Natural de Veranópolis, Alcindo Gabrielli nasceu em 17 de julho de 1962. Casado com Nádia Maria Cusin Gabrielli e pai da advogada Letícia, ele construiu sua história entre o campo, o direito e a política. Hoje, vereador em Bento Gonçalves, carrega no currículo experiências que vão da infância na roça ao comando do Executivo municipal.

Filho de Alcides e Delize Gabrielli, Alcindo passou os primeiros anos de vida na Linha Tiradentes, às margens do Rio Jaboticaba. “Até os seis anos vivi com meus pais, depois fui morar com meus avós maternos em Monte Bérico. Foi lá que puxei bois no arado e ajudei na lavoura”, relembra.
Aos 17 anos, mudou-se para Bento Gonçalves e deu início a uma jornada marcada pela persistência. Estudou em escolas públicas de Monte Bérico, Veranópolis e Garibaldi, até concluir o Ensino Médio. Em 1987, formou-se em Direito pela UCS. Para isso, conciliou os estudos noturnos em Caxias do Sul com uma rotina intensa de trabalho diurno, de fábrica de bolas à marcenaria, passando por cargos técnicos em empresas da região. “Foi puxado, mas me ensinou muito”, resume.

Em 1988, montou seu escritório de advocacia e passou a representar sindicatos de trabalhadores. “Comecei de forma modesta, mas com dedicação”, afirma. A atuação na área trabalhista o aproximou das causas coletivas e fortaleceu seu vínculo com a comunidade local.

Vocação política

Gabrielli começou a se envolver com política ainda criança, por influência do avô materno, Ernesto Schenato, uma figura ativa em Monte Belo do Sul. Ernesto era inspetor de quarteirão, cargo da época em que as comunidades ainda não tinham conselhos comunitários organizados. Era ele quem levava as demandas das famílias do interior até a prefeitura. Com ele, Alcindo aprendeu cedo a observar, ouvir e representar os outros. “Eu era muito pequeno, mas acompanhava meu avô nas visitas. Na época era comum os moradores escreverem cartas com seus pedidos. Muitos nem sabiam escrever, então pediam para ele anotar por eles. Eu ficava encantado com aquele gesto de levar a voz das pessoas adiante”, lembra.

A ligação com as campanhas eleitorais começou cedo também. Aos 12 anos, já colava cartazes e distribuía santinhos. A política parecia algo natural. Quando se mudou para Bento Gonçalves, nos anos 1980, encontrou no MDB um espaço de acolhimento político e comunitário. Foi convidado a se filiar pelo então prefeito Carlos Bertuol e logo começou a participar das reuniões e mobilizações.

As referências que moldaram essa vocação vieram de figuras locais e regionais, como os prefeitos veranenses Elias Ruas Amantino e Nadir Peruffo, exemplos de seriedade e compromisso coletivo. Em nível estadual e nacional, nomes como José Ivo Sartori, Osmar Terra, Germano Rigotto, Pedro Simon, Ulisses Guimarães e Tancredo Neves consolidaram sua admiração pelo MDB e pelos valores que o partido representa.

Durante seu período como prefeito, o município destinou 40% do orçamento para educação

Durante a juventude, também cogitou outros caminhos: sonhava em ser general do Exército e chegou a jogar na categoria Júnior do Esportivo, até que uma lesão o afastou do esporte. Mais tarde, encontrou na advocacia uma nova forma de servir à comunidade, agora com base no diálogo e na mediação de conflitos.

Aos poucos, foi se aproximando de lideranças como Aido Bertuol, Darcy Pozza, Ademir Cecchin e do então jovem Osmar Terra. Também assumiu cargos comunitários, como a presidência da igreja da Licorsul, comunidade onde os pais mantinham um pequeno armazém e construíram uma vida de trabalho. “A gente não tinha luxo, mas nunca nos faltou comida na mesa. Meus pais sempre foram o exemplo de honestidade e sacrifício”, diz. O passo seguinte foi natural, disputar uma eleição. Em 1992, Gabrielli concorreu a vereador pela primeira vez e foi eleito. Era o início de uma trajetória que, entre mandatos e cargos executivos, somaria mais de 30 anos de serviço público.

Ao longo da trajetória pessoal e profissional, diversos momentos se destacam como marcos na construção da identidade pública e privada de um homem que dedicou boa parte da vida ao serviço comunitário. A primeira eleição para prefeito, por exemplo, não foi apenas uma vitória política: simbolizou o início de um novo ciclo, com desafios intensos e significados profundos. Outro acontecimento inesquecível foi o casamento com Nádia. Mais do que uma união afetiva, representou a formação de uma base sólida familiar. A filha Letícia, o genro Carlos e a neta ampliaram esse núcleo, trazendo ainda mais sentido aos dias. Da mesma forma, a formatura em Direito marcou uma virada de página.

Vivência em Brasília

A experiência em Brasília ampliou sua visão sobre a articulação política e a busca por recursos para os municípios. O convite partiu do então ministro da Cidadania, Osmar Terra. No cargo, teve contato direto com senadores, deputados, governadores e prefeitos, em um ambiente dinâmico, marcado por agendas intensas e demandas constantes.

