A Associação das Empresas da Construção Civil da Região dos Vinhedos (ASCON Vinhedos) se prepara para completar 30 anos de história em fevereiro de 2026 com um ritmo acelerado de crescimento e consolidação como protagonista no desenvolvimento urbano e empresarial da Serra Gaúcha. Com sede própria há cerca de 10 anos no Centro Empresarial Bento Gonçalves, a entidade atua como elo entre empresas, poder público e sociedade civil, promovendo capacitação, articulação de políticas para o setor e ações que geram impacto direto na economia local.

Crescimento e gestão voluntária

Sob a presidência de Alan Scomazzon, à frente da gestão 2024-2025, a ASCON vive uma fase de expansão significativa. “Nos últimos seis meses, o número de associados cresceu 35%, passando de 80 para quase 110 empresas”, informa Paula Giordani, assessora da associação. Ela destaca que esse crescimento é fruto de uma gestão estratégica, pautada em qualificação, networking e abertura para novas parcerias.

A estrutura diretiva é composta por sete áreas principais, todas ocupadas por voluntários: presidente, vice-presidente, diretor financeiro, marketing, legislação e segurança do trabalho, relações trabalhistas e um diretor suplente. “Todas as diretorias têm potencial para assumir a presidência no futuro”, frisa Paula, reforçando o caráter formador da entidade.

Acima da presidência, há um conselho superior com 14 ex-presidentes. “Esse conselho tem papel fundamental nas decisões estratégicas, como no caso da resposta da ASCON às enchentes do ano passado, quando foi aprovada a doação de recursos e a participação nas obras do movimento Unidos por Bento”, relata.

A ASCON Vinhedos opera como uma associação sem fins lucrativos, com um modelo de gestão sustentável que se apoia integralmente nos associados e patrocinadores. “Somos mantidos pelas mensalidades pagas pelas empresas associadas e pelo apoio de parceiros estratégicos. Não recebemos doações”, esclarece Paula. A assessora destaca que cada diretoria tem papel fundamental na captação de recursos e na consolidação de parcerias que garantem a viabilidade das ações.

Embora não haja repasse direto de instituições públicas, a ASCON conta com uma colaboração pontual do Sinduscon RS. “Temos uma parceria com o sindicato patronal da categoria, que realiza alguns aportes esporádicos. Fora isso, é por meio do nosso próprio trabalho que desenvolvemos ações para subsidiar os custos operacionais”, reforça.

Diretoria técnica e atuante em diversas frentes do setor

A atuação da diretoria se destaca pela diversidade de perfis e especializações. O vice-presidente, Eduardo Pasqualotto é responsável pelo Observatório Social e a atualização do regime interno da entidade; Diogo Giacomello, na área financeira, cuida do caixa, da participação da associação no Bento+20 e também busca novos parceiros, patrocinadores e apoiadores. Bernardo Tutikian, diretor de marketing, é professor da Unisinos e consultor na área de construção civil. Ele é responsável pela programação de palestras e eventos, como o Meeting da Construção.

Ronaldo Fabretto Maffessoni atua na diretoria de Legislação e Segurança do Trabalho. “Ele acompanha todas as atualizações de normas regulamentadoras, como as relacionadas ao trabalho em altura, e também presta apoio técnico em reformas solicitadas por entidades sociais”, descreve Paula. Já Jeferson Gasperin, diretor de Relações Trabalhistas, mantém o diálogo com os sindicatos e participa das negociações da Convenção Coletiva de Trabalho. Willian Reginatto, como diretor suplente, complementa a equipe e se prepara para assumir futuras funções estratégicas.

Missão internacional à China

Em 2025, a ASCON dá um passo inédito ao organizar sua primeira missão internacional, com destino à China. A viagem está programada para ocorrer de 23 de agosto a 7 de setembro e inclui visitas técnicas a três regiões do país, encerrando com a participação em uma das principais feiras da indústria da construção civil. “Durante os 20 dias, os participantes conhecerão obras icônicas, como a Muralha da China, e terão contato com projetos em andamento de alto impacto”, descreve Paula.

A iniciativa é organizada em parceria com a Câmara de Comércio Brasil-China e prevê apoio logístico e técnico aos associados. “Estamos oferecendo suporte para vistos, intérpretes, transporte terrestre e entradas para as visitas técnicas. Também investimos em uma consultoria especializada para auxiliar na organização da missão”, informa. As 15 vagas iniciais se esgotaram rapidamente e o grupo foi ampliado para 18 pessoas, com mais dois nomes na lista de espera.

Segundo Paula, a escolha da China foi estratégica: “Não foi apenas pela feira. A China é um dos países com maior crescimento econômico do mundo, e a construção civil anda de mãos dadas com esse desenvolvimento. Também pesou o fato de que muitos associados já visitaram feiras na Europa ou América do Sul, mas quase ninguém esteve na China por conta de barreiras como idioma, distância e logística”, diz.

