Considerada pelo Sebrae como uma resposta a instabilidade e ao desemprego em todas as faixas etárias, a taxa de Meis registrados no primeiro semestre de 2019 é 21% superior a registrada no mesmo período do ano passado
Apesar de destoar da realidade nacional, acumulando um saldo positivo de geração de empregos neste ano (8.232 contratações contra 7.227 demissões), os reflexos da estagnação econômica que assola o Brasil, onde a previsão da alta do PIB para o ano é inferior a 1% e mais de 28 milhões de pessoas estão desempregadas ou subutilizadas, também parecem atingir o mercado de trabalho na Capital do Vinho. Assim como no restante país, a ascensão dos registros de microempreendedores individuais (Meis) é vista, pelos técnicos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), como uma resposta a crise e a inseguridade, e em parte, como efeito de uma nova mentalidade de trabalho onde a ideia de empreender ganha força.
Criado há uma década, o programa Mei segue alterando, anos após ano, o cenário do empreendedorismo brasileiro. A busca pelo registro é tanta que, segundo o Relatório Anual da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), os micro empreendedores individuais já são maioria entre todos os empreendimentos brasileiros, totalizando 53% dos CNPJs do Brasil.
Em Bento Gonçalves, a tendência de crescimento é a mesma. Atualmente, a cidade conta com 6496 micro empresas. O crescimento do primeiro semestre é de 21% quando comparado com o mesmo período do ano passado e, ao que tudo indica, conforme afirma Luiz Fernando Festa, assistente técnico da Gerência Regional do Sebrae na Serra Gaúcha, 2019 deve fechar com um número de registros superior a 2018. “Levando em consideração o número de aberturas e fechamentos de registros, só desde o início deste ano já houve 11% de crescimento, a tendência é que o crescimento seja superior ao último ano”, prevê.
Para ele, o aumento é impulsionado, sobretudo, pelas dificuldades do mercado de trabalho. “Do pessoal que vem se consultar, a maioria é por necessidade. Pessoas que foram desligadas e que não conseguiram uma oportunidade no mercado de trabalho com CLT”, destaca.
O Mei na Capital do Vinho
. Atividades mais buscadas: Segundo Festa, as atividades que mais apresentaram busca ao longo do primeiro semestre são as que não exigem formação acadêmica como comerciante de artigos de vestuário e acessórios, diarista e serviços de obras de alvenaria. Juntas, elas representam mais de 15% de todos os Meis de Bento Gonçalves.
No geral, ademais do comércio de vestuário e acessórios (568 ) e serviços de alvenaria (332), primeira e terceira atividades com maior registro respectivamente, destacam-se também atividades como cabeleireiro (544), promotor de vendas (233), serviços de eletricista em residência e estabelecimentos comerciais (228). Citada por Festa, a atividade de diarista (118) também aparece no Top 10. Entre as cinco categorias com maior acréscimo de Meis no Brasil, os serviços de entrega rápida aprecem na 20ª posição em Bento (76).
. Faixa Etária: Com menos experiência e menor qualificação, os jovens são os mais atingidos pela instabilidade do mercado de trabalho. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto 12,5% da população brasileira foi afetada pelo desemprego no primeiro semestre, a taxa entre pessoas de 18 a 24 anos é de 27,3%.
Seja pela necessidade ou por uma nova cultura laboral, para Festa, a taxa de jovens micro empreendedores em Bento Gonçalves também é reflexo da deterioração do mercado de trabalho. Um em cada quatro novos empresários da cidade está na faixa etária de 21 a 30 anos. No geral, a faixa que vai entre 21 a 50 anos corresponde a 79% do total de registros. “Os jovens se se dividem, na maioria, em dois grupos: aqueles com mentalidade mais empreendedora; e os que não querem depender de um mercado de trabalho instável”, destaca.
. Nacionalidade: Embora 99,70% dos micro empreendedores de Bento Gonçalves sejam brasileiros, pessoas de outras nove nacionalidades diferentes também possuem algum micro negócio na cidade. Ao todo, 19 estrangeiros possuem registro no Mei. Fato comemorado por Festa, que destaca a importância da legalização do trabalho aos imigrantes.
. Gênero: Seguindo uma tendência de mudanças sociais observada em todo o Brasil, o número de mulheres micro empreendedoras cresce a cada dia. De acordo com relatório de 2016 do GEM, a taxa de mulheres que começaram novos negócios naquele ano foi de 15,4%, enquanto a dos homens foi de12,6%.
Na Capital do Vinho, o percentual é equilibrado: 46% dos 6496 Meis da cidade são de mulheres, enquanto 54% são de homens, “Importante ressaltar neste ponto, que, se os homens ainda são a maioria no total, analisando somente as 20 atividades mais buscadas, em oito delas as mulheres são a maioria e em três há praticamente um empate técnico”, destaca Festa.
Quanto às atividades mais buscadas pelas mulheres em comparação aos homens, destacam-se: cabeleireiro (433 contra 111); comércio de vestuário (480 contra 88); tratamento de beleza em geral (185 contra 4); e organização de feiras, congressos e festas (89 contra 44).