Cena da semana: um saltitante e sorridente governador, dando murros no ar sobre a ponte Rio-Niterói, comemorando o abate do jovem Willian Augusto da Silva, de 20 anos, sequestrador de um ônibus com 39 passageiros, por um sniper escondido em cima de um caminhão de bombeiros. O ex-juiz Wilson Witzel, agora na condição de mandatário-mor do Rio de Janeiro, vibrava com a tragédia que chegara ao fim, convencido de que a orientação que deu para a segurança pública é correta: “mirar na cabecinha e… fogo… matar o bandido! Para não errar”.

Deu certo. Esgotados todos os recursos para a dissuasão do sequestrador, a alternativa que restava era o tiro. No caso, seis tiros.

A estampa de violência que emoldura sua figura faz com que um dos maiores juristas do país, o desembargador e professor de Direito Penal Walter Maierovitch, lembre o horror de Auschwitz, onde os nazistas mataram 1,3 milhão de pessoas em seu maior campo de concentração, dentre as quais cerca de 1 milhão de homens, mulheres e crianças judias. Pergunta ele: o populista Witzel ou Auscwitzel?

A brutalidade jorra em proporção geométrica e as paliativas soluções governamentais – melhoria e ampliação do sistema penitenciário, reforço e reaparelhamento das polícias – estão longe de um crescimento em proporção aritmética. Os cinturões metropolitanos, já saturados de lixões que ofertam um banquete pantagruélico para urubus, crianças e mães famintas, são também palco para a exibição de corpos chacinados em decomposição.

O Brasil, é triste, está se tornando um dos maiores assassinos da humanidade. Pior: a violência, de tão desalmada, aumenta a insegurança. Sem ânimo, emoções envenenadas pelo vírus da angústia, os cidadãos entram no limbo catatônico. E assim o mais rico país do mundo em recursos biológicos está se transformando no mais fértil país do mundo em registros necrológicos.

Nessa paisagem desoladora, emerge a figura saltitante do governador exibindo a estética desses tempos macabros. E onde está a prudência do juiz que Bacon tão bem descreveu? “Os juízes devem ser mais instruídos que sutis, mais reverendos do que aclamados, mais circunspetos do que audaciosos.

Gaudêncio Torquato
Jornalista e Professor da USP