Duzentos casos. Esse é o número de ocorrências de câncer de mama diagnosticados na região de atendimento do Hospital Tacchini somente em 2017. Desses, 67 foram em Bento. Mas quando se fala da doença, as pessoas mais jovens, geralmente, tendem a ficar despreocupadas, pois ela é mais comum a partir dos 50 anos. Porém, uma pesquisa da casa de saúde aponta que um terço dos diagnósticos foram em mulheres abaixo dessa idade.
Há dois anos, Vanessa Cavaleri, 39 anos, descobriu um nódulo enquanto tomava banho. Em uma semana, ela notou que a “bolinha” que tinha sentido estava crescendo. Então, procurou um ginecologista, que solicitou alguns exames. Logo ela estava em frente a uma mastologista, que marcou a cirurgia para a semana seguinte. “Semanas depois estava no hospital em frente a um oncologista. Foi tudo muito rápido, pois meu câncer era extremamente agressivo”, lembra.
Sem ter tempo para processar a informação de que ela tinha uma doença tão agressiva, Vanessa já estava sendo encaminhada para quimioterapia. Vaidosa, antes de começar o tratamento, ela mandou fazer uma peruca com cabelo natural. “Na segunda sessão, meus pelos começaram a cair. Então eu liguei para minha prima que tem salão e pedi para raspar minha cabeça”, destaca.
Mesmo com as dificuldades encontradas durante o tratamento, ela não se entregou, continuou com sua rotina. Mas a história de superação não para por aí. A filha menor cresceu vendo a mãe em hospitais, pois dias depois do parto, Vanessa teve dois Acidentes Vascular Cerebral (AVC), que lhe renderam um mês no hospital e seis de fisioterapia para recuperar os movimentos perdidos. “Fiquei com o lado direito comprometido, até hoje não consigo escrever”, comenta. A força? Ela diz que veio dos filhos, Betina e Eduardo, 4 e 15 anos.
Ela afirma que sempre procurou se manter motivada. Depois das quimioterapias, vieram as radioterapias. Da cirurgia até o final do tratamento, foram oito meses. Livre do câncer, Vanessa resolveu celebrar. Do vinícola da família saiu o rótulo La Vie, que significa vida e marca o renascimento da mulher.
A força do ânimo
A assistente social Lia Gonçalves Alves, de 56 anos, foi diagnosticada com câncer de mama neste ano e está em fase de tratamento com quimioterapia. Ela descobriu o nódulo já no estágio três (a escala vai até cinco), com o autoexame. Poderia, talvez, ter identificado a doença ainda antes, mas pulou a mamografia em um ano. “A rotina nos rouba o tempo e, quando a gente percebe, passou”, conta. Hoje, ela está determinada a vencer a doença e tem na força de espírito um dos grandes aliados para potencializar o tratamento. “Eu decidi que não ia me entregar e nem me deixar abater. O câncer é só mais um desafio a vencer, uma doença a ser tratada e curada”, garante.
Para focar no tratamento, deu uma pausa na carreira e passou a priorizar a saúde. Buscou a Liga de Combate ao Câncer e encontrou ali uma rede de apoio importante para lhe amparar neste momento da vida. “Participo de um grupo que troca experiências, que fala sobre a doença, que une as mulheres que estão passando por essa situação. Uma entende e ajuda a outra. Para mim, faz a diferença”, diz. E compartilha um conselho importante para aquelas que foram diagnosticadas e estão em tratamento contra a doença: “Tenha coragem e enfrente, essa é só mais uma provação que você precisa encarar e vencer na vida”.
Uma em cada 12 mulheres terá a doença
O ‘Outubro Rosa’ chama a atenção de mulheres ao redor de todo o mundo a respeito da importância do autocuidado, do diagnóstico e tratamentos precoces para vencer a doença que, somente em 2019, deve atingir 60 mil novas pacientes, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Uma em cada 12 mulheres terá algum tipo de tumor na mama até completar 90 anos de idade, conforme aponta a Sociedade Brasileira de Mastologia.
O câncer de mama é uma doença altamente curável – principalmente quando detectado em seus estágios iniciais e rapidamente tratado. Sabe-se que outros fatores, além do diagnóstico precoce, ajudam nessa batalha pela vida. Cultivar hábitos saudáveis é um deles. “Agregamos um importante argumento aos trabalhos de conscientização do Outubro Rosa: precisamos mostrar às pessoas que o estilo de vida está diretamente ligado ao câncer”, explica a presidente da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, Maria Lúcia Gava Severa.
Ainda em 2016, o INCA publicou um dado impressionante: cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com mudanças na rotina. É verdade que a genética tem um papel determinante sobre a ocorrência ou não de câncer no indivíduo – mas muito pode ser feito para ajudar o organismo. “É fundamental começar a cultivar um estilo de vida saudável desde cedo. Mas igualmente importante é romper o ciclo, revisar e mudar hábitos. Nunca é tarde para cuidar da saúde”, garante Maria Lúcia.
Fotos: arquivo pessoal