O tempo na capital evidenciou uma constatação: poucas entidades de Bento Gonçalves buscavam recursos federais, e nenhuma delas era ligada ao Poder Público. Essa ausência provocou reflexões importantes sobre o papel do município no cenário estadual e nacional. “Bento não é uma ilha”, costuma dizer, reforçando a necessidade de integração regional para a conquista de soluções mais amplas e sustentáveis.

MDB e a trajetória dentro do partido

Em Veranópolis, Alcindo cresceu observando exemplos de homens públicos comprometidos com o bem comum. Ainda criança, já fazia campanha, inspirado em líderes como Elias Amantino e Nadir Peruffo. No cenário estadual e nacional, políticos como Paulo Brossard e Pedro Simon também influenciaram sua formação. Em Bento Gonçalves, sua entrada oficial no partido se deu por convite de Carlos Bertuol.

Elegeu-se vereador em 1992 e foi reeleito em 1996. Na sequência, assumiu como vice-prefeito de Darcy Pozza e, posteriormente, foi prefeito entre 2005 e 2008. Ao longo da trajetória, ocupou cargos estratégicos: líder de bancada, presidente da Coordenadoria dos Vinhedos, delegado às convenções estadual e nacional e membro do Diretório Estadual do MDB. “Sempre me mantive ativo no partido. É onde me identifico em termos de valores e história.”

Na eleição mais recente, em 2024, o MDB optou por não lançar candidatura à Prefeitura nem à vice, concentrando esforços nas chapas proporcionais. A desistência de um dos pré-candidatos a vereador, dois meses antes do pleito, criou uma nova lacuna, que Gabrielli decidiu preencher.

Ciente da competitividade, com quase 150 candidatos, encarou o desafio com realismo. “Existe uma crença de que ex-prefeito se elege com facilidade, mas isso é um erro. O ‘já ganhou’ é primo do ‘já perdeu’”, afirma.

Articulação política

Mesmo com as limitações naturais do Legislativo municipal, onde projetos que envolvem aumento de despesas devem partir do Executivo, afirma que busca ser um articulador. “Trabalhei em cima dos projetos enviados pela Prefeitura, sempre acompanhando de perto e defendendo aquilo que considerava importante”, explica.

Líder de bancada, participa de discussões intensas. Cita com orgulho os colegas de legislatura. “Tive a alegria de atuar ao lado de professores, empresários e advogados, o que eleva o nível dos debates”, comenta.

Período como Prefeito

Entre 2005 e 2008, a gestão municipal foi marcada por obras estruturantes e investimentos estratégicos em áreas essenciais como saúde, educação, meio ambiente, segurança pública e infraestrutura urbana. “Cada prefeito ou vereador contribui com uma parte do que precisa ser feito em um município, conforme as demandas e os recursos disponíveis”, resume.

Na educação, o município destinou 40% do orçamento nos dois primeiros anos de mandato, promovendo reformas e ampliações em escolas, além da construção de novas creches e aquisição de vagas na rede privada. O esforço resultou em destaque estadual: em 2007, Bento Gonçalves conquistou o primeiro lugar no IDEB entre os municípios do Rio Grande do Sul.

Na saúde, foram construídas cinco Unidades Básicas, implantados seis gabinetes odontológicos e criado o Centro Regional Oftalmológico. O município também manteve o Centro Materno Infantil e reforçou os atendimentos com mais exames, medicamentos e equipes do Programa Saúde da Família.

Em infraestrutura, dezenas de ruas em bairros e estradas do interior receberam calçamento ou asfalto. Foram realizadas obras de canalização, redes de água, construção de pontilhões e o projeto do sistema de esgotamento sanitário foi viabilizado junto ao Governo do Estado. A elaboração e início da implantação do plano viário urbano também foram marcos do período.

Na cultura e no turismo, destacam-se a realização da Fenavinho Brasil 2007 e o início da preparação para a edição de 2009. Foi inaugurada a Casa das Artes, com auditório, escola de artes e cinema. A valorização da história local resultou no lançamento do livro “História de Bento Gonçalves – 1835 a 1930” e na instalação do Monumento aos Imigrantes na Praça São Bento.

No meio ambiente, Bento Gonçalves foi reconhecido com o Prêmio Responsabilidade Ambiental pelo Governo do Estado. Já na segurança pública, o município repassou viaturas à Brigada Militar, instalou as primeiras câmeras de video monitoramento, ampliou os cemitérios públicos e criou o Conselho Municipal de Segurança Comunitária. Também foi implantado o FUNREBOM, que fortaleceu a estrutura dos Bombeiros com sede própria, ambulâncias e novos equipamentos.

Na área social, foram entregues 238 lotes a famílias de baixa renda no Loteamento Vila Nova III. A gestão também fortaleceu ações como o Programa Fala Cidadão, a Coordenadoria da Mulher, o Projeto Arco-Íris e o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência. O reconhecimento nacional veio com o selo Prefeito Amigo da Criança, concedido pela Fundação Abrinq.

