A mídia é tudo! Para o bem ou para o mal. Ela forma, informa, transforma, desinforma, vende a alma ao diabo para entreter por meio da informação. E ciente de que o mundo não se conforma com o tédio das notícias light, ela explora as mazelas até a última gota de sangue.

Foi assim que o anúncio do frio para a última semana de julho, aqui, no sul, ganhou status de um Alaska.
Nos bastidores, o povo mais jovem começou a se movimentar.

-Pai, mãe, façam as compras de mercado, para não saírem nos próximos dias.

Na hora, pensei em outra pandemia. Ou nova onda da Covid19 bloqueando todas as saídas. A Gamma de Manaus, a Delta da Índia, a Beta da… Opa! A Beta é de Tamandaré. Professora. Uma querida.

-A temperatura vai cair violentamente. Pra oito ou dez abaixo de zero, com sensação térmica de menos vinte e cinco – complementou o representante do núcleo familiar.

Abrindo um parêntese, nunca entendi esse lance de os termômetros marcarem uma coisa, e as pessoas sentirem outra… Fechado.

Depois, com a consciência tranquila, eles fizeram suas trouxas e voaram lá pro calor, quase na ponta do mapa brasileiro.

E eu? Fiquei alerta, mas sem repetir a dose de 2020. Naquela ocasião, fui ao mercado e acabei com o estoque de sardinha. Aliás, não só. Também entrei na onda do papel higiênico e me grudei nos últimos pacotes. Agora, não! Nada de neuras. Até porque ainda tenho latas de sardinha e rolos de… Neve.

No domingo à tardinha, o tempo deu os primeiros sinais de mudança de humores. Coloquei um cobertor na cama, que tirei durante a madrugada. Na segunda de manhã, vesti uma gola rolê, que acabei tirando depois. Na terça, deixei um casaco pesado, à mão. Na quarta, um friozinho esperto foi se insinuando… O sol até apareceu, mas era coberto por nuvens gordas, grávidas de cristais de gelo. E rajadas fortes de vento passaram a disputar o espaço.

À noite, quietude. Lá pelas vinte e duas horas, uma chuva bem fina lambeu o chão. De repente, um farfalhar de asas no telhado. Anjos? Centenas deles. Milhares. Milhões. Todos vestidos de branco… Pareciam brincos da natureza que se desfaziam ao toque…

A arte mais perfeita! Tênue! Fria! Um sonho! Ou um pesadelo, dependendo do lado em que a gente está.