Essa é a frase em destaque na grande placa branca instalada pela Associação Anjos Unidos bem em frente ao Moinho Bertarello, na Linha São Pedro, estrada que liga Bento Gonçalves e Farroupilha pelo Roteiro Caminhos de Pedra. Ao fundo, como que orquestrados, os roncos incessantes dos tratores, das retroescavadeiras, e dos caminhões que despejam pedras, dia após dia, vão dando forma ao audacioso sonho preconizado pelo aviso: o “Vilarejo de Integração Anjos Unidos”.

Muito embora ainda esteja em fase inicial, já é possível vislumbrar o que, dentro de alguns anos, deve ser o primeiro parque completamente adaptado para deficientes do Brasil. Os traçados dos que serão os caminhos que interligam o parque já estão definidos e, esperançoso, o Presidente da Associação Anjos Unidos, Alcindo Riviera, já explica onde ficará cada uma das atividades.

Como que predestinada, a ideia do parque, desde a compra do terreno até o projeto arquitetônico, parece ter tomado forma ao acaso. “A gente não tinha a pretensão de criar um parque, só buscamos uma área para andar com os veículos e não depender mais dos horários do kartódromo. Foi depois que fomos vendo o local, que sentamos Amanda, Ivanice eu (filha e esposa), e tudo foi sendo pensado: cabanas, igreja, tirolesa. As ideias foram surgindo”, conta.

Além dos exemplos enumerados por Riviera, o parque deve contar ainda com casa na árvore, balanço sobre a água, espaço de fisioterapia com aparelhos criados pelo próprio presidente da associação, rapel, pistas de caminhada e de bicicleta, pista para veículos motorizados, brinquedoteca, clube de mães, café e restaurante, salão de festas, cabanas acessíveis para quem desejar passar a noite no local, além do contato direto com a natureza.

O trabalho mais árduo, no entanto, está por vir. “A parte mais difícil de executar no parque é o nivelamento. Por ser um terreno com rio, ele é acidentado, com um lado maior que outro. Queremos trabalhar com quatro graus podendo chegar até oito no máximo, do começo ao fim do parque. Buscamos que a pessoa possa ir de qualquer ponto a outro, de cadeira de roda, sem ajuda de ninguém”, pontua.

Sem previsão de custos totais ou mesmo de entrega, Riviera, no entanto, assinala que a obra deve ser concluída o quanto antes, ao passo, em que surjam os apoiadores. A ideia é que as empresas construam os estabelecimentos, como cabanas e restaurante, em troca de visibilidade. “Na entrada, teremos uma placa com todos os parceiros e no espaço que eles construíram constará o nome da empresa ou da família também. Acredito que possamos realizar esse sonho em pouco tempo, cinco anos ou menos: um ou dois. As pessoas vão se sensibilizar e ajudar”, acredita.

11 de Outubro

Dia Nacional do Deficiente Físico, aniversário de Bento Gonçalves, da Anjos Unidos e de Amanda Alessi Riviera, idealizadora da associação, o 11 de outubro é uma dessas datas onde o simbolismo é tão marcante que parece extrapolar o mero acaso.

Criada oficialmente no dia em que a Capital do Vinho comemorava seu 125º ano de vida, a Anjos Unidos foi idealizada por Amanda como uma forma de estender as boas ações da família e de amigos para além de épocas como o Natal, conforme conta sua mãe, a secretária executiva da associação, Ivanice. “A ideia sempre foi levar alegria para essas pessoas especiais. A gente já participava de outras entidades, e no Natal levávamos presente e fazíamos passeios, e então, minha filha comentou porque fazer isso só em dezembro, em vez do ano todo”, destaca.

Ivanice relembra que o grupo, hoje formado por cerca de 70 famílias de dentro e fora da cidade, começou apenas com seis crianças. “Conhecemos inicialmente um menino, e sua mãe nos apresentou para outras amigas. Ao todo, iniciamos com um grupo de seis crianças e apenas com o passeio de bicicleta”, lembra. Aos poucos, por meio de donativos e da inventividade de Alcindo, que é engenheiro mecatrônico, as atividades também foram ampliadas. “No começo pedimos doação de bicicleta para a população e o Alcindo ia adaptando-as. Depois modificamos veículos pessoais, como o quadriciclo. E com doações, jantas, bingos, pedágios a gente foi crescendo e compramos a charrete, os karts, entre outros”, conta.

Na espera de realizar o mais audacioso sonho da associação, a criação do parque adaptado, Ivanice destaca a importância de oferecer atividades e momentos de integração para quem, por suas dificuldades físicas ou financeiras, nunca teve nenhuma oferta de lazer. “A ideia da Anjos Unidos é proporcionar integração para pessoas com deficiência e famílias. Há pessoas com quem conversamos que nunca tinham saído de casa, pois não tinham nenhuma opção. Onde iriam se divertir com uma criança sem nenhuma mobilidade por exemplo? Vê-los se divertindo, andando com quadriciclo, bicicleta, karts, é tudo para nós. Trabalhamos em troca de sorrisos”, exclama.