O Brasil já precisa lidar com alguns sinais bastante evidentes de subdesenvolvimento no campo da saúde, como os frequentes surtos de doenças transmitidas por mosquitos e que um dia já estiveram sob controle no país. Agora, tem de conviver também com a volta de outras doenças que já tinham sido erradicadas graças a bem-sucedidos programas de vacinação. O sarampo, por exemplo, já assusta várias regiões brasileiras, com epidemias na Região Norte e casos isolados em outros estados das regiões Sul e Sudeste. E a poliomielite, da qual o país não registra um caso sequer desde 1989, também preocupa a ponto de o Ministério da Saúde ter emitido um alerta no início de julho do ano passado.
Nos dois casos, a raiz do problema está na baixa cobertura das vacinas para ambas as doenças. A meta nacional é de manter uma taxa de imunização de 95%, mas ela está em queda livre, rondando os 60% tanto para a pólio quanto para a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba. Uma verdadeira crise de saúde pública, que mistura falta de investimentos, restrições ao acesso à vacina, relaxamento e uma boa quantidade de ignorância.
Hoje parece que a gente não faz ideia de quão cruéis eram algumas moléstias. E mal podemos imaginar a dor de perder nossos filhos para enfermidades que atualmente são passíveis de prevenção por meio de imunizantes. Quem é que morre de caxumba hoje em dia? Graças às vacinas, doenças terríveis e altamente contagiosas foram quase erradicadas. Algumas, como a varíola, de fato sumiram do mapa.
Como explicar, então, que existam grupos professando religiosamente um movimento contra a vacinação? Como entender que temos por aí famílias que deliberadamente escolhem não vacinar seus filhos contra males potencialmente letais e capazes de deixar sequelas? Pois é, o movimento antivacina vem crescendo no mundo todo, inclusive no Brasil. Justo em nosso país, que sempre foi exemplo internacional de um modelo de vacinação pública.
As pessoas esqueceram como era viver sem vacinas e que, graças a elas, vencemos várias infecções
Podemos nos estender nos exemplos e falar também de tuberculose, catapora, caxumba, hepatite B e difteria, que foram controladas com vacinas eficazes, mas que acometeram e mataram milhares de pessoas em um passado não tão distante. As vacinas nos protegem contra doenças terríveis, capazes de causar sofrimentos, sequelas e mortes. Esse fato não pode ser refutado. Há 60 anos as vacinas têm se mostrado eficazes e seguras.
Os imunizantes parecem hoje ser vítimas do seu próprio sucesso. As pessoas esqueceram como era viver sem vacinas e que, graças a elas, vencemos várias infecções. Lembre-se que, antes desse progresso da medicina, uma em cada cinco crianças perdia a vida. O mundo antes das vacinas não me parece um local muito alentador. Eu não gostaria de voltar para lá.
Pensando nisso, a Câmara dos Deputados aprovou, há pouco mais de um mês, um projeto que prevê a prisão de quem deixar de vacinar criança ou adolescente. A medida trata de uma mudança no Código Penal e precisa ainda passar pela Comissão de Constituição e Justiça, para depois ir ao plenário da Casa. A medida parece ter peso desmedido, mas casos excepcionais requerem atitudes à altura, uma vez que a decisão de não imunizar crianças e adolescentes coloca em risco todos a sua volta, e isso precisa ser encarado com muita seriedade.
Vale lembrar que as vacinas são feitas com microrganismos da própria doença que previne. Por exemplo: a vacina contra o sarampo contém o vírus do sarampo. No entanto, estes microrganismos estão enfraquecidos ou mortos, fazendo com que o corpo não desenvolva a doença, mas se torne preparado para combatê-la se for necessário. Não caia em boataria. Na dúvida, procure profissionais da área de saúde ou próximos mais instruídos, mas em hipótese alguma deixe de imunizar seus filhos. O futuro agradece.