Desemprego ainda é um mal que assola a cidade. Não ter com quem deixar as crianças ou falta de estudos são fatores que agravam a situação e fazem as famílias se preocuparem com o que está por vir

O auxílio emergencial surgiu no início da pandemia como uma “luz no fim do túnel” para muitas pessoas que, por conta de situações ocasionadas pelo coronavírus, foram demitidas, não conseguiram mais emprego ou tiveram que pausar as atividades que geravam renda. Instituído em abril do ano passado, nove meses depois o benefício chega ao fim, causando preocupações àqueles que ainda não conseguiram voltar à normalidade.

A desempregada Kelly Sabino, apesar de não ter conseguido receber todas as parcelas, afirma que teve um alívio por um tempo. “Aquelas que eu recebi me ajudaram bastante, até porque tenho cinco filhos”, salienta.
A mãe comemora poder ter sido beneficiada durante o período, e explica ter sido uma saída para a sobrevivência da família e também de pessoas conhecidas. “Esse auxílio ajudou muito a gente, foi uma benção de Deus”, acredita.

Há alguns meses, a dona de casa precisou pedir as contas para cuidar dos pais. Depois, veio a pandemia e, com ela, as dificuldades em encontrar um emprego formal. “Quando saí do serviço, estava fazendo os testes e pedi demissão, porque meu pai fez uma cirurgia delicada e minha mãe é idosa”, lembra.

Desde então, ela tem procurado outro trabalho, mas há dificuldade, pois sem a periodicidade das escolas, Kelly não tem com quem deixar os filhos. “No meu caso, queria tanto trabalhar, mas agora, como o colégio parou, está muito difícil de arrumar serviço, porque não tenho ninguém para cuidar das crianças. A minha filha mais velha, de 16 anos, vai trabalhar primeiro que eu. É o primeiro emprego”, afirma.

O que tem auxiliado toda a família, por enquanto, são os avós das crianças. “Minha mãe e meu pai que me ajudam bastante. Moro com eles, no mesmo terreno, no bairro Juventude. No momento, não tenho outra fonte de renda”, lamenta.

Entre continuar recebendo o valor do auxílio emergencial e ter mais oportunidades de emprego, Kelly afirma que o melhor é trabalhar para receber o salário. “Mais tarde a pessoa vai ter seus direitos, férias, vai poder se aposentar com mais facilidade. Prefiro trabalhar, porque uma hora pode ter e outra não mais os benefícios do governo”, pensa.
Sem receber nenhum valor, famílias dependem das ações do município à população, principalmente pelas famílias inscritas no Centro de Referência de Assistência Social (Cras). “Eles ajudam um monte. Tem gente que, nessa pandemia, que eu soube que não tinha nem o que comer”, reconhece.

Falta de estudo agrava vulnerabilidade

A moradora do bairro Municipal, Jéssica Pimentel também pôde ajudar a família graças ao auxílio. “Deu para comprar as coisas para dentro de casa, para as crianças. Tenho três filhos morando comigo”, relata.

Antes da pandemia, a desempregada já passava por dificuldades. A falta de Ensino Fundamental e Médio completos é um dos fatores que a fez ficar, durante anos, sem trabalhar. “Meu último emprego foi em 2015, depois eu não consegui mais. Tentava arrumar, mas não conseguia, porque precisava ter estudo e experiência”, frisa.

Sem os R$ 600,00, concedidos no início do benefício, que passaram a ser R$ 300,00, quando o período de concessão do auxílio foi estendido, novamente Jéssica se vê em uma situação mais delicada. “Agora ficou difícil, vou ter que tentar de novo arrumar um emprego”, constata.

O Bolsa Família vai voltar a ser a principal forma de sustento da família. A esperança, no entanto, é que o município siga fornecendo o básico. “Acho que vão nos ajudar, mas não acredito que vai ser o suficiente.Tem o rancho que eu não me preocupo, eles vão dar, mas às vezes também não conseguem. Esses dias eu fui lá e já não tinham, estava em falta”, conclui.

Desemprego assusta supermercados gaúchos

Com o benefício, foi possível manter o consumo nos mercados. Porém, agora pode ser que a demanda caia, devido ao fim da ajuda do governo. O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, afirma que “O auxílio emergencial demonstrou que precisamos de um Estado que tenha suas responsabilidades, e que as cumpriu no que foi possível. Somente ações liberais e de mercado não seriam possíveis neste momento de pandemia. Foi importante, mas já sabíamos que não seria para sempre”, salienta.

Agas acredita em uma retomada lenta, mas gradual, das atividades econômicas
Foto: Franciele Zanon

Longo também diz que o crescimento de milhões de desempregados, chegando às mais altas taxas da história, assusta. “Lamentamos muito que mais pessoas estivessem recebendo o auxílio do que um salário dentro da Economia Formal, dentro de nosso Estado”, ressalta.

O presidente da Agas explica, ainda, que o setor de supermercados depende diretamente do desenvolvimento e crescimento de toda a economia. “Precisamos acreditar em uma retomada lenta, mas gradual, das demais atividades”, finaliza.