Na Itália, os primeiros imigrantes comiam bem melhor que hoje. Eles cuidavam de cinco ou seis vacas de leite. Faziam queijo, manteiga, requeijão e viviam numa fartura extraordinária.
Quando aqui chegaram recebiam alimentação do Governo, mas esta havia acabado, quando começou a chover continuamente.
A SALVAÇÃO deles foi que coincidiu com a safra de pinhão.
Alimentavam-se de pinhão durante quinze a vinte dias após o passar das chuvas.
Uma boa alimentação foi sempre característica dos italianos. Nos primórdios, a alimentação italiana nas colônias a responsabilidade do vigor físico e do crescimento da fertilidade humana, expressa no número de filhos.
Em entrevistas, em 1975, ouviu-se esse depoimento: “si, si a caza co se gá polenta e salame, a polenta e formáio e um pochi de radíci, no côr altro.” Veja-se o contraste do pensar da época com o pensar de hoje. O agricultor achava-se pobre porque na sua mesa não havia qualquer produto comprado. Eram apenas polenta recém feita, bem cozida em fogão a lenha, batida com uma “mescola” de madeira durante mais de uma hora, com salame colonial de carne de porco, ou queijo colonail purinho e gorduroso, mais um “ radíci” preparado com vinagre de vinho e “lardo” (toucinho), mais pão e vinho (feitos em casa), seria hoje, uma refeição das mais ricas e apetitosas. Se a polenta forgrelhada sobre brasas ou sapecada sobre a chapa do fogão, a refeição torna ainda melhor o gosto. O agricultor acha que estes pratos são uma refeição pobre, mas hoje é uma excelente refeição considerando-se a fartura de um “panaro” de polenta nova, cortada com fio de linha nº 16, uma grande bacia de “radici” temperados…
O pinhão, a batata, a mandioca, a fava, cozidos em paneladas, a pêra na água, eram servidas antes das refeições ou nos filós, por isso não são considerados parte integrante da refeição. A batata e o pinhão são assim preparados, aquela água sobre a cinza, ao calor das brasas, e este sobre a chapa, colocada sobre o fogo do “fogolaro” hoje sobre a chapa quente do fogão, adquirem outro gosto. Pratos diferentes, podem ser feitos a partir da batata e do pinhão. Por isto, quando tantos agricultores diziam: “ se à passa tanta fame” ( passou-se muita fome), “sorte che se gá bio na abondante safra de pinhão”. – Tivemos sorte que se teve uma abundante safra de pinhão – esta afirmação não significa foma da falta de alimento, mas a falta, no início, dos alimentos distribuídos em ranchos ou a falta dos alimentos tradicionais nas temporadas críticas das secas, geadas… quando faltaram alguns produtos, ou por ocasião da guerra quando escasseou o açúcar, o sal, o café e o querosene. O colono improvisava seu café com milho e fava torrados, o açúcar era substituído pelo mel, o querosene era substituído pelas “lumin” de banha, lampeões a banha.
Bom seria se ocorressem ainda tais crises para desatar a criatividade e fazer com que alimentação não seja dependente de preconceitos culturais. Imagina-se, por exemplo, o valor de uma crise de falta de açúcar, se viesse desencadear o cultivo da apicultura, para produzir o mel em sua substituição.
Em muitos momentos o italiano se baseava muito no seguinte provérbio: “Impara l’arte e mêtela de na parte”. = Aprenda a arte (o fazer) e guarde-a, que ela não incomoda.