Disseminação de meios de comunicação e de informação tem despertado o interesse da terceira idade em aprender as funcionalidades do celular e da internet

O envelhecimento populacional tem aumentado nos últimos anos no Brasil, colocando os idosos como grupo etário emergente. Paralelo a essa transformação, existe a difusão das tecnologias de comunicação e de informação. Isso tem despertado um grande interesse entre a terceira idade quanto ao aprendizado da informática, considerando os benefícios que ela pode oferecer às suas vidas.

Analuiza dos Santos Gonçalves, 73 anos, trabalhou por cerca de 10 anos em empresas do setor moveleiro e de artefatos de couro, em Bento Gonçalves, e como supervisora de serviços de limpeza de agências bancárias, em Porto Alegre. Aposentada, atualmente, ela divide seu tempo entre se conectar na internet e curtir a família.

Ao contrário do que se possa parecer, esse público tem muito desejo em aprender. A aposentada confirma e conta que se interessou em saber mais sobre as “modas dos jovens”, quando viu seu filho teclando no computador. “Fiz um curso de informática básica, mas as aulas eram muito teóricas e tinha dificuldades de entender. Meu filho não tinha paciência para me ensinar. Então, comprei um notebook bem moderno, logo que lançaram, algo que nem o Max [filho] tinha (risos) e fui mexendo, com auxílio dos meus netos, e aprendi”, lembra.

Os desafios são muitos e há sempre o receio em utilizar as mídias. A troca do notebook por algo mais compacto, o celular, também trouxe, inicialmente, alguns impasses, devido a teclas que passam a ser touch. “Meu neto dizia: ‘Você vai gostar, vó’. E realmente gostei de teclar na tela do celular, passo até paninho com álcool (risos). Meus netos, Mateus e Lilian, tinham paciência e me ajudaram muito a mexer nas redes sociais”, afirma Analuiza.

“Achava que minha cabeça não ia funcionar para tanta tecnologia”, pressupõe Analuiza

Os avanços tecnológicos têm melhorado a qualidade de vida de pessoas da terceira idade, proporcionando uma maior independência e facilidade na rotina. Por ter muitos parentes e amigos fora do estado ou mesmo do país, para a senhora, o celular é o meio de contato com eles. “Faço chamadas de vídeo, mando áudios, etc. Gasto muitas horas, porque é a minha distração, meu passatempo. Mas sei também que a internet rouba muito tempo, então, revezo com leituras da Bíblia e saídas”, pondera.

Dona Analuiza se diz uma pessoa muito conectada nas redes, mas é cautelosa com notícias e vídeos

Contudo, o conhecimento sobre os cuidados no meio digital é cada vez mais necessário, principalmente na onda de Fake News em que a sociedade está inserida. Ana comenta que é cautelosa com as notícias e vídeos que recebe, mas que tem receio com compras online, por exemplo. “Há muitos hackers”, arrisca o estrangeirismo.

Com as 90 integrantes — de faixa etária entre 60 e 87 anos — do Grupo de Convivência Nova Vida, do bairro Santa Rita, não é diferente. Do total, cerca de 80% utilizam internet e redes sociais. De modo geral, quem as ensinou foram os filhos e netos. “Eles não têm muita paciência ou, muitas vezes, é falta de tempo”, concordam entre si. Questionada sobre a importância de estarem inseridas no mundo tecnológico, Terezinha Garbini, 67 anos, exclama com certeza: “precisamos evoluir, estar presente na época, se não ficamos para trás”, argumenta.

Com o avançar da ciência e da medicina, a maturidade passou a ser representada por uma maior qualidade de vida. Hoje, ela não vive mais, necessariamente, recolhida e recordando lembranças do passado, mas pode ser ativa, produtiva e participativa.

O Grupo de Convivência Nova Vida se reúne duas vezes na semana para um momento de lazer, no bairro Santa Rita

Inclusão

Por muito tempo, os idosos não receberam a devida atenção da sociedade e da família, se encontrando muitas vezes excluídos do mundo digital. Entretanto, empresas têm investido em capacitações específicas para a melhor idade.

O diretor da Escola Infoserv, Roberto Carraro, explica que as capacitações na instituição são focadas para pessoas acima dos 50 anos e com poucos alunos em cada turma, a fim de facilitar o ensino. “As aulas são totalmente práticas. Ensinamos sobre o uso do computador, principalmente a navegar pela internet e celular, e a entender o básico de como salvar arquivos em pastas no Windows. É uma troca de aprendizados”, pontua.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2017, 31,1% das pessoas com 60 anos ou mais utilizaram a tecnologia frente aos 24,7% do ano anterior. “Creio que na medida que conseguem usar a tecnologia sem depender de outras pessoas para o que precisam, se sentem bem e melhoram a autoestima. Comentam que agora também são da ‘geração tecnológica’ (risos). Eles querem aprender mais, poder ler as notícias, conhecer locais pela internet para poderem organizar suas viagens de férias, etc”, finaliza Carraro.

A diretora do Senac Bento Gonçalves, Rosangela de Souza Jardim, enfatiza que não há dificuldades em atender esse público, mas que existem pontos de atenção. “Exigem mais paciência, metodologia apropriada, exercícios práticos que contemplem e estimulem a memória, além de um docente bem didático e qualificado. A Escola se adapta ao ritmo e as necessidades dos alunos, pois atualmente conta com uma estrutura pedagógica com formação e suporte adequado”, sustenta.

O Senac já capacitou, nos últimos cinco anos, cerca de 70 alunos em turmas específicas para maturidade ativa. “Tivemos um grande avanço na área da tecnologia, e ainda estamos tendo, o que dificulta o acompanhamento por parte desse público. Por isso, devemos inseri-los, seja pela qualificação ou explanação da área, pois ela vem facilitando muito os meios de comunicação e informação”, reconhece Rosangela.

Dicas de segurança digital

  • Tenha atenção com as senhas: por questões de segurança, é necessário criar senhas extremamente seguras. Para ter uma boa senha, é interessante usar combinações de palavras, com letras maiúsculas e minúsculas, símbolos específicos e dígitos;
  • Cuide-se nas redes sociais: mude a visibilidade de dados pessoais disponíveis na rede. Nem todas as pessoas precisam ter conhecimento de tais informações;
  • Faça compras em sites confiáveis: antes de fazer qualquer pedido, procure referências da empresa, como depoimentos e avaliações de outros clientes;
  • Não abra e-mails ou links estranhos.

Fotos: Franciele Zanon