Eventos movimentam o setor local

A ASCON realiza e apoia uma série de eventos estratégicos voltados à formação técnica, atualização normativa e networking entre empresários do setor. “No ano passado, realizamos cinco palestras técnicas. Duas precisaram ser canceladas devido às enchentes, o que exigiu ajustes no calendário”, comenta Paula. Além disso, a entidade organizou uma missão empresarial à Santa Catarina e promoveu o Ascon Panorama, evento anual que há cinco anos analisa cenários econômicos e políticos com impacto direto na construção civil.

A entidade também apoiou a realização de um curso profissionalizante gratuito de pintura, em parceria com o SENAI, que formou 12 profissionais. Em 2024, foram promovidas duas palestras técnicas, uma visita técnica à Meber Metais e uma missão à feira FEICON.

Outro ponto alto do calendário é o Meeting da Construção, que terá sua décima edição realizada em outubro. “O evento reúne cerca de 300 empresários e discute não só construção civil, mas também temas como economia, marketing e inovação”, relata Paula. O Meeting nasceu em 2012, ficou dois anos suspenso durante a pandemia, mas foi retomado com força total.

A agenda de 2025 inclui ainda palestras técnicas mensais, visitas técnicas e participação em feiras. Já foram realizadas palestras em abril, e em maio, a associação estará apoiando o congresso da FIEMA, voltado à sustentabilidade na construção. Para junho, estão previstas duas palestras com conteúdos definidos por patrocinadores. Em novembro, ocorrerá a posse da nova diretoria.

Capacitação, inovação e novos desafios

Desde a sua fundação, a ASCON atua para fortalecer as empresas da construção civil, com foco inicial em construtoras e incorporadoras da região, além da profissionalização nos Conselhos Municipais que participa, sendo eles o Complan, Compahc, Comuhisdu e Bento +20. Com três décadas de experiência, a entidade se firma como braço do Sinduscon RS e mantém atuação contínua em questões como condições de trabalho, execução de projetos, legislação e negociação da Convenção Coletiva com o Sindicato dos Funcionários. “Também temos um diálogo direto e permanente com o governo municipal, especialmente em temas como o plano diretor e questões estruturais que afetam o crescimento urbano”, afirma Paula.

Entre as bandeiras históricas da entidade estão a qualificação profissional e o incentivo à educação técnica. “Organizamos palestras técnicas mensais, missões empresariais e, desde 2012, realizamos o Meeting da Construção”, enumera. Outro destaque é o tradicional Censo Imobiliário, realizado anualmente há 30 anos. “O levantamento fornece um panorama preciso sobre novos empreendimentos, imóveis disponíveis e projetos em andamento em Bento Gonçalves. A edição 2024 está na fase final de editoração e será apresentada no dia 27 deste mês”, antecipa.

Paula observa que boa parte das empresas da construção civil nasce de trajetórias práticas. “Muitos começaram como pedreiros, ergueram sua primeira casa, depois um prédio e assim foram crescendo. Hoje, esses profissionais precisam acompanhar novos materiais, normas e soluções técnicas mais avançadas”, enfatiza.

Parcerias e articulação com a comunidade

Participação da ASCON na revitalização do bairro Pomarosa, em ação social com a Pró Cor Tintas e a Prefeitura de Bento Gonçalves

A ASCON mantém parcerias com diversas instituições. Com a Universidade de Caxias do Sul, colabora na promoção de conhecimento e qualificação. Com o Tacchimed, oferece planos de saúde diferenciados para empresas e funcionários. Também há apoio jurídico especializado por meio do escritório Dupont, Spiller e Fadanelli. “Além disso, temos apoio técnico do Sinduscon RS, com quem realizamos eventos conjuntos e recebemos palestrantes”, afirma Paula. Ela reforça que todos os investimentos feitos pelos associados retornam em forma de capacitações, consultorias e acesso a benefícios exclusivos.

Embora a ASCON não tenha como missão principal a execução de obras sociais, a entidade atua como articuladora técnica. “Qualquer entidade pode nos procurar, mas sempre fazemos uma análise prévia da solicitação antes de encaminhar aos associados. Verificamos se o projeto é viável, se está de acordo com as normas, têm aprovação do Corpo de Bombeiros e condições técnicas adequadas”, explica Paula.

A entidade, em sua busca por estar próxima da comunidade, participa de ações sociais como a promovida pela Pró Cor Tintas e pela Prefeitura de Bento Gonçalves, voltada à revitalização do bairro Pomarosa, na entrada da cidade. Essa atuação se dá com foco na responsabilidade. “Não somos executores, mas podemos conectar entidades a empresas capacitadas, desde que haja clareza, seriedade e viabilidade”, completa.

Parceria do Unidos por Bento

A parceria do Unidos por Bento surgiu em um momento crítico, quando as enchentes começaram a afetar a região. “Lembro que, no dia primeiro, choveu; no dia dois, a chuva continuou, e, no sábado, a terra começou a descer”, explica.

