Livros são perigosos. Os que fazem pensar, então, nem se fala! São inimigos dos fanáticos, sejam políticos, religiosos, ideológicos, raciais, morais… Onde há livros, há ideias. Um risco! De repente, a consciência encarcerada pela ignorância fica livre…

A perseguição aos livros é antiga. Há indicativos de que, ainda antes de Cristo, bibliotecas inteiras eram dizimadas, como a de Babilônia, que emergiu das escavações com vinte mil “tabletas” de argila. Tudo por conta do perigo que representavam.

Depois de Cristo, a destruição de acervos – de papiro, de pergaminho ou em papel – continuou. De tempos em tempos, cabeças bizarras que temem ideias contrárias ou avançadas, partem para a ordem: “Queimem os livros”.

As maiores e mais recentes fogueiras em praça pública ocorreram durante o nazismo, quando milhares de exemplares que não fechavam com os padrões impostos pelo regime de Hitler, foram incinerados.

Nem mesmo o Brasil, em sua curta história, fugiu da regra. Durante o seu governo, Getúlio Vargas mandou queimar 1.700 livros de Jorge Amado, o romance “Dona Flor e seus dois Maridos”, e, na ditadura, os militares mandaram retirar das prateleiras “Feliz Ano Novo”, de Rubens da Fonseca. O motivo foi o mesmo: focavam temas perigosos, como sexualidade e morte.

“Ok, Ok”, diria aquele famoso fofoqueiro de celebridades. A censura autoral já era. Os tempos de hoje são outros. Será mesmo?

Algum tempo atrás, um pequeno livro – quase de bolso – não chegou a ser distribuído aos alunos do ensino médio de… da vizinhança, porque, na contracapa, constava este trechinho, que abre a narrativa: “Fui concebido em plena ditadura. Meu pai, o Zé Filho, costumava dizer que, graças à dita dura, vim ao mundo. Senão eu estaria ainda nadando em meio ao líquido seminal, eu e mais um milhão de irmãozinhos, à espreita de uma oportunidade para escapar daquele reservatório pré-diluviano”. Essa “obscenidade” toda faz parte de “Confissões de um Vencedor”, de autoria de… Se os leitores ainda não sabem, ficam me devendo…

Bom, agora é a vez da “puta e o poeta”, do autor cearense Costa Penna. Chocante? Não viram nada ainda! Este poema rimado e melodioso, como é típico da Literatura de Cordel e que faz parte do livro “Caminhos Diversos”, é singelo, sensível, inteligente, mas afrontou alguns críticos de plantão, que trataram de descê-lo das prateleiras.

Eu amei o poema, mas já nem sei se é pelos motivos certos… A certeza que eu tenho mesmo é da atitude apressada dos “críticos”. Transcrevo uma estrofe para que os leitores que têm sua casa invadida por inocentes programas da TV brasileira – novelas, big brothers, Amor & Sexo, Super Pop, Ratinho, Faustão, Sabrina Sato, Malhação… – e/ou pelas músicas que são hit – Ai se eu te pego, Te pego de jeito, Lepo Lepo, Xenhenhém…, vejam como é pornográfico o texto:

“Têm o poeta e a puta/ Sina muito parecida:/ Entre o poeta e a puta,/ Nenhum dos dois tem guarida…/ É quase a mesma meta:/ Para a puta e o poeta/ A sorte é desmerecida”. “Os nomes são parecidos/ A pronúncia quase correta/ Do jeito que finge a puta/ Finge também o poeta…”