Acreditando que vendas externas serão as últimas na ordem de retomada, lideranças do setor estimam que algumas indústrias moveleiras poderão ter queda de até 80% na produção
Bento Gonçalves, a Capital Nacional da Uva e Vinho, é referência pela sua produção de vinhos, espumantes e suco de uva, além de ser destino turístico escolhido por milhares de pessoas durante o ano. Porém, não é somente este segmento que representa uma fatia da economia bento-gonçalvense. O polo moveleiro, de acordo com dados do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), inclui cerca de 300 indústrias das cidades de Bento, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, que já sentiu os efeitos da pandemia do coronavírus. Quando se fala em exportação, os dados do primeiro trimestre não são muito animadores. De acordo com a entidade, houve uma queda nas exportações e os valores exportados são baixos. Dados levantados pelo Semanário estimam que com o corona houveram 2.600 demissões nas empresas de Bento e que em torno de 40% a 50% das empresas aderiram a redução da jornada de trabalho.
Atualmente, os dez maiores compradores de móveis do polo moveleiro, são: Uruguai, Peru, Estados Unidos, Colômbia, Reino Unido, Chile, México, Porto Rico, Paraguai e Panamá. De acordo com o presidente do Sindmóveis, Vinícius Benini, havia a previsão de que os choques de oferta e demanda causados pelo coronavírus na economia mundial impactaria fortemente nas exportações de móveis e de toda indústria brasileira. “A queda das exportações já passa de 15% entre janeiro e abril e os valores exportados realmente estão em níveis baixíssimos. As transações internacionais deverão ser o último estágio de retomada do setor, possivelmente só no fim desse ano ou a partir de 2021”, avalia.
Quem concorda com esta opinião é o dirigente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), Rogério Francio. Ele pondera que quando se fala em exportação, elas refletem, também, o momento que está sendo vivenciado, justamente pelo fechamento de muitas fronteiras e também a redução de voos. “Os únicos que continuam exportando são aqueles que vendem pelo e-commerce, mas, ainda assim, depende o país, em função das fronteiras. De acordo com dados da Apex, em comparação a 2019, no mês de abril, a queda nas exportações no Rio Grande do Sul representou 43%, enquanto no acumulado de janeiro a abril as perdas chegaram a 16,7%”, revela.
A situação do setor já não era a ideal: dificuldades na recuperação da crise devido à baixa atividade econômica, não registrando crescimento em 2018 e 2019. Agora, que tudo dava sinais de retomada, chega uma nova preocupação: a pandemia, que afetou a economia mundial. Se tratando do segmento, os resultados de exportação do primeiro trimestre de 2020 já mostram o impacto da crise do coronavírus. “Temos uma queda de 3,3% no faturamento e do polo moveleiro. O desempenho era positivo quando avaliamos apenas os meses de janeiro e fevereiro e, antes da crise, a projeção era de crescimento nesse ano. O mês de março iniciou uma série negativa que deve perdurar mais um tempo. Ainda não temos os dados de abril, mas, infelizmente, tende a ser um dos piores senão o pior mês da indústria”, pontua Benini.
Cenário
Economicamente, segundo Benini, o cenário ainda é muito incerto, mas é esperada uma queda em torno de 50% no bimestre março e abril. “Dependendo da duração da crise, das ações de restrições de circulação de pessoas, fechamento do comércio e indústria e os efeitos das medidas econômicas, o impacto pode variar. De qualquer modo, os efeitos serão sentidos pelo menos até o final do ano”, salienta. O dirigente ainda revela que já há algumas estimativas de consultorias e institutos econômicos de queda de mais de 5% no PIB do Brasil, e de 16% na produção de bens duráveis. “O setor moveleiro deve ser um dos mais impactados, com um cenário de perdas reais entre 10% a 20%. Algumas indústrias podem chegar a uma queda de 80% na produção”, lamenta.
Francio diz que, sem dúvida, as perdas são inevitáveis, visto que indústrias tiveram que fechar as portas por um período, em respeito aos decretos estadual e municipais. “Em recente levantamento que a Movergs realizou com algumas empresas, no mês de abril, verificamos que a estimativa era de que entre os meses de março e abril as perdas poderiam atingir 80% do faturamento das indústrias. Em se tratando de demissões, a estimativa da maioria era de que a redução no quadro de funcionários poderia ser de até 30%”, relata.
A presidente da Abimóvel, Maristela Cusin Longhi, pontua que o setor moveleiro é a 8º cadeia produtiva que mais emprega no país e que, antes da pandemia, eram 270 mil empregos diretos no segmento. “Pelas estimativas da indústria, até o final de abril, o setor tinha cerca de 13 mil desempregados, ou seja, 5% do contingente de trabalhadores do setor. Esse número tende a se agravar se não houver uma rápida reconquista da economia, se o comércio não retomar urgentemente, se não for proposto instrumentos e linhas de crédito à disposição principalmente das micro, pequenas e médias empresas em concomitante, ao auxílio para o pagamento da folha dessas empresas; assim como, o governo criou medidas e alternativas, para diminuir os custos trabalhistas, evitando demissões”, avalia.