Artistas plásticos locais defendem que muros e prédios do município devam ser pintados resgatando e valorizando a cultura italiana
Quem anda pelas ruas e avenidas de Bento Gonçalves, facilmente pode admirar o trabalho feito pelas mãos de grafiteiros, exibidos em diversos espaços espalhados ao longo da cidade. O grande muro localizado em frente ao paradão da Júlio de Castilhos é exemplo de um dos locais que recebeu a arte. A técnica, chamada de grafite, é considerada uma forma de manifestação artística.
Entretanto, alguns artistas defendem que o município deve aproveitar esses locais para, também por meio da pintura, resgatar e transmitir a cultura italiana. Alguns lugares até já receberam esse tipo de arte. É o caso da escadaria que fica em frente à Escola General Bento Gonçalves e do extenso muro da empresa Bentec Móveis Planejados. Ambas retratam a saga dos antepassados.
O artista plástico, Dalcir Marcon, responsável pelas obras citadas acima, relembra que aprendeu a pintar ainda bem jovem, aos 14 anos, quando estava na escola. “No caderno só tinha desenhos”, confessa. Mais tarde, seguiu carreira na área da construção civil, como pedreiro. Entretanto, o gosto pela pintura falou mais alto. “Depois de realizar o sonho da casa própria, fui para a arte. Fiquei anos como pintor de letreiros, até me aposentar”, conta.
Em sua trajetória, Marcon assinou algumas obras que resgatam a cultura italiana. “Só eu já pintei três: o Esportivo (clube), o colégio perto do SUSFA (muro do Instituto Estadual de Educação Cecília Meireles) e a escadaria é a segunda vez que pinto, sempre com temas locais”, constata.
O artista, que em 1997 recebeu a outorga de medalha ao mérito cultural “Oscar Bertholdo”, considerando a atuação destacada no município na área cultural e das artes plásticas, acredita que a pintura grafitada é de “relevante importância, mas gostaria que fossem com motivos da região”, opina.
Marcon afirma que, inclusive, já conversou com o secretário de cultura, Evandro Vinicius Manes Soares, solicitando a liberação de espaços para grafite, mas que divulguem temas regionais. “O resgate da cultura existe em toda parte, por que não em nossa cidade? ”, questiona.
A representante da Associação dos Artistas Plásticos, Ivete Todeschini Menegotto, também acredita que a cultura local deva ser valorizada dessa forma. “Através da arte, transmitimos nossos sentimentos, o que somos e o que seremos”, afirma.
De acordo com Ivete, a raiz da cultura não deve ser perdida. “Origens de arte valorosa. Um povo que não valoriza sua história está fadado ao desaparecimento e muito sofrimento”, opina.
O pensamento do artística plástico, Delmar Dal Piaz, vai de encontro com os colegas de profissão. “Temos que trabalhar em cima da nossa cultura, feita pelos primeiros imigrantes, isso é fundamental. Temos que nos basear nos exemplos, luta e respeito dessa gente”, afirma.
Poder público
Questionado sobre como é definido o que vai ser pintado nos espaços da cidade, o secretário de cultura, Soares, explica que “acreditamos que a manifestação artística deva ser livre, não cabendo ao poder público ter gerência sobre o que vai ser pintado ou não”, diz.
Soares acrescenta que a cultura local deve ser valorizada, mas que a valorização de uma cultura não deva ser em detrimento de outra. “Respeito que alguns artistas defendam o resgate da cultura italiana nestas imagens de muros e prédios. Acredito ser legítima e importante essa defesa. Mas há outros artistas que também defendem outras manifestações”, expressa.
Sobre a possível criação de projetos com foco no incentivo desse tipo de arte, Soares afirma que não há nenhum específico, mas também não há objeções. “Estamos sempre dispostos a construir juntos qualquer projeto futuro com os artistas da nossa cidade”, finaliza.