Nunes

Há 61 anos a Escola Estadual de Ensino Fundamental José Farina é referência em trabalho e dedicação, oferecendo um ensino de qualidade e equidade para que todos tenham condições de aprender e se desenvolver integralmente, atuando assim de forma consciente, criativa e participativa na sociedade. A diretora do educandário, Michele Nunes, conta um pouco das atividades realizadas no local. “Em 2022, criamos o projeto chamado ‘José Farina, somos o Meio e o Ambiente’, no qual pretendemos, a partir de práticas, atividades e ações, promover o autoconhecimento, o aprender a ser e conviver, para que possamos ter um ambiente harmonioso, rico em aprendizagens e baseado no respeito a si e ao coletivo”, explica.

Neste ano, uma das apostas foi a participação do projeto da Brigada Militar, ‘Comando Ambiental’, que teve como instrutor o soldado Neto. “Foram ministradas dez aulas e tiveram atividades práticas como o plantio de árvores, confecção de brinquedos e cartazes envolvendo o uso de materiais recicláveis, visando a conscientização e a importância da preservação do meio ambiente, entre outras ações”, comenta. Juntamente, aconteceu a formatura dos alunos dos quintos anos, no dia 16 de novembro. “Neste ato, nossos educandos receberam o título de ‘Patrulheiro Ambiental Mirim’”, completa.

Outra proposta que vem sendo realizada é a aula de bem-estar, educação em ‘Valores Humanos’. Ela é oferecida semanalmente para todas as turmas e são ministradas pela professora Caroline Osmarini. “O tema é trabalhado de forma interativa em aula, através de histórias, reflexões, canções e outras atividades que reforcem o assunto proposto no dia e os estimulem a refletir sobre valores e a vivenciá-los na prática de seu dia a dia” reforça. Também em 2022, tiveram o retorno do Coro José Farina, regido pelo maestro Celso Fortes. “O grupo já vem participando de vários festivais e contribui para a formação de hábitos disciplinares, no exercício da responsabilidade e no crescimento do desempenho escolar, caminhando de encontro com a proposta pedagógica da escola”, finaliza.

Há meio século no bairro

Um dos primeiros moradores do local, Gilberto Poloni, 58 anos, conta que quando chegou com os pais e os quatro irmãos em meados da década de 1970, só tinha a casa de sua família, que já não existe mais e algumas outras, que permanecem em pé até hoje. “Era puro mato, então nos perdíamos por aqui. Íamos caçar passarinho para comer com polenta, uma vez não tinha opção, pois não havia açougue, padaria e outros estabelecimento que, atualmente, se acha facilmente. Era uma época difícil, agora é uma fartura de opções”, recorda.

O aposentado admite que é bom morar no local não só por que se acostumou, mas pela união dos vizinhos. “Me dou bem com todo mundo e estou rodeado de compadres. Além disso, acho que não falta nada, pois tem farmácia, padaria, lojas, supermercados. O lixo também passa nos dias certos”, completa.

Um futuro para o lazer

Há 35 anos no Licorsul, o operador de som, Edinei Paini, recorda que no início havia muito banhado e estradas de paralelepípedo, a escola e a creche eram bem menores e não tinham muitas casas. “Quando viemos estava no começo do bairro, só tinha as Bebidas Licorsul e o Brum, além da Rinaldi e o Farina, que foram os grandes responsáveis pelo alavancamento do bairro. Como não tinham muitos carros, jogávamos taco e bola na rua”, lembra. Depois, os jovens que ele conhecia começaram a seguir caminhos diferentes. “Um foi trabalhar de eletricista, outro de encanador e eu montei um estúdio na parte superior da casa onde minha vó morava”, conta.

De acordo com Paini, há ônibus e uma infraestrutura legal, sempre melhorando a cada ano. “Há algum tempo, os canos que desciam pela rua José Giovaninni Filho eram de 60 milímetros e dava muita vazão de água que descia do Ginásio de Esportes, estourava todos as tubulações e mantas asfálticas. Recentemente, trocaram pelos de 120mm e fizeram uma galeria grande bem em frente à minha casa, resolvendo o problema”, rechaça. Antes disso, quando tinha chuvas fortes, alagava em várias partes do bairro. Um dos motivos, segundo ele, é pelo Licorsul ter sido construído em cima de um açude. “Antes de ter a igreja, ali era um espaço que todo mundo pescava”, relembra.

Para o lazer, o operador de som tem planos de apresentar um projeto que irá trazer um evento para seis bairros de Bento Gonçalves, sendo um deles o Licorsul. “Será algo bem diversificado musicalmente, com bandas e artistas de estilos diferentes do próprio bairro em que ocorre o evento, além de foodtrucks e outras atrações. Também serão chamadas pessoas que tocam ou cantam para subir ao palco se apresentar brevemente para mostrar seu talento”, revela. Ele pretende lançar o projeto no início de 2023, para no verão que vem já começar a realizar. “Isso é algo que ninguém faz e é importante trazer mais lazer para as comunidades”, finaliza.

Um espaço para a beleza

A cabeleireira, Rosane Balbinot Gentilini, tem seu salão de beleza há 21 anos no bairro, e nesse tempo viu a evolução da região. “Na vizinhança, desde que casei e vim morar aqui, tinha bastante pedra e poucas casas. Agora há mercados, farmácias, posto de saúde, entre outros estabelecimentos”, observa. Para ela, é um local bem cômodo e tudo está perto, apesar de não ter muitas opções de lazer. “Não vejo atividades para fazer, somente as festas que estão voltando a serem realizadas, onde o pessoal se reúne para conviver e aproveitar a boa comida que é preparada pelas cozinheiras”, opina.

Conforme Rosane, a limpeza e iluminação precisam de mais atenção. “Estão um pouco esquecidas, os pátios a gente cuida, mas nas ruas há várias sujeiras que demoram para serem recolhidas. Aqui na casa do meu cunhado, sempre tentamos deixar a grama cortadinha, mas não encontramos um profissional para isso. A falta de mão de obra também é um problema”, conclui.

O que diz a prefeitura?

A prefeitura realizou mutirões de limpeza, roçada e pintura de meio-fio e outros reparos. É realizada a recuperação da iluminação da praça e está prevista a pavimentação da rua Arthur Ziegler.

Fotos: Cláudia Debona