Com as crianças permanecendo mais tempo em casa devido ao cancelamento das atividades escolares, pais e ou responsáveis podem ter dificuldades para manter em dia a alimentação saudável
Com as aulas suspensas nas escolas públicas e privadas de todo país, devido à pandemia do coronavírus, as crianças estão permanecendo em casa por um período muito maior. Com a rotina alterada, manter em dia as práticas alimentares saudáveis, principalmente daquelas que sofrem com obesidade, pode ser um enorme desafio para os pais e/ou responsáveis.
A nutricionista da Atenção Básica de Bento Gonçalves, Luana Zamin, afirma que a escola é um meio onde os menores são estimulados a terem hábitos alimentares saudáveis. “A merenda escolar é nutricionalmente balanceada e serve como oportunidade para inserir frutas e vegetais na alimentação dos alunos, considerando que eles nem sempre dispõem desses alimentos em casa, seja por dificuldades financeiras e/ou pelo hábito da família”, explica.
Independente da fase da vida, a obesidade é considerada como fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. “Quando se manifesta na infância, antecipa o aparecimento dessas doenças e das complicações, impactando negativamente na qualidade de vida desde muito cedo”, explica Luana.
No município, os dados do Programa Saúde Escolar (PSE) de 2019, apontam que das 5.690 crianças avaliadas, 4% apresentaram obesidade grave; 12% obesidade e 22% sobrepeso. De acordo com a nutricionista, a oferta de produtos industrializados, falta de conhecimento dos pais e o sedentarismo contribuem para o desenvolvimento da obesidade infantil.
Luana reforça que a nutrição adequada deve iniciar ainda no meio intrauterino, ou seja, durante a gestação. Paralelo a isso, o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida e a partir de então, sendo complementado por alimentos como cereais, tubérculos, leguminosas, carnes, ovos, frutas, legumes e verduras. “Todos esses fatores são de grande importância na promoção de saúde e prevenção de doenças no decorrer do desenvolvimento”, alerta.
Genética ou resultado da má alimentação?
Embora tenha causa multifatorial, a obesidade é influenciada pela genética. De acordo com Luana, quando um dos pais é obeso, o risco de uma criança também ser é de 50%. Porém, quando o pai e a mãe são, pode chegar até a 80%. “No entanto, o aparecimento vai depender dos fatores externos aos quais ela é exposta: tempo de aleitamento materno, introdução alimentar adequada ou não, fatores psicológicos, atividade física ou sedentarismo, entre outros”, completa.
De acordo com a nutricionista, a oferta de alimentos industrializados aliado a falta de conhecimento dos pais e ao sedentarismo compõem o que chama de “ambiente obesogênico crucial para o desenvolvimento da obesidade e suas comorbidades”, esclarece.
Como manter a boa alimentação:
Para que os pais tenham êxito na manutenção dos hábitos alimentares dos menores, a nutricionista deixa algumas dicas, como fazer um planejamento das refeições. “Do contrário, a tendência é comer alimentos prontos ou de fácil preparo”, analisa.
Outra sugestão é estimular a criança a provar novos alimentos de forma lúdica, além de fazer com que participem do preparo dos alimentos. Além disso, frisa que o momento das refeições deve ser agradável. “Lembrando sempre de respeitar os sinais de fome e saciedade”, orienta.
Com os pais trabalhando fora e as escolas fechadas, os pequenos ficam sob responsabilidade de outras pessoas. Diante de situações assim, a nutricionista considera que preparar lanches saudáveis para mandar junto é uma boa opção. “Por isso é muito importante que os pais dialoguem com essas pessoas sobre a alimentação das crianças. Nem sempre o cuidador vai dispor desses alimentos”, constata.
Políticas públicas
É ainda na gestação que o trabalho de nutrição e prevenção da obesidade começa. O município oferta avaliação, orientação e acompanhamento do ganho de peso das gestantes, seguido de incentivo a amamentação e alimentação complementar saudável.
Bento Gonçalves também conta com avaliação de crianças e adolescentes por meio do PSE. De acordo com Luana, a ação realiza avaliação antropométrica dos alunos e, aqueles que apresentam alteração no estado nutricional, são encaminhados ao serviço de nutrição.
Outra medida é o Crescer Saudável, programa específico sobre a obesidade infantil, que tem por objetivo a avaliação do estado nutricional, atividades coletivas em alimentação saudável e práticas corporais de atividades físicas e lazer.
Apesar do atendimento nutricional ser ofertado de forma gratuita para todas as faixas etárias, a nutricionista aponta que o comparecimento ao atendimento e a adesão às orientações nutricionais por parte dos pais e crianças é muito baixo, “o que dificulta o manejo adequado na prevenção da obesidade”, conclui.