Para celebrar o 20 de setembro, depoimentos com histórias de amor para com a cultura gaúcha

O 20 de setembro é conhecido como o Dia do Gaúcho. O período recorda a data em que teve início a Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, no ano de 1835. Desde então a cultura tradicionalista se manteve firme e presente pelo estado afora, como forma de manter vivas as tradições e os costumes do povo: o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, e todos os hábitos e aptidões do povo do Rio Grande do Sul.

Neste ano, em virtude da pandemia da Covid-19, as comemorações da data ficaram restritas. Os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) tiveram que se adaptar à nova realidade e encontrar maneiras de celebrar a Semana Farroupilha, mesmo à distância.

Em Bento Gonçalves, os Festejos Farroupilhas, que têm como tema ‘Gaúchos sem Fronteiras’, estão sendo realizados de forma totalmente on-line, através do facebook da Associação Bento-gonçalvense da Cultura Tradicionalista Gaúcha (ABCTG). Anualmente, uma pessoa ligada ao tradicionalismo é homenageada. Neste ano, a honraria foi para Ivete Dalla Valle.

O amor que nasce dentro de um galpão de CTG

Muitas são as famílias apaixonadas pela tradição, que passam esse orgulho de geração para geração. Porém, esse amor não fica restrito somente à isso. Nas pistas de dança dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), muitos outros amores são concretizados.

É o caso de Alexandra Spolti e de seu esposo, Rodrigo Rostirolla. Foi pelo tradicionalismo que ambos se conheceram e esta relação, que iniciou há quase dez anos, muito se consolida através do amor pela cultura gaúcha. “Nosso primeiro beijo foi no dia 20 de setembro de 2010, no encerramento de uma Semana Farroupilha na Associação Bento-gonçalvense da Cultura Tradicionalista Gaúcha (ABCTG). Portanto, o mês de setembro é especial para nós e, neste ano, completamos uma década juntos”, lembra Alexandra.

Ela sempre teve contato com o tradicionalismo por influência de seus pais. Porém, foi depois que conheceu o marido que esta aproximação ficou mais forte. Desde o início da relação, Alexandra relata que a música e a dança tradicionalista estiveram muito presentes na vida deles. “Participamos de vários cursos de dança de salão, fizemos parte do grupo da Invernada Xirú, do CTG Paisanos da Tradição, mas no momento não estamos participando devido a pandemia. Gostamos muito do tradicionalismo, de uma roda de chimarrão, de um bom churrasco de domingo, costelão e arroz de carreteiro junto com a família e amigos”, revela.

Há dois anos, o casal resolveu dar um passo a mais na relação e o matrimônio foi concretizado. As fotos do pré-casamento não poderiam ter outro tema a não ser o tradicionalismo, que os uniu e ainda os une. Além disso, muitos outros detalhes, que remetem a cultura do estado, estiveram presentes em cada detalhe da cerimônia. “O cantor e violeiro Lucas Contini e o gaiteiro Leonardo Finatto, ambos frequentadores de CTG como nós, foram escolhidos para estarem conosco neste momento devido à nossa convivência e afinidade. Eles animaram os convidados e encheram nossos corações de muita emoção no dia do nosso casamento”, relembra.

Mas somente isso não era suficiente: eles queriam dar um toque especial nesse dia ímpar em suas vidas. “Dançamos uma milonga no lugar da valsa. A coreografia da música “Depois da lida, do grupo Os Mateadores” foi feita pelos instrutores de dança Eduardo e Carla, da Academia de Danças Vento Negro. O Rodrigo estava de terno no casamento, e me surpreendeu com a pilcha antes da dança. Eu não sabia que ele iria trocar a roupa. Foi uma surpresa feita por ele com a ajuda da irmã Adriane, do pessoal da loja Recanto Nativo e registrada pela fotógrafa Kamila Weis. Foi uma noite especial e marcante em nossas vidas, junto das pessoas que amamos”, salienta.

Nesse ano, apesar de não poderem estar presentes nas atividades realizadas em comemoração à Semana Farroupilha em virtude da pandemia, pois não são presenciais, eles não deixaram de acompanhar as atividades, mesmo que à distância. “Estamos acompanhando as lives transmitidas diretamente da ABCTG”, conclui.

Pais e filhos unidos pela tradição

Na casa da família Flores de Melo, o amor pela cultura gaúcha é evidente. O bom chimarrão, a música tradicionalista e, é claro, a indumentária gaúcha estão presentes quase que diariamente na rotina dos quatro integrantes: a mãe e esposa, Dimitria; o pai e esposo Nilson e os filhos Camael e Adriely.

Porém, a trajetória da família com a tradição gaúcha iniciou muito antes de o casal se conhecer. Dimitria participava de atividades no CTG desde muito nova, muito incentivada por seu pai, que participa ativamente, todos os anos, das atividades da Semana Farroupilha realizadas na Capital do estado. Seu esposo, natural de São Luís Gonzaga, também frequentava o CTG, em sua cidade natal. Quando a família se mudou para Bento Gonçalves, Nilson foi dançar na invernada do CTG Alvorada Gaúcha que, na época, ficava localizado no bairro Maria Goretti. E foi, aí, que a história de amor deles começou. “Nos conhecemos quando eles se mudaram para o município. Foi naquela época que meu marido começou a frequentar o mesmo CTG que eu. Foram cinco anos entre namoro e noivado, até chegar ao nosso casamento, em 1998”, lembra Dimitria.

No Alvorada Gaúcha, Nilson foi Peão Farroupilha do CTG e Dimitria 1ª Prenda, algumas vezes, e, mais tarde, ela conquistou a faixa de 2ª Prenda da 11° Região Tradicionalista. “Foram etapas muito gratificantes para nossa trajetória”, avalia. Neste período, Nilson também foi patrão da entidade tradicionalista. “Talvez, para a época, foi um dos mais jovens. Fizemos curso de danças tradicionais com o Paixão Cortes e chegamos a administrar cursos de danças de salão em algumas entidades do município na época”, esclarece Dimitria.

Após dividirem sua rotina com as atividades do CTG, o casal ficou afastado das atividades por alguns anos, mas retomaram as participações em virtude dos filhos. “Retornamos quando o filho começou a participar da invernada juvenil do CTG Laço Velho, no qual participamos atualmente”, pontua.
Na entidade tradicionalista, Camael, o filho mais velho do casal, com 18 anos, e Adriely, de nove, fazem parte do departamento cultural. “Ele é o 2° Peão do CTG e participa da invernada adulta. Ela, é a 1ª Prenda pré-mirim, faz aula de declamação e dança na invernada para a sua faixa etária”, revela a mãe.

Antes da pandemia, a família participava ativamente das atividades desenvolvidas na casa grande. “Nossa rotina era constante no CTG, nos eventos, rodeios e ensaios que eram realizados. Devido a pandemia, o Laço Velho está sem atividades, porém, não deixamos de cultuar as tradições e manter viva a chama de nossa cultura, especialmente em nossa residência”, completa.

Apesar das atividades relacionadas à Semana Farroupilha não estarem acontecendo, o contato entre os participantes do CTG é constante, por meio de grupos nas redes sociais. Além disso, Dimitria revela que o Laço Velho está promovendo a Semana Farrapa, em todas as sextas do mês se setembro, uma forma encontrada para aproximar ainda mais a comunidade neste período de pandemia.