Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, pasta precisa de cerca de R$173 mil para lançar a licitação e dar início as obras que transformarão o espaço em ponto cultural

Em meio às duas portas da entrada principal do casarão, exatamente abaixo do letreiro já quase apagado onde ainda se pode ler “Subprefeitura de Tuiuty”, uma das poucas janelas, que todavia mantém uma de suas persianas, bate contra a parede com o sopro do vento. O estrondo, que soa como único sinal de vida do local, apenas acentua um cenário de desolação que se estende pelas grades enferrujadas, pelos bancos quebrados de concreto, pelas escassas colunas que sustentavam um piso que já não mais existe e pelo mato, que se espalha no que já foi o porão e também cresce entre as rachaduras de paredes mofadas que expõe seus tijolos aqui e ali, onde o reboco começa a ceder. A queda de parte do telhado, após um temporal em janeiro deste ano, foi apenas o toque final da ação do tempo e um alerta para a preservação de um ponto histórico centenário, abandonado desde a segunda metade dos anos 2000.

Inclusa no chamado “Desenvolve Bento”, pacote de 100 obras prometidas pelo governo municipal para a cidade a ser entregue até o fim de 2019, a obra de revitalização do casarão ainda não conta com verba para ser iniciada. Após a vistoria do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb), ainda em janeiro, e a retirada das telhas e alicerces remanescentes para preservação das paredes, o prédio foi destinado à Secretaria Municipal de Cultura, para que seja transformado em um ponto de cultura.

Inscrito na Lei do Incentivo a Cultura do Estado, o projeto de reabilitação do edifício foi aprovado com valor de R$865.581,53, e mais um aporte obrigatório de 10% do município. Desde então, conforme assinala o secretário municipal de Cultura, Evandro Vinícius Manes Soares, a pasta tem visitado empresas para captar recursos para o início da obra. Segundo ele, é necessário pelo menos 20% do valor de captação, ou seja, pouco mais de R$173 mil, para o lançamento da licitação, a qual já conta com o texto editado. “Todas as empresas que visitamos têm ao menos manifestado interesse em conhecer o projeto, pois sabem que se trata de um desejo antigo da comunidade. Elas entendem a importância de revigorar esse espaço, não só pela preservação do patrimônio histórico, mas pelo que isso pode gerar futuramente, já que todo centro cultural também atrai turistas e valoriza a região”, assinala.

Apesar desse entendimento, no entanto, nenhum valor chegou a ser captado até o momento. Para Soares, ainda falta, de forma geral, um conhecimento acerca da Lei de Incentivo à Cultura por parte dos empresários. “O Estado abre mão dos impostos e permite que esse valor fique aqui, no município. Mas muitas pessoas ainda não trabalham ou não tem conhecimento da lei de incentivo. Então, fica nosso apelo para que deixem parte desse recurso para investir em algo inédito e tão importante para a cidade e para o distrito”, pontua. De acordo com a legislação, mediante aprovação das propostas apresentadas por produtores culturais e afins, o governo renúncia aos impostos e permite que esses sejam direcionados as atividades culturais.

Uma vez reabilitada, a estrutura com três pavimentos e 454 m² deve contar, entre outros espaços, com uma pequena biblioteca, salas para oficinas criativas de cultura e agricultura, espaço de resgate da memória do município e mini-auditórios. “Com a revitalização vamos poder dar um uso mais qualificado ao prédio, para que ele não seja mais só uma estrutura administrativa da Prefeitura, mas que tenha uma finalidade cultural, preservar nossas raízes históricas e desenvolva o distrito”, sublinha. Ainda sem prazo para que se iniciem as obras, a previsão é que elas sejam concluídas em até seis meses após o anúncio do vencedor da licitação.

Mais de 100 anos de história

Localizado no centro de Tuiuty, na Estrada da Uva e Vinho, antes de se tornar sede administrativa do distrito, o centenário casarão já havia sido utilizado como açougue, frigorífico, casa comercial e ferraria. Enquanto patrimônio público, o edifício também abrigou correio, central telefônica e posto de saúde. Devido à precariedade do prédio, a subprefeitura trocou de endereço durante a gestão de Alcindo Gabrielli (PMDB), que foi de 2005 a 2008, sendo realocada na mesma rua, há cerca de 100 m de distância.

Em 2015, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Bento Gonçalves (IPURB) chegou a elaborar um projeto de restauro para o casarão, mas a tratativa entre o município e empresas locais acabou não dando certo. Segundo Soares, desde então, houve diversas outras tentativas, mas nenhuma com o objetivo atual. “Na época, em 2015, a preocupação se restringia a recuperação da edificação. De lá pra cá, houve diversas iniciativas para que a revitalização acontecesse, porém sem êxito. Agora, com o projeto Centro Cultural Tuiuty aprovado na de Lei de Incentivo vivemos a realidade de estar muito próximos de iniciar as obras de reabilitação deste patrimônio de Bento Gonçalves”, preconiza.