Projeto segue recomendações da Agência Nacional de Saúde e foi implantado pelo hospital de Bento em 2017
O programa “Parto Adequado”, criado com o apoio do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), do Hospital Albert Einstein e do Institute for Healthcare Improvement (IHI) está presente no Hospital Tacchini desde 2017, com o intuito de trazer para a região melhorias no setor de obstetrícia por meio da capacitação das equipes e do incentivo às futuras mães sobre o parto humanizado.
De acordo com a médica do Centro Obstétrico do Hospital Tacchini, Liane Xavier Domingues, “o objetivo inicial do projeto era ampliar a quantidade de partos vaginais nas pacientes que tinham mais condições. Agora, é aumentar o número de nascimentos com experiência positiva para mães e bebês”, afirma.
A médica diz que o Brasil é campeão mundial de cesarianas e que o programa visa oferecer condições para que as futuras mães entendam que a humanização é mais vantajosa tanto a elas, quanto para os filhos. Os benefícios são vários, como permitir que a criança nasça no tempo certo e não seja tirada do período de gestação. “Ele decide o momento que vai nascer, isso é muito importante. E depois disso, o bebê passando pelo canal do parto, ativa o sistema imunológico, se prepara melhor para o nascimento, tem menos risco de ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), diminuem as chances de infecção, hipoglicemia e complicações pós-parto. A amamentação é melhor, pois ele cria um vínculo afetivo com a mãe. O risco de ter diabetes, obesidade e alergia na vida adulta é menor”, explica.
Para a parturiente, Liane diz que os benefícios também são diversos. “Uma recuperação mais rápida para as suas atividades, menos dor após o procedimento, menor risco de uma infecção por não estar fazendo uma cirurgia, redução nas chances de hemorragia, porque o útero não vai ser cortado”, aponta a médica.
Segundo dados do Hospital Tacchini, o índice de satisfação das gestantes participantes do Parto Adequado é de 97%. Mensalmente, nas pacientes Robson 1 a 4, em quem a probabilidade de o parto normal ocorrer é maior, a instituição registrava 56% de partos vaginais. Atualmente, após a implantação do projeto, o percentual chega a 71%. As taxas são contabilizadas por meio de convênios e também do Sistema Único de Saúde (SUS).
Preferências da paciente são respeitadas
Para se adequar ao programa da ANS, o Tacchini precisou realizar mudanças. Treinamento com os funcionários, estrutura física e aplicação do plano de parto foram algumas das principais transformações. “Nesses três anos de projeto, o hospital transformou a assistência obstétrica em um outro modelo, realmente focado na paciente, onde as preferências dela são respeitadas dentro dos limites técnicos de segurança”, conta Liane.
O agendamento de cesarianas também foi limitado a casos de necessidade, que mudam conforme o perfil individual de cada mãe. Um dos critérios, conforme diz a médica, é que o parto não deve ser agendado antes de 39 semanas. Caso seja extremamente necessário marcar a data e o horário do nascimento de uma criança, há uma avaliação de alguns profissionais para saber se isso é possível e saudável. “Isso garante que a mãe e o bebê vão estar protegidos de intervenções precipitadas por algum outro motivo. É um instrumento valiosíssimo”, observa.
A analgesia é mais uma conquista que, de acordo com Liane, foi essencial: uma anestesia feita para reduzir as dores do parto normal. “Pouquíssimos hospitais no Brasil dispõem. Essa foi uma vitória incrível para que a gente possa oferecer esse tipo de alívio de dor para as pacientes que necessitarem”, afirma.
Parto Adequado: como as mães veem?
Para uma mãe de primeira viagem, muitas inseguranças podem vir nas novas fases. Por meio do projeto Parto Adequado, Letícia Stringhi conseguiu tirar dúvidas e teve todas as vontades respeitadas. “Fiz o plano de parto, pois tinha muitos medos por ser minha primeira filha. Minha médica me explicou a importância de fazer o plano, pois poderia evitar de acontecer coisas que eu não gostaria”, conta.
Segundo a mãe, o hospital tomou todos os cuidados para que a pequena Maria Luiza viesse ao mundo por parto normal. “Quando cheguei fui muito bem atendida, acompanhada até o centro de obstetrícia. Os exames foram feitos com muito carinho e fui encaminhada para o quarto PPP (pré-parto, parto e pós-parto). Em momentos de dores, recebi massagens, exercícios e chuveiro”, lembra Letícia.
Após o nascimento, os cuidados e protocolos de segurança continuaram. “Eles tiveram o maior cuidado com a minha filha, levaram ela para eu amamentar na hora de ouro. Logo passou pelo atendimento com o pediatra. Minha experiência foi uma das melhores possíveis, pois fui muito bem atendida e acolhida pela equipe de médicos e enfermeiros”, afirma a nova mãe.
Para a médica obstétrica Liane, fazer parte desse programa desde 2017 é um marco na carreira. “Eu tenho muito orgulho de ter participado desse processo, é incrível a transformação da assistência dentro do Centro Obstétrico do Tacchini nesses últimos três anos”, finaliza.
Partos no Brasil
Segundo dados preliminares da Fase 2, compilados entre 2017 e 2019 (até maio), o percentual de partos normais nos hospitais participantes passou de 32,68% para 36,70%.
Houve uma redução de 17,29% nas internações em UTI neonatal entre 2017 e 2019: o número caiu de 39,74 por 1000 nascidos vivos em 2017 para 32,87 por 1000 nascidos vivos em 2019.
A estimativa é que o Projeto Parto Adequado tenha contribuído até o momento para evitar mais de 20 mil cesarianas desnecessárias.
Fonte: Agência Nacional de Saúde
Fases do Parto Adequado
Fase 1: fase piloto, entre 2015 e 2016, que contou com a participação de 35 hospitais e 19 planos de saúde. Essa fase foi caracterizada por testes iniciais, que demonstraram a viabilidade do projeto.
Fase 2: fase de disseminação, de 2017 a 2020. Atualmente participam 108 hospitais e 60 planos de saúde. Já foram evitadas 20 mil cesarianas desnecessárias.
Fase 3: contempla medidas para promover a disseminação das estratégias de melhoria da qualidade da atenção do parto e nascimento em grande escala, com possibilidade de inclusão do conjunto de maternidades e operadoras do país.
Fonte: Agência Nacional de Saúde