Emoldurado em um espaço especial reservado na parede da Cantina Strapazzon, no distrito São Pedro, um quadro com as fotos de Patricia Pillar e Glória Pires, rodeado por uma seleção de recortes já amarelados de manchetes de jornais, são lembranças que documentam a história que colocou a Serra Gaúcha em evidência nas telonas. Foi ali, na antiga casa de pedras construída em 1880 pela família, que foi gravado parte do filme “O quatrilho”, a segunda produção nacional a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Desde então, os cenários captados pelo diretor Fábio Barreto (in memoriam) em municípios como Farroupilha, Antônio Prado e Bento Gonçalves, em 1995, seriam retratos em pelo menos outras 70 produções audiovisuais, entre longas e curtas-metragens, novelas, séries e até comerciais. Prestes a entrar nessa lista, o documentário “Turismo de cinema”, assinado pela produtora porto-alegrense Videomakers, em parceria com a Associação de Turismo da Serra Nordeste (Atuaserra), busca, justamente, revisitar todas essas obras e explicar os fatos que levaram a região a se consolidar como um verdadeiro set de cinema.
Segundo o produtor e diretor do documentário, Aloísio Rocha, a linha narrativa da produção é conduzida por depoimentos e por cenas gravadas na região, ao longo das duas últimas décadas. “A história vai ser contada pelas falas que vamos gravar com diretores, atores, equipes técnicas, e também com os personagens locais, coadjuvantes, produtores de locação, que oportunizaram essas gravações na Serra. Também vamos usar passagens liberadas dos filmes para demonstrar o que foi feito e onde”, adianta.
“A estrutura ofertada pelo turismo, além, óbvio, das paisagens, permitiram a viabilização do cinema na região. É como se fosse uma mini Hollywood natural”
Além de um compilado das gravações feitas na região, como o próprio nome do documentário sugere, a ideia é, ainda, assinalar as correlações entre o turismo e o audiovisual, áreas que para Rocha se complementam. “A produção une duas vocações da região: o turismo alimenta a produção audiovisual, ao disponibilizar sets, histórias e estrutura; e o audiovisual, por sua vez, atrai turistas, ao apresentar a região. Então, um de nossos méritos é poder juntar, em uma mesma obra, tudo que foi feito e mostrar a importância disso para a economia e para a cultura local ”, pontua.
Em fase de pré-produção, o projeto, contemplado pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), implementado pela Lei Rouanet, encontra-se em fase de captação de recursos junto às prefeituras e empresas locais. Com o roteiro já escrito, e os primeiros contatos com os entrevistados feitos, a obra será finalizada em 2020, ainda sem previsão de estreia.