Diante da gravidade da situação, a prefeitura acionou diversas entidades e organizou reuniões para definir os primeiros passos da resposta ao desastre. “Já na segunda-feira, a ASCON tinha um plano de ação para os pontos afetados, onde os acessos foram destruídos e as áreas precisavam de uma análise técnica urgente”, destaca. O primeiro passo foi mobilizar geólogos e especialistas para que a prefeitura pudesse começar a utilizar máquinas e iniciar a recuperação da infraestrutura.

Além do suporte técnico, a iniciativa exigiu decisões estratégicas sobre reconstrução, incluindo a escolha das melhores soluções para cada local afetado. “Por exemplo, havia uma ponte de madeira chamada Pontilhão. A questão era: vamos reconstruí-la da mesma forma ou criar uma nova estrutura?”, relembra. Em algumas localidades, como a Linha Zemith, optou-se por construir pontes submersíveis, que permitem a passagem da água sem comprometer a estrutura. Quando o nível do rio sobe, a água passa por cima; quando baixa, a ponte permanece intacta.

Para resolver essas questões, a equipe participou de duas reuniões diárias, contando com engenheiros, geólogos, arquitetos e profissionais de construtoras. O objetivo era avaliar as melhores soluções para cada área afetada.

O papel da economia na reconstrução

Além da resposta emergencial, o Unidos por Bento teve um papel essencial na reconstrução da economia local. O movimento mobilizou recursos por meio do CIC, que geriu doações destinadas à compra de alimentos, roupas, móveis e outros itens essenciais para os moradores afetados. “A prioridade era garantir que a economia voltasse a funcionar. Muitas pessoas perderam o acesso as suas casas, plantações e empresas, o que gerou um grande impacto na cidade”, explica.

A primeira necessidade era restaurar os acessos, permitindo que o comércio e a produção agrícola retomassem suas atividades. “A situação era semelhante à pandemia, quando falávamos em hospitais de campanha. Não havia uma solução pronta, mas sabíamos que precisávamos agir rapidamente”, afirma. Com isso, a ASCON se organizou para buscar doações de materiais e mão-de-obra. Empresas da região cederam recursos e trabalhadores que, voluntariamente, ajudaram na reconstrução.

A reação ágil do Unidos por Bento e da ASCON destacou a necessidade de uma atuação eficiente em momentos de crise. “A burocracia pode dificultar a resposta rápida do setor público e até de algumas entidades. Mas, no caso da ASCON, quando surge uma demanda, a atitude é imediata: arregaçamos as mangas e começamos a construir juntos”, enfatiza.

A mobilização também fortaleceu a união entre as construtoras da região. “Aqui temos quase 60 construtoras concorrentes, mas, na hora de enfrentar a crise, o trabalho é associativo”, destaca. Esse esforço conjunto não apenas ajudou na reconstrução da cidade, como também fortaleceu a qualificação do setor. “O objetivo não é melhorar apenas uma empresa, mas todo o setor da construção civil. Se um avança, todos precisam avançar, pois uma melhoria geral fortalece a imagem do segmento como um todo”, pontua.

A atuação do Unidos por Bento foi um exemplo de como a cooperação entre entidades, empresas e profissionais pode transformar desafios em soluções eficientes para a comunidade.

Expansão da construção civil

Alan Scomazzon, presidente da Ascon Vinhedos

Cada nova diretoria que assume a gestão desenvolve seu próprio planejamento estratégico, e, naturalmente, cada presidente busca deixar seu legado. Esse legado pode se materializar na forma de novos eventos, capacitações e ações de mercado, sempre com o objetivo de aprimorar algo e fortalecer a atuação da entidade.

Ao longo dos anos, algumas iniciativas marcaram as gestões anteriores. “Nós temos aqueles que criaram novos eventos, que permanecem até hoje, e aqueles que instituíram o ingresso solidário, onde o associado participa dos eventos técnicos sem custo, mas contribui com um quilo de alimento, que é doado”, explica. No último ano, essa iniciativa resultou na arrecadação de mais de meia tonelada de alimentos.

A gestão de Scomazzon, por exemplo, enfrentou um desafio inesperado: as enchentes, que impactaram as metas iniciais. Um dos principais objetivos era a ampliação do quadro de associados, buscando chegar até empresas que ainda estavam desamparadas. “O trabalho foi olhar para o mercado, identificar quem ainda não nos conhecia e encontrar maneiras de apresentar a associação para essas empresas, mostrando que, juntos, conseguem crescer e se capacitar muito mais”, enfatiza.

Pensando no longo prazo, algumas metas estão sendo desenhadas, especialmente no que diz respeito à industrialização da construção civil. “A ideia é trazer para Bento um modelo de construção otimizada, que possa se tornar um empreendimento modelo para os nossos associados”, destaca. Esse projeto pretende demonstrar na prática a viabilidade do modelo, permitindo que os membros da associação vejam e acreditem que é possível implementar.