Em uma época em que o isolamento se tornou sinônimo de segurança contra a pandemia do coronavírus, descobrir que a solidariedade mora bem pertinho, pode fazer toda diferença na vida de muitas pessoas, principalmente daquelas que pertencem ao chamado grupo de risco.

Na Capital do Vinho, mais de 19 mil moradores são idosos, número que representa cerca de 12,5% da parcela da população bento-gonçalvense. Esse é um grupo que deve ficar em casa o máximo possível. Mas, como seguir essa orientação quando se faz necessário comprar itens básicos de sobrevivência?

Foi justamente pensando nisso que, em um prédio localizado na região central da cidade, onde 65 dos cerca de 600 moradores são idosos, uma turma de jovens resolveu literalmente estender as mãos em prol de quem precisa.

Ao entrar em qualquer um dos quatro elevadores do prédio, é possível ver anexado um recado simples, porém, cheio de amor ao próximo: “Olá vizinho. Neste momento, sabemos que devemos ficar em casa por um bem maior. Se você é idoso ou se enquadra em algum grupo de risco e precisa de algo do mercado / farmácia, conte com a gente” e, logo abaixo, diversos nomes com telefone de moradores que abraçaram a causa.

Bilhete está anexado nos quatro elevadores do prédio

Uma dessas pessoas é a estudante Caroline Neves Garcia, 24 anos. Confinada em casa desde a semana passada, quando a loja de lingeries em que trabalha fechou e com as aulas da faculdade e do inglês canceladas, não pensou duas vezes: colocou o nome e o contato na lista do elevador para ficar à disposição da vizinhança.

Embora ainda não tenha recebido nenhuma ligação, Caroline interfonou para os vizinhos idosos avisando que está de prontidão para o que for necessário. “E aconselhei a não saírem de casa nesse momento”, frisa.

Caroline Neves Garcia está de prontidão para ajudar os vizinhos do grupo de risco

Sobre os atos de solidariedade manifestados, Caroline acredita que a união é importante. “Acho legal porque vivemos uma era individualista, de redes sociais e esse vírus vai unir mais as pessoas e lembrar que todos somos iguais”, finaliza.

A aposentada Solaine Lima da Silva, 60 anos, conta que embora esteja seguindo as orientações de se manter mais em casa, sente falta da rotina, pois se considera uma pessoa muito ativa, que gosta de caminhar e frequentar a praça que tem perto do local onde mora. “Costumava sair até oito vezes por dia com a minha cachorrinha, a Layla, mas diminuí a frequência”, conta.

Evitando sair de casa, Sol, como é carinhosamente chamada pelos amigos, relata que recebeu ligação por interfone de um vizinho, avisando que está à disposição para o que for necessário. “Achei muito educado da parte dele, uma atitude de uma delicadeza que me deixou impressionada”, elogia.

Sol afirma que essas atitudes dos mais jovens são muito importantes, mas menciona uma preocupação: “ainda assim vejo várias pessoas de idade indo ao mercado, mesmo tendo pessoas que podem ajudar”, comenta.

Outro morador que decidiu fazer parte dessa rede de solidariedade é o cabeleireiro Murilo Ferreira de Oliveira Santos, 29 anos. Ele que acredita que as pessoas são fechadas e tem receio de solicitar ajuda. “Talvez sintam até vergonha, mas tenho certeza que todos que colocaram o nome na lista estão esperando a oportunidade de ajudar e ser útil para quem precisa”, acredita.

Murilo Ferreira de Oliveira Santos está esperando ansioso pela oportunidade de ajudar

Santos destaca a importância do grupo de risco se manter fora das ruas. “É o melhor, porque vão ter menos chances de ir para o hospital. E a gente faz nossa parte como cidadão, que é colaborar com o próximo”, frisa. Em relação aos atos solidários, Santos afirma que é bom ver outras pessoas também dispostas a ajudar. “Achei super legal a ideia, porque temos um grupo grande de idosos no prédio e, evitar com que eles saiam na rua é importante. Se estamos saudáveis e temos essa disposição, não custa tirar um tempo para ajudar. O sentimento é de que o mundo não está perdido. Ainda tem pessoas boas”, finaliza.