Ainda que muitas pessoas se preocupem com a pandemia, há aquelas que demonstram indiferença com o assunto

Há três meses não vivemos dias comuns, tivemos que deixar empregos, saídas com amigos, visitas a parentes, almoços em família, comemorações de datas especiais e tudo por conta de um vírus, que chegou sem avisar e sem previsão de sair. Na terça-feira, 23, retornamos ao status de risco médio com a bandeira laranja – antes vermelha – do Distanciamento Controlado do governo do estado.

Apesar da preocupação geral, há pessoas que demonstram indiferença à pandemia e não cumprem com as recomendações das autoridades sanitárias, saíndo de casa sem precisar, por exemplo. O psiquiatra e psicoterapeuta Rodrigo Tramontini, de Bento Gonçalves, explica que a grande maioria das pessoas tem a capacidade de se importar com o outro, porém, isso é mais facilmente direcionada para as pessoas mais próximas e parecidas conosco. “Aparentemente e infelizmente os valores de comunidade estão enfraquecidos em nosso meio, bem como a educação para a autocrítica e o vírus só tornou isso mais evidente. Dessa forma, muitas pessoas deixam de se importar, tanto com a segurança e saúde daqueles que desconhecem e também não seguem as orientações das autoridades durante a pandemia. Por outro lado, o ser humano é altamente sociável e é compreensível que estejamos ávidos pelo contato com outras pessoas”, destaca.

Foto: Arquivo pessoal

Tramontini pontua que a cultura do nosso tempo contribui significativamente para uma falta de conscientização. “Hoje em dia tentamos a todo custo eliminar sensações negativas e obter o máximo de prazer. Outra maneira comumente utilizada pelas pessoas é simplesmente negar o problema que está causando o sentimento ruim e, assim, obter um ‘falso’ alívio. É o que vemos nas pessoas que não querem lidar com as angústias ligadas à situação atual e simplesmente optam por negar a existência da pandemia. A ironia é que sofremos bem menos quando admitimos nossa vulnerabilidade e aceitamos que sofrimentos fazem parte da vida”, sublinha.

Prevenção

Para evitar a contaminação, autoridades de saúde têm recomendado em todo o mundo que as pessoas limpem constantemente as mãos e o rosto, adotem medidas que mudam radicalmente o cotidiano, como o afastamento das atividades coletivas e a reclusão em casa. “Muitas das coisas que se comentam em relação à Covid não tem comprovação científica até o momento, mas o distanciamento social e uso de máscara por todos, já têm. Sabemos que funciona, que reduz as taxas de propagação e isso significa menos doentes, menos mortes, menor chance de termos fechamento das atividades comerciais/serviços novamente e mais chances de termos controle da pandemia. Quem falha pode estar condenando não somente a si, mas aos outros. Ninguém tem direito de comprometer a saúde de outrem”, ressalta o cardiologista e presidente da Associação Médica de Bento Gonçalves, Fernando Tormem.

Foto: Arquivo pessoal

“Não colaborar, além do risco à saúde pública, é um desrespeito aos doentes e profissionais que estão lutando pela saúde, sua ou do próximo”, Fernando Tormem
Presidente da Associação Médica de Bento Gonçalves

Questionado se acredita que a falta de conscientização brasileira ou a existência dela é uma questão cultural, Tormem afirma que “quando nos comparamos a outros países, percebemos que temos dificuldade em obedecer a regras e horários”, e acrescenta: “muitas vezes colocamos nosso bem estar individual acima do coletivo mais do que deveríamos. As pessoas pensam ‘se eu não usar mascara sou só um, não faz diferença’. Mas faz. Os resultados vêm quando todos fazem a sua parte. Não colaborar, além do risco à saúde pública, é um desrespeito aos doentes e profissionais que estão lutando pela saúde, sua ou do próximo”, assegura.

Opinião de um morador

O morador do bairro Progresso e engenheiro mecânico, Willames Tenório Costa, 29 anos, comenta que a prática é muito diferente da teoria. “Até assimilarmos que o vírus hoje está no ‘nosso quintal’ é um processo que vai levar, talvez, mais algum tempo. Essa novidade toda está difícil de absorver. As pessoas estão em um processo de conscientização, de maneira imposta, às vezes. Temos que nos ambientar e nos acostumar à essa nova rotina, e à medida que o tempo for passando, vamos entendendo a gravidade e as precauções que devemos tomar”, observa.

Foto: Arquivo pessoal