Então Deus disse: “Faça-se a luz!”.
E o Universo inundou-se de bem-aventurança…
Despertava a Terra de sua letargia,
abria as entranhas, ávida
ao amanho da esperança.
O Amor, feito húmus, deixou-a fecunda,
e a natureza, pródiga, vertendo a semente,
estabelecia o ciclo da vida…
Gaia, à espera do homem,
paciente…
Aponta enfim o abrolho,
se agiganta a cepa
de cujas fendas, braços abrem-se
em prece,
vestindo-se de folhas,
ornando-se de flores,
perfumando-se de frutos…
Peitos, verdes promessas em cachos,
adolescem
maturando a seiva para a oferenda…
O repouso é merecido.
A dormência é necessária
ao aguardo de nova estação.
Divina urdidura:
raízes, troncos, galhos,
folhas, flores, frutos.
Humano tecido:
faina, fome
fruição.

Prece

Uva, cheia de graça,
em cachos – alquimia de tranças,
inflorescência presa em astes
que enredam gavinhas e urdem promessas,
bendita és, fruto da videira,
bendito é o sangue que vertes,
– sem pressa –
sumo maturado feito sonho
em vítreo e lacre, confinando desejos
libertos para a celebração.
Ditosa é a lágrima na taça,
sobre a mesa posta – posto que é paixão.
Sagrado é o segredo dos aromas,
genoma do prazer.
Vinho nosso de cada dia,
branco, tinto ou rosé,
sê alegria à nossa mesa,
saúde e inspiração.
Amém!

Obs: poema ganhador do “Hors Concours” Pe. Oscar Bertholdo, em 2013, em Farroupilha, escrito em parceria com Liana dos Santos.