O número de crianças que passa a maior parte do dia no ambiente escolar aumentou significativamente, muito em razão dos horários de trabalho de seus responsáveis que, no exercício de seus papeis profissionais e sociais, acabam permanecendo fora de casa por um tempo maior. A escola, neste sentido, se torna um espaço importante no manejo da vida das crianças, com novas descobertas e aprendizados. Dentre esse processo de aprendizagem, está o luto, que também faz parte da história dos estudantes. Abordar luto e perdas nas escolas, embora seja um tema desafiador, é fundamental para a educação das crianças em amplo espectro, uma vez que trabalhar este assunto possibilita que seja pensado em recursos eficientes e positivos para o enfrentamento da morte e seus desdobramentos, além das demais perdas ou mudanças que cada fase do desenvolvimento propõe como parte integrante da vida.

Se educar trata de formar e informar, isso significa que as crianças podem ser habilitadas para o atravessamento das mais diferentes situações conflitantes e desconcertantes, a fim de que possam construir ou vislumbrar novos caminhos e possibilidades para a vida. E, para que a criança seja bem-sucedida neste aspecto, é essencial receber ajuda para que possa dar algum sentido coerente ao turbilhão de emoções e sentimentos que emergem em virtude de uma situação complexa na qual ainda não experimentou. Neste sentido, salienta-se a importância da interação entre educadores e seus alunos no encontro da reflexão.

A literatura infantil, por exemplo, é apontada como um recurso capaz de facilitar o acesso aos temas mais difíceis como morte, luto e perdas. Reencontrar o sentido da vida diante de situações extremas constitui um caminho que pode ser percorrido por meio do imaginário que a literatura oferece, pois suscitar o imaginário, ter a curiosidade e também respostas coerentes diante de tantas perguntas, encontrar ideias para resolver problemáticas constituem possibilidades das crianças descobrirem o mundo imenso dos conflitos, dos atravessamentos, dos problemas que serão defrontados em diferentes etapas da vida e com diferentes pessoas. Além disso, a literatura é uma ferramenta que permite a expressão das emoções como tristeza, raiva, irritação, medo, insegurança – que também são sintomas emergentes em processo de luto – ademais de emoções positivas como o bem-estar, alegria, tranquilidade – que podem ser experimentadas quando da capacidade de ressignificar a vida.

Com a finalidade de educar para a morte, é preciso que o próprio adulto eduque a si mesmo e trabalhe com as suas próprias angústias. Assim também o é quando pensado no educador: apenas existirá acessibilidade para que sejam trabalhadas situações complexas como morte, luto e outras perdas, na medida em que se adquire, além da vontade de contribuir para a exploração das crianças, as habilidades necessárias para escutar sem julgar e responder com cuidado, entendendo a própria limitação humana, dando conta daquilo que lhe couber enquanto ser que orienta e informa.

Franciele Sassi