Ao final do mandato, a Prefeitura apresentou superávit de R$ 16 milhões, valor que, atualizado, ultrapassaria os R$50 milhões. “Encerramos a gestão com responsabilidade, planejamento e a certeza de que a política deve servir à população”, afirma.

Compromisso com o município

Para ele, a política municipal perdeu qualidade nos últimos anos e sofre com o distanciamento em relação às demais esferas de poder. “Nos últimos anos, a política municipal teve uma decadência. Espero que, com novas lideranças, ela possa melhorar”, afirma. Considera que o uso do poder “a qualquer custo” se tornou comum e prejudicial à coletividade. “Não podemos esquecer que, em primeira instância eleitoral, houve a cassação do atual mandatário e a perda dos direitos políticos de um ex-prefeito”, aponta.

A desconexão entre os níveis de governo também é motivo de crítica. “A nossa política se conecta mal com a esfera estadual e federal”, avalia. Para ele, o problema está menos na falta de representatividade e mais na conduta individualista de algumas lideranças. “Se perdem no egocentrismo”, completa.
Mesmo diante dessas dificuldades, afirma que sempre buscou manter uma postura séria e responsável na administração pública. “Toda eleição é feita para ganhar, mas algumas são mais difíceis de prever uma vitória. Muitas vezes entramos em uma conjuntura política já estabelecida, com partidos e alianças definidos”, explica. Ainda assim, acredita que conseguiu governar com responsabilidade. “Sempre procurei fazer uma administração séria”, garante.

O vereador destaca que não tem planos de buscar cargos mais altos e que sua atenção está voltada exclusivamente para o município. “Escolhi este desafio de concorrer a vereador para ajudar o partido, uma vez que um dos candidatos desistiu”, explica. Com a eleição garantida, o compromisso agora é com a atuação propositiva no Legislativo. “Vou ajudar a nossa cidade propondo ações ao Executivo, legislando, aprovando o que é bom para a sociedade e fiscalizando de forma rigorosa”, garante. Afirma que manterá uma postura firme diante do que considerar irregular. “O que não estiver de acordo com a lei será objeto de voto contrário e de investigação”, diz.

Ele reconhece o apoio de pessoas comprometidas ao longo da trajetória. “Tive a sorte de contar com muitos que nos ajudaram, como secretários municipais e vereadores”, destaca. A convivência com a Câmara, inclusive com partidos de oposição, foi, segundo ele, respeitosa. “Minha relação com a Câmara foi excelente, sem problemas, mesmo com vereadores de partidos diferentes, como o PT”, comenta. E diz: “Se você não enfrenta contratempos ou desafetos, é porque não fez nada significativo. Durante meu mandato, procurei fazer o que acreditava ser correto, baseado nos valores que aprendi com minha família e na escola política que sempre segui”, afirma.

Bento Gonçalves

Com raízes no interior do Rio Grande do Sul, ele guarda um olhar grato para a cidade onde construiu sua trajetória pessoal e profissional. “Digo sempre que saí lá do Rio Jaboticaba e aqui tive oportunidades de crescer em vários aspectos”, afirma. Para ele, Bento Gonçalves é sinônimo de acolhimento, oportunidades e desenvolvimento. “Bento é uma cidade acolhedora, repleta de oportunidades. Cidade de gente empreendedora, trabalhadora e que se destaca como polo turístico, moveleiro, metalmecânico, vinícola, de transportes, feiras e setor imobiliário. Enfim, oferece oportunidades para quem quer se desenvolver”, ressalta.

Apesar dos avanços, reconhece entraves que ainda precisam ser superados, como a mobilidade urbana e a formação de mão de obra. “Em razão da nossa localização geográfica e topográfica, temos problemas quanto à mobilidade”, observa. E complementa: “Precisamos trabalhar mais na formação técnica e profissional da nossa gente. Falta mão de obra capacitada”, destaca. Para ele, essa é uma dificuldade comum a outras regiões, mas que exige ações concretas. “Não adianta só reclamar e achar que todos não têm vontade de trabalhar. Já perguntei para vários empreendedores se contratariam essas pessoas que não têm qualificação. Todos responderam que não”, relata. Por isso, aponta o caminho: “O poder público e as entidades representativas precisam oferecer essa formação”, pontua.

Para encerrar, ele direciona sua mensagem especialmente aos eleitores, pedindo mais participação e menos generalizações sobre a política. “Aos políticos que somente se servem da política, é cada vez mais conveniente que a população diga que todos são corruptos”, aponta. Para ele, esse discurso colabora para o afastamento das pessoas sérias da vida pública. “Temos que trabalhar para que essa percepção não se alastre cada vez mais e, para isso, precisamos que mais pessoas de bem participem de forma consciente. Votando ou sendo votadas”, defende. Finaliza com uma reflexão sobre a responsabilidade individual: “Na vida e na sociedade, tudo é política. Também o silêncio disfarçado de neutralidade”, conclui.