Após a divulgação da lista feita anualmente pela OMS, Semanário destaca quais problemas também existem em Bento

Há poucos dias a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma lista com às 10 principais ameaças à saúde global em 2019. A publicação é um alerta que inclui preocupações com doenças e problemas distintos, desde os que atingem pontos específicos como a ebola, doença que registrou surtos no Congo em 2018, até distúrbios de ordem geral que são resultados do modo de vida moderno e da poluição, entre outros.

A reportagem do Semanário, em conversa com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), faz um panorama da situação da saúde pública na Capital do Vinho para compreender quais os riscos apontados pela OMS que refletem à nível municipal, ademais de assinalar outros problemas que não estão na lista, mas que são vistos com preocupação no município

Embora algumas das preocupações da OMS não se refletem com tanta intensidade em Bento, como é o caso da poluição do ar mais presente em metrópoles, de ordem geral, o panorama da saúde de Bento engloba a maioria dos itens assinalados pela Organização, com casos positivos como a alta taxa de vacinação, até situações mais preocupantes como o avanço de doenças sexualmente transmissíveis e os registros de focos de dengue, entre outros.

Para o secretario municipal da Saúde, Diogo Segabinazzi Siqueira, problemas resultantes do estilo de vida moderno e da falta de conscientização são fatores que merecem atenção. “Por ser uma cidade com IDH alto, muitas vezes nossos problemas são diferentes. As doenças crônicas, por exemplo, são maiores aqui, pois refletem uma vida sedentária, alimentação sem cuidado”, destaca. Acerca da falta de conscientização alerta para problemas que já não existiam e estão retornando ou ainda doenças facilmente curáveis que avançam por falta de prevenção. “Não temos cultura de saber que precisamos nos vacinar, e isso é um problema de todo o país. Temos que estar constantemente investindo em campanhas para alertar. Esse é o caminho”, assinala.

Problemas específicos

Movimento antivacina aparece como problema na lista da OMS (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil, divulgação)

Dia D de mobilização da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Sarampo.

Apesar de Bento Gonçalves apresentar taxas mais positivas que a média nacional na maioria dos problemas listados, alguns problemas não citados na lista da OMS tem grande presença no município, como a sífilis e o câncer.

Em novembro de 2017, por meios dos números divulgados pela SMS, o Semanário destacou a preocupação da pasta com o avanço da sífilis. Antes mesmo de encerrar o ano, já haviam sido feitos 217 diagnósticos na cidade. “É uma doença de fácil tratamento e que está voltando a preocupar todo o país. É uma questão cultural, as pessoas não entendem suas complicações, não sabem que as crianças podem nascer com sérios problemas e mesmo risco de vida. É preciso uma campanha gigante como foi a da AIDS nos anos 1990”, destaca.

Sobre o câncer, ele assinala que o município apresenta taxas superiores ao resto do país, o que levou o Tacchini a iniciar um estudo detalhado da oncologia na região. “Estão tentando responder porque nossas taxas são tão tão altas em relação com outras regiões. Está relacionado com o veneno das parreiras? Com a alimentação? Com o IDH? Ainda não se sabe, mas é um grande problema”, comenta.

Para Siqueira, o controle de todos as preocupações de saúde que assolam o município se dá por meio de três fatores: a manutenção da atenção básica, a oferta de medicamentos e a ampliação das especializações médicas. “Se a atenção básica consegue reconhecer onde está o pacientem se não faltar remédio e se tivermos um especialista para matriciar e fazer os atendimentos individuais, conseguimos pelo menos amenizar o problema. Hoje, temos atenção básica, um índice de 99% de presença de medicamentos, agora temos que investir em especializações. Já começamos com oftalmologistas, zerando uma fila de mais de 5 mil pessoas”, exalta.

 

Panorama da saúde em Bento Gonçalves

O aumento de casos de Aids entre jovens preocupa Bento (Foto: OMS, Divulgação)

Doenças crônicas:
Causa de 72% das mortes no Brasil, as doenças crônicas, como a diabetes e os problemas cardiorrespiratórios atingem quase metade dos gaúchos, de acordo com a Pesquisa Nacional da Saúde, feita em 2014. Em Bento não é diferente. Em 2017, foram registrados 35 óbitos por diabetes e 173 por doenças do aparelho respiratório, de acordo com a SMS.

Influenza:

Segundo Siqueira é importante destacar que toda a região da Serra tem conseguido chegar nos índices mínimos de vacina preconizados pelo Governo Federal, aponta, no entanto, que o vírus da gripe é mutagênico, por isso a atenção é sempre constante. “É preciso evoluir a vacina a cada ano. Vacinando crianças menores de cinco nas, idosos, trabalhadores da saúde e profissionais da educação, é possível controlar epidemias”, destaca. No primeiro semestre de 2018, 32 gaúchos já haviam morrido por gripe.

Vulnerabilidade social:

Segundo o secretário, trabalhar com pessoas em vulnerabilidade tem sido um dos maiores desafios da Administração Pública no referente à saúde. “Ainda temos dificuldades com pacientes que moram na rua ou com problemas com drogas. Não conseguimos localizar esses pacientes, nem convencê-los a serem atendidos da maneira digna como deveria ser”, pontua.

Atenção Primária:

Conforme Siqueira, metade dos bento-gonçalvenses são atendidos pelo SUS. A avaliação do secretário sobre esse serviço é positiva. “Dentro desses 50%, conseguimos atender razoavelmente boa parte da população”, opina.

Vacinação:

Assim como o exemplo já citado da gripe, as taxas de vacinação no município costumam estar acima ou próximo das taxas estipuladas pelo Ministério da Saúde. Ano passado, 98,21% das crianças foram vacinadas contra o sarampo e a poliomielite na cidade. Outra amostra positiva foi a Campanha contra o HPV, vírus responsável por quase 100% dos casos de câncer de colo no Brasil. Em outubro, conforme a secretaria de Saúde 70% das crianças estavam vacinadas, enquanto no Brasil somente 47% das meninas e 26% dos meninos estavam imunizados. Embora a atuação de movimentos antivacinas seja uma preocupação, Siqueira assinala que com uma boa comunicação, o problema pode ser amenizado. “Tem gente que acredita nessas teorias de conspiração, mas na minha opinião se a gente não atingir as taxas de vacinação, é porque não divulgamos como deveria ter sido feito”, sublinha.

Dengue:

Há duas semanas o Semanário relatou os primeiros casos de focos de Larvas de aedes aegypti encontrados na cidade. Na ocasião, o coordenador de Vigilância em Saúde, Rafael Vieira, destacou a preocupação da Vigilância Ambiental destacando que apesar de ainda estarmos no início da temporada de risco, o número de bairros com focos do mosquito já era igual ao do ano passado inteiro.

HIV e Aids:

De acordo com dados do Serviço de Atendimento Especializado de Bento Gonçalves (SAE) e Vigilância Epidemiológica da Saúde, foi apontado que os casos de Aids despencaram no município. Enquanto a média era de 29, ano passado foram 15 casos. O alerta, no entanto, foi o aumento de 236,2% nos casos de Aids entre jovens de 10 e 19 anos. “Antes se falava mais em Aids, pois ela matava. Agora com coquetel é possível manter o HIV com taxa baixa. Então os jovens perderam o medo. O Governo tem que voltar a fazer campanhas e incentivar a prevenção”, assinala Diogo.