Nem toda colheita da uva traduz o desejo de cada produtor do Vale dos Vinhedos, que apesar de se dedicar aos parreirais durante os 12 meses do ano, também depende da bênção dos céus. Afinal, todo bom vinho é resultado da união da mãe natureza com a sensibilidade e o conhecimento do homem. Este ano, o clima não somente antecipou a safra da uva no Vale em pelo menos 20 dias, como também favoreceu o cultivo de uvas mais precoces, utilizadas na elaboração de vinhos brancos e espumantes. Agora, a expectativa gira em torno das tintas, que dependem das condições climáticas dos próximos dias.

“Não colhemos safras excepcionais todos os anos. E isso acontece em todas as regiões produtoras do mundo. No Vale dos Vinhedos não é diferente. O melhor disso é saber extrair de cada safra o que de mais sublime ela oferece. E este ano, os vinhos brancos e espumantes terão maior destaque”, explica o presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Márcio Brandelli. Segundo Brandelli, a colheita da uva deverá encerrar até o final de fevereiro na maioria das vinícolas, diferente do ano passado quando se estendeu até a segunda quinzena de março. “Certamente, os consumidores poderão comprovar na taça bons vinhos brancos e bons espumantes. O clima dos próximos dias definirá a qualidade dos tintos”, comenta o presidente.

Esta é a aposta do diretor Técnico da Aprovale, André Larentis, que torce para que o clima continue se mantendo seco com dias quentes e noites mais frescas (amplitude térmica), além de baixos níveis de chuva. “O desempenho climático dos próximos dias é que definirá a qualidade das uvas tintas mais tardias”, esclarece o enólogo. A antecipação da vindima no Vale, segundo o enólogo, se deve ao calor excessivo registrado na primavera.

Denominação de Origem

Única região do Brasil com Denominação de Origem (DO) de vinhos, o Vale dos Vinhedos responde por 20% da produção nacional de vinhos finos e 25% dos espumantes verde amarelo. As 30 vinícolas associadas elaboram uma média anual entre 12 a 14 milhões de garrafas, além de suco e outros derivados de uva. Com a DO Vale dos Vinhedos, o limite de produtividade para os vinhos tanto para tintas quanto para brancas é de 2,5 kg por planta. Para espumantes a quantidade é de 4 kg de uva por planta.

A DO também estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida sejam realizadas na região delimitada do Vale dos Vinhedos. As regras de cultivo e de processamento são criteriosas com padrões de qualidade que certificam os produtos somente após comprovada a origem da matéria-prima: 100% da uva deve ser procedente da área demarcada. Também precisam ser aprovados nas análises físico-químicas e na avaliação sensorial (degustação às cegas), realizada pelo Comitê de Degustação, composto por técnicos da Embrapa, técnicos de associados da Aprovale e da Associação Brasileira de Enologia (